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sexta-feira 16 de abril de 2021 às 10:30h

Vacinados ainda podem transmitir o vírus e adoecer, mas têm risco muito menor de morte

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As vacinas contra a Covid-19 aprovadas para aplicação na população são seguras e eficazes para proteger quem as recebe –os estudos clínicos realizados com milhares de pessoas, usando públicos diferentes, comprovaram isso e foram a base para a liberação do uso dos imunizantes.

Segundo a Folha de S. Paulo, grupos de cientistas monitoram constantemente os efeitos das substâncias e emitem alertas caso as vacinas ofereçam algum risco.

Por que, então, algumas pessoas morrem com a doença mesmo após as injeções?

Em primeiro lugar, as vacinas não garantem 100% de eficácia contra o coronavírus Sars-CoV-2, como qualquer tratamento de saúde. Conforme aumenta o número de vacinados no país, surgem relatos de pessoas que receberam o imunizante e pegaram a doença logo depois, chegando a desenvolver a Covid-19 na forma grave e até morrendo por complicações da doença.

Um caso que chamou a atenção nos últimos dias foi o do cantor Agnaldo Timóteo. O artista foi internado com a Covid-19 dois dias depois de ter tomado a segunda dose da vacina, o que indica que a infecção pode ter acontecido entre as duas injeções, quando a proteção ainda não está completa. O cantor morreu no dia 3 de abril aos 84 anos de idade.

Para ter efeito no organismo, a substância precisa de pelo menos 14 dias após a segunda dose para se estabelecer (quando o imunizante é aplicado em duas injeções). Mesmo com a imunização completa, a alta circulação do vírus no Brasil e as novas variantes, ainda pouco estudadas, fazem o risco de infecção crescer, apesar das vacinas.

É importante lembrar que as vacinas não causam a doença. Elas carregam um antígeno, um pedacinho do vírus ou o vírus inteiro inativado –incapaz de gerar infecção– que aciona nosso sistema imunológico para criar barreiras contra o vírus verdadeiro. Sintomas como febre e dores após a vacinação são comuns e indicam que o sistema imunológico está trabalhando.

“Os estudos contam com milhares de participantes, mas quando começo a aplicar a vacina em milhões de pessoas, vão aparecer aqueles que desenvolvem a doença grave. O que os estudos dizem e o que vemos é que quem recebe a vacina tem um risco menor de adoecer”, afirma Sonia Raboni, infectologista do Complexo Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR/Ebserh).

Pessoas mais velhas e com algumas comorbidades não fazem parte dos primeiros grupos a entrarem nos estudos com as vacinas. Geralmente, são incluídos depois e em menor número. Segundo Raboni, o grupo de pessoas mais velhas, que têm um sistema imune mais debilitado, pode ter respostas mais fracas à vacina.

De acordo com Ethel Maciel, epidemiologista e professora na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), os estudos clínicos são feitos em ambientes mais controlados, com mais adultos saudáveis.

“Quando vamos para a vida real, temos pessoas com outras comorbidades e condições. Já esperávamos que essas pessoas poderiam se infectar. E agora precisamos de estudos que acompanhem o que acontece com essas pessoas”, afirma.

Maciel diz que ainda há poucos grupos acompanhando os efeitos das vacinas nos brasileiros. Segundo a epidemiologista, o Ministério da Saúde deveria oferecer financiamento para pesquisas que identifiquem as linhagens dos vírus que infectam as pessoas no país e as comorbidades de quem tomou o imunizante e mesmo assim adoeceu. Esse conhecimento vai ajudar a entender onde a vacina pode falhar e elaborar as soluções.

Hoje, temos pouco mais de 10% da população brasileira imunizada, e os números da Covid-19 no país mostram que o vírus circula livremente, fazendo mais vítimas do que nunca.
“Diante de um universo de dezenas de milhares de novos casos diários e do aumento gradual, ainda que lento, do percentual de indivíduos vacinados, é esperado que ocorra cada vez mais casos de infecção em vacinados”, afirma a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) em nota publicada em sua página de internet.

