O presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, deve se reunir no começo de agosto segundo a coluna de Malu Gaspar, do O Globo, com o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), relator dos principais inquéritos que vêm fechando o cerco contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e aliados.
A agenda foi intermediada pelo ex-presidente Michel Temer (MDB), responsável pela indicação de Moraes ao Supremo em 2017.
Segundo a equipe da coluna apurou, um dos principais temas que devem ser discutidos no encontro entre o ministro e Valdemar é a decisão do magistrado de proibi-lo de manter contato com Bolsonaro, em vigor desde fevereiro deste ano.
Para Valdemar, a manutenção da decisão com a proximidade das eleições municipais inviabiliza as costuras políticas do PL, que tem no ex-presidente seu principal cabo eleitoral.
Antes da operação Tempus Veritatis da Polícia Federal, que mirou Bolsonaro, Valdemar e outros aliados apontados pelas investigações como integrantes de uma trama golpista para impedir a posse de Lula, o dirigente partidário tinha o objetivo de eleger mais de mil prefeitos nas eleições de outubro.
Até o momento, os dois têm utilizado parlamentares do PL como intermediários para trocar informações sobre assuntos da agenda partidária, como as definições das chapas.
Valdemar foi alvo da operação porque a PF viu elementos de que a estrutura do partido foi usada para ajudar na confecção da minuta golpista que implementaria um golpe contra Lula – e o procurador-geral da República, Paulo Gonet, informou haver indícios da participação de Valdemar no “sistema delituoso que se apura”.
Ele chegou a ser preso na ocasião por porte ilegal de arma de fogo e foi solto três dias depois. Mas está desde então impedido de entrar em contato com Bolsonaro, que mantém um escritório na sede nacional do PL em Brasília, assim como o dirigente.
Conforme informou a equipe do blog em junho, as restrições judiciais levaram os dois a adotarem uma escala de trabalho alternada para evitar que estejam no mesmo ambiente.
As salas de Valdemar e de Bolsonaro ficam no mesmo andar de um centro empresarial no centro de Brasília, mas possuem entradas diferentes. É como se fossem duas propriedades diferentes no mesmo andar, sem nenhum tipo de comunicação entre os dois ambientes.
Mesmo assim, Valdemar e Bolsonaro têm buscado se revezar nas idas aos seus respectivos escritórios, para impedir o risco de se encontrarem por acaso na garagem ou no elevador e serem flagrados por alguma câmera ou testemunha.
Quando os dois são obrigados a cumprir algum compromisso por ali no mesmo dia, porém, o PL tem que improvisar.
Na ocasião, a equipe da coluna apurou que Valdemar já foi obrigado a alugar uma sala em um outro prédio do mesmo centro empresarial, quando soube que Bolsonaro estava despachando no escritório.
O presidente do PL também procurou chegar mais cedo nas manifestações pró-Bolsonaro na Avenida Paulista, em São Paulo, e na Praia de Copacabana, no Rio, realizadas no primeiro semestre. Após cumprimentar aliados, ele deixou o local antes da chegada do ex-ocupante do Palácio do Planalto.
Articulação de Temer
A costura para uma agenda entre Valdemar e Alexandre de Moraes, tido pelos bolsonaristas como inimigo, coube a Michel Temer. Mas não é a primeira vez que o ex-presidente articula a favor de investigados.
Como publicamos no blog em março do ano passado, Temer atuou para que Moraes suspendesse o afastamento do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), do cargo por omissão diante da intentona bolsonarista em Brasília em 8 de janeiro de 2023, que culminou invasão das sedes dos Três Poderes por golpistas.
Inicialmente afastado por 90 dias, Ibaneis voltou ao comando do Palácio do Buriti 66 dias após a decisão do ministro do Supremo, assinada no fim da noite dos ataques.
Além de filiados ao MDB, tanto Temer quanto o governador são advogados. Na ocasião, um parlamentar influente da bancada do partido resumiu a articulação do ex-presidente: “companheiro ajuda companheiro”.
Em setembro de 2021, Michel Temer também intermediou uma conversa entre Alexandre de Moraes e outro político encrencado: o então presidente Bolsonaro, que havia ameaçado o Supremo e xingado o ministro no feriado da independência daquele ano diante de multidões em Brasília e São Paulo.
Na época, o próprio Temer relatou à imprensa ter intermediado uma conversa telefônica entre Bolsonaro e Alexandre de Moraes.
Os dois ex-presidentes da República mantêm uma relação de proximidade. Temer, que passou a faixa para Bolsonaro, disse à Revista Época em 2018 ter votado nele para sucedê-lo no Planalto.
Em 2020, chegou a ser nomeado por Bolsonaro como chefe de uma missão humanitária do Brasil no Líbano, onde centenas de pessoas morreram e milhares foram feridas por uma explosão acidental de proporções gigantescas na capital, Beirute.
Como se vê a partir da articulação para que Valdemar se encontre com Alexandre de Moraes, Temer segue plenamente engajado em prestar favores a Bolsonaro.