Chegará o dia em que nunca mais ouviremos de que no Brasil uma mulher carrega sequelas gravíssimas ou morre por causa da violência doméstica. Que é ‘apagada’ em praça pública por ser transgênero. Desvalorizada no mercado de trabalho. Abandonada pelo marido e sem amparo financeiro para cuidar dos filhos. Importunada sexualmente no transporte público. Ofendida por seus posicionamentos políticos. Humilhada por sua cor…
Chegará o dia em que ser mulher no Brasil não machucará mais. Não será mais perigoso nascer mulher por aqui. Nesse dia, deixaremos de ser estatística para assumir o nosso espaço por direito em uma nova sociedade. Uma sociedade sem diferenças, sem injustiças, tendo respeito e a igualdade como características marcantes dessa nova época.
Até lá, vamos agir. Por um Brasil mais acolhedor e seguro para meninas e mulheres, é preciso deixar de se sentir diminuída, interrompida, calada e com medo. É preciso acreditar em si, na força e na superação, que são as principais definições da mulher brasileira. Não se pode mais viver com a dor do assassinato de 13 mulheres por dia só por serem mulheres. Com a dor de que a cada 7 segundos uma sofre violência doméstica, que, se não mata, muitas vezes deixa sequelas irreversíveis.
Não se pode ter paz de espírito quando sabemos que na cultura do estupro uma mulher é vítima de assédio a cada segundo, que 50 mil são violentadas sexualmente por ano e 10 estupros coletivos ocorrem por dia. E, acreditem, os crimes são bem mais numerosos do que esses, já que muitas ocorrências sequer são comunicadas à polícia. E se for negra, embora estejamos no século 21, essa mulher ainda sofre os efeitos sociais de uma inconclusa abolição da escravatura.
Para aumentar a segurança e coibir a violência contra a mulher, três projetos de nosso mandato já resultaram em leis. Uma delas destina 5% das verbas do Fundo Nacional de Segurança Pública (FNSP) para ações de combate à violência feminina e campanhas de orientação. Outra lei criminaliza a importunação sexual, com até 5 anos de cadeia; e por fim, a lei que determina que o profissional de Saúde comunique, em até 24 horas, as autoridades policiais os indícios e casos de violência contra a mulher, para que se possa agir com rapidez para mapear a área do crime e prender o agressor. Há tantas outras propostas eficientes tramitando no Congresso para dar fim a esse pesadelo. Entretanto, ainda precisamos de mais mecanismos para mudar nossa triste realidade.
O Brasil é feminino. Ninguém duvida disso. Somos maioria (51,15%) da população, mas pouco reconhecidas e valorizadas no mercado de trabalho. Muitas ganham 20% menos do que os homens, mesmo quando se comparam trabalhadores de mesma escolaridade, idade e categoria de ocupação. É como se a cada ano a mulher trabalhasse 74 dias de graça, mostram os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio do IBGE. Ocupamos tão somente 16,5% dos cargos nos conselhos de administração das empresas listadas no Índice Brasil 100. Quanto a esse quadro, estamos, via projeto de lei, dando importante passo para que pelo menos 50% das vagas nos conselhos de companhias estatais e mistas sejam reservadas para as mulheres.
Somos maioria do eleitorado (52,65%), o que nos torna determinantes nas eleições do país. E, embora hoje ainda sejamos minoria no poder, não tardará a conquista dessa paridade de gênero nos espaços públicos, porque estamos empenhadas na formação e qualificação de lideranças femininas na política.
Enfim, chegará o dia em que não mais teremos de enfrentar desigualdade nas tarefas domésticas, nos salários, nos espaços de poder e no acúmulo de jornadas. Nesse dia, deixará de existir o machismo estrutural que machuca as mulheres.
Que o 8 de março deste 2023 seja o marco do descruzar os braços e darmos as mãos! Com a mobilização de homens, mulheres, trans, filhos, brancos, negros, indígenas, profissionais, políticos, estudantes, religiosos, enfim, todos os brasileiros chegaremos à igualdade de fato, conforme determina a Constituição Federal. E quando esse dia chegar, vamos parar o Brasil e festejar a grande transformação da nossa sociedade.
Por Renata Abreu, ela é deputada federal por São Paulo e presidente nacional do Podemos