A defesa do presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, fez mais um pedido ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes para voltar a ter contato com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O recurso, proposto no último dia 24, solicita que ambos possam voltar a trabalhar no mesmo ambiente, além de se encontrar e fazer reuniões às vésperas das eleições municipais. A medida foi imposta pelo magistrado após a realização de operação que apura a arquitetura de um plano de Golpe de Estado em 2022.
O agravo regimental é considerado uma “última cartada” do PL junto a Moraes. Caso o recurso seja negado, a estratégia da defesa será a de solicitar uma decisão do colegiado — atualmente, o impedimento de contato com Bolsonaro se dá por uma decisão monocrática do ministro.
Valdemar também pede a devolução do seu passaporte, assim como os computadores do PL, apreendidos em fevereiro pela Polícia Federal. O presidente do PL argumenta que colabora com o Judiciário e prestou depoimento à PF. Ele nega envolvimento na trama golpista.
Outros itens apreendidos pela PF na casa de Valdemar não serão requisitados. Também foram apreendidos uma pepita de 39 gramas de ouro, dois relógios de luxo (das marcas Rolex e Bulgari), além de cadernos de anotações e uma arma que estava com registro irregular, em nome do filho dele. Para os advogados do chefe do PL, é necessário separar os requerimentos relativos à vida partidária dos seus bens materiais.
Valdemar falou ao jornal O Globo sobre o pedido ao ministro do STF.
— Não há motivos para que eu e Bolsonaro não possamos nos falar neste momento. As eleições estão batendo à porta e as decisões do partido estão sendo dificultadas pela impossibilidade de diálogo. Hoje, temos dificuldades para rever dados do partido que estavam em computadores apreendidos, por exemplo. Os computadores já estão com a PF há um bom tempo — disse.
Bolsonaro, Valdemar e o general Walter Braga Netto faziam reuniões semanais com integrantes do partido, como presidentes de diretórios estaduais, advogados e demais correligionários para definir as estratégias do PL.
O grupo trabalhava para lançar 3 mil candidatos às prefeituras do país, com metas como conseguir pelo menos 150 prefeituras em São Paulo.
Os três nomes do PL são alvos da Polícia Federal no inquérito que investiga a suposta trama golpista para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva — todos negam participação.
Desde então, Valdemar e Bolsonaro têm recorrido a “táticas” para não se encontrar na sede do PL, em Brasília. Valdemar chegou a despachar de uma sala no térreo do prédio em que fica a sede, mas desistiu semanas depois. Em eventos do PL, os dois têm mantido a estratégia de não se esbarrar, alternando horários.
Por meio dos seus assessores, tanto Valdemar quanto Bolsonaro avisam quando saem de casa em direção ao local de trabalho. No estacionamento do edifício e nos corredores, seguranças ficam de prontidão com a missão de avisar quando um deles entra ou sai. Até mesmo as saídas para refeições se tornaram uma preocupação. Por ordem de Valdemar, todas as imagens de segurança do prédio em que trabalham estão sendo armazenadas, como forma de blindagem em relação a possíveis suspeitas de encontros.
Entretanto, não é apenas o risco de encontros que tem gerado desconfortos no partido: o fluxo de decisões também se tornou mais lento, e toda discordância precisa de uma mediação por meio de pessoas designadas para fazer um “leva e traz”.