Para os especialistas, a vigilância dos cientistas sobre a dinâmica da doença e as medidas preventivas, como uso de máscara, o distanciamento social e a higiene das mãos, devem ser reforçadas agora. “As vacinas diminuem o risco, e os estudos mostram que as chances de desenvolver a doença grave depois de tomar o imunizante são bem menores, mas ainda temos poucos dados publicados”, diz Maciel.

“É incontestável que existe uma lacuna de dados em decorrência da necessidade de aprovar com agilidade as vacinas para a contenção da maior crise sanitária do século. Mas todas as notificações estão sendo acompanhadas e investigadas pela vigilância. Precisamos aguardar a publicação dos dados da avaliação da efetividade das vacinas na vida real e possíveis falhas vacinais”, concorda a nota da SBIm.

Em alguns organismos, essa proteção pode nunca ficar completa, por isso é importante ter o maior número de pessoas vacinadas para que a circulação do vírus diminua drasticamente e os riscos sejam menores para todos.

“Temos dois objetivos com as vacinas: primeiro, queremos diminuir os riscos de internação e óbitos. Outro objetivo é diminuir a transmissão, mas ainda não temos certeza se essas vacinas disponíveis fazem isso. Com essa capacidade, poderíamos chegar a uma imunidade coletiva, isto é, com mais pessoas imunizadas, cada vez menos pessoas vão adoecer”, diz Maura Salaroli, infectologista e gerente médica da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) do Hospital Sírio-Libanês.

Assim, até termos um bom número de pessoas vacinadas no país (alguns pesquisadores dizem que essa parcela precisa estar acima de 70% da população) e pudermos observar claramente os efeitos da campanha, todos os cuidados preventivos devem continuar em vigor.

“Nenhuma pandemia da história foi controlada sem isolamento social e quarentenas. Precisamos reduzir o contato entre as pessoas até que as vacinas cheguem à população e tenhamos um bom tratamento contra a doença”, diz a infectologista Sonia Raboni, da UFPR.

“Agora, a melhor vacina é a que chegar primeiro no braço do cidadão. No futuro, poderemos chegar à conclusão de que uma pode ser melhor do que a outra em alguns casos, mas agora todas são boas para a diminuição dos casos e mortes”, diz Salaroli, do Sírio-Libanês.
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PERGUNTAS E RESPOSTAS

O que fazer após tomar a primeira dose da vacina?

Aguardar a data da segunda dose mantendo os cuidados como máscara, distanciamento social e higiene das mãos.

O que fazer após receber a segunda dose da vacina?

Manter uso de máscara, distanciamento social e higiene das mãos até que uma boa parcela da população (pelo menos 50%) esteja devidamente imunizada e a circulação do vírus caia drasticamente. Quando isso acontecer, uma retomada mais ampla das atividades pode ser feita lentamente com segurança.

Posso ter Covid-19 após tomar a vacina?

Sim. Os estudos mostram que os vacinados têm muito menos chances de se infectar com o vírus, e quando isso acontece os sintomas são mais leves. Ainda assim, os pesquisadores não descartam casos graves ou mortes, mas esses são casos raros.

Posso transmitir o vírus após tomar a vacina?

Sim. É possível que a pessoa se infecte e tenha uma infecção mais leve ou sem sintomas. Isso indica que a transmissão ainda é possível, mesmo que em uma intensidade menor. Dados não conclusivos indicam que algumas vacinas podem barrar a transmissão em algum nível, o que é um boa notícia, mas ainda precisa ser confirmada.

Se eu não tiver nenhuma reação após tomar a vacina, significa que ela não funcionou?

Não. Cada organismo responde de maneira diferente ao imunizante. Mesmo sem ter efeitos comuns como febre e dores, a vacina pode funcionar.

Posso fazer algum teste para saber se a vacina funcionou?

Não. O teste rápido (sorológico), que mede anticorpos contra o vírus e pode ser comprado em farmácia, ainda fornece resultados muito frágeis. Além disso, nossa resposta imunológica não é formada só por anticorpos, há outras moléculas que nos protegem e que não são detectadas com testes simples, diz Maura Salaroli, infectologista do Hospital Sírio-Libanês.

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