Nesta quinta-feira (12), Valdemar Costa Neto, presidente do PL, e Marcelo Câmara, ex-assessor do ex-presidente Jair Bolsonaro, prestarão depoimento à Polícia Federal (PF) em Brasília. Ambos são indiciados no inquérito que investiga a organização de um golpe de Estado no país para impedir a posso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, eleito em outubro de 2022.
Valdemar e Marcelo Câmara são dois dos 40 políticos, militares e servidores públicos indiciados pela Polícia Federal nesse caso.
Segundo o relatório da PF, Valdemar Costa Neto é acusado de apoiar e financiar questionamentos à integridade das urnas eletrônicas e teve um papel central na propagação de dúvidas sobre o sistema eleitoral.
Já Marcelo Câmara, coronel da reserva, é apontado como um dos principais disseminadores de narrativas golpistas e participante ativo nas articulações para reverter os resultados das eleições de 2022.
O indiciamento pela PF indica que a corporação viu fatos suficientes para considerar a participação de Bolsonaro e seus ex-auxiliares na trama golpista.
O relatório com os indiciamentos foi apresentado ao Supremo Tribunal Federal (STF), e o ministro relator do caso, Alexandre de Moraes, deve enviar o material para análise da Procuradoria-Geral da República (PGR).
Se a PGR entender que há elementos suficientes, poderá oferecer uma denúncia à Justiça contra os envolvidos. Caso a denúncia seja acolhida pelo STF, Bolsonaro e seus auxiliares se tornarão réus.
Mais três indiciados
Inicialmente, a PF havia indiciado 37 pessoas. Nesta quarta, anunciou o indiciamento de mais três, todos militares.
- Aparecido Andrade Portella — suplente da senadora Teresa Cristina (PL-MS), que foi ministra da Agricultura no governo Jair Bolsonaro.
- Reginaldo Vieira de Abreu
- Rodrigo Bezerra de Azevedo
Entenda a participação de cada um, segundo a PF:
Aparecido Andrade Portela
Aparecido Andrade Portela, militar da reserva e suplente da senadora Tereza Cristina (PL-MS), é acusado pela Polícia Federal de ser um intermediário entre o governo de Jair Bolsonaro e financiadores das manifestações antidemocráticas. Ele visitou o Palácio da Alvorada ao menos 13 vezes em dezembro de 2022, reforçando sua proximidade com Bolsonaro, com quem serviu em Nioaque (MS) nos anos 1970.
Portela utilizava o codinome “churrasco” em mensagens trocadas com Mauro Cid para se referir ao golpe de Estado. Ele mencionou que financiadores estavam cobrando a execução da “ruptura institucional” após contribuírem com recursos, referindo-se a esses valores como “colaboração da carne”. Além de arrecadar fundos, Portela sugeria estratégias de atuação para o movimento golpista e demonstrava preocupação em não ser identificado como organizador dos atos criminosos de 8 de janeiro de 2023.
Mensagens enviadas a Mauro Cid incluem prints de publicações pedindo informações sobre golpistas, evidenciando seu receio. Ao ser ouvido pela PF, Portela exerceu o direito ao silêncio. No entanto, os investigadores destacam que suas mensagens e visitas frequentes ao Palácio da Alvorada indicam sua participação ativa na organização dos atos golpistas.
Reginaldo Vieira de Abreu
Reginaldo Vieira de Abreu, coronel do Exército e chefe de gabinete do então secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência, Mário Fernandes, é acusado de disseminar desinformação sobre o sistema eleitoral. Ele chegou a levar um hacker à sede da PF em Brasília para tentar formalizar denúncias falsas contra as urnas eletrônicas.
A investigação aponta que Vieira manipulou relatórios das Forças Armadas para alinhá-los com as informações falsas divulgadas pelo argentino Fernando Cerimedo. Ele usava o termo “rataria” para referir-se aos participantes das reuniões clandestinas e defendia que o relatório fosse “no mínimo, alinhado” com as mentiras divulgadas. Vieira também teria repassado informações sobre o deslocamento do ministro Gilmar Mendes em novembro de 2022, período em que foi elaborada a minuta do golpe que previa a prisão do ministro.
A PF identificou que Vieira imprimiu um documento intitulado “Gabinete de Crise” no Palácio do Planalto, que seria utilizado para assessorar Bolsonaro após a concretização do golpe. Como Portela, Vieira optou por permanecer em silêncio durante seu depoimento.
Rodrigo Bezerra de Azevedo
Rodrigo Bezerra de Azevedo, major do Exército e integrante do Comando de Operações Especiais (Copesp), é acusado de integrar o núcleo operacional do plano de assassinato do ministro Alexandre de Moraes. O codinome “Brasil” foi associado a um número de telefone que ele utilizava para ações clandestinas.
A análise de dados telefônicos revelou que aparelhos vinculados ao codinome “Brasil” estavam próximos à residência de Azevedo em Goiânia após a data da tentativa de assassinato, evidenciando sua conexão com a operação criminosa. Ele admitiu ter utilizado celulares e chips anonimizados, prática comum em missões sensíveis do Exército.
A PF encontrou ligações feitas por Azevedo para contas bancárias abertas fraudulentamente em nome de terceiros. Um desses números estava cadastrado no aplicativo Signal no celular do general Mário Fernandes, evidenciando vínculos com outros integrantes da organização criminosa. Azevedo alega que o celular usado na ação foi encontrado em uma sala do Copesp e que ele o utilizou sem saber de seu envolvimento anterior. Ele afirmou que o dispositivo quebrou em 2023 e foi descartado, mas a PF considera que as evidências demonstram seu envolvimento direto no plano golpista.