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sexta-feira 25 de dezembro de 2020 às 09:24h

Vacinação no Brasil contra Covid-19 segue indefinida ao contrário da Argentina e Chile; saiba os motivo

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Enquanto países vizinhos, como Argentina e Chile, anunciam o início da vacinação contra a covid-19 para os próximos dias, o Brasil vive a incerteza da previsão de uma data para a campanha de imunização, que só deve começar em 2021. Ainda assim, segundo o jornal Correio Braziliense, o governo federal não crava uma data para que a população comece a receber a tão esperada vacina. Conhecido por ser um especialista em logística, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, justificou que “o cronograma de distribuição e imunização é mutável”. Para especialistas, a indefinição do começo da vacinação é consequência da falta de uma política nacional de combate ao novo coronavírus.

“Tudo que estamos vivendo em relação ao fato de não conseguir definir quando começa um plano nacional de imunização é porque o Brasil nunca teve uma política nacional de enfrentamento à covid-19. Nunca se fez um planejamento das ações necessárias para este combate. Como não temos essa política de enfrentamento à covid, quantos óbitos vamos ter até a vacina chegar?”, questionou o infectologista Leandro Machado.

Na quarta-feira, o ministro da Saúde reforçou que a previsão para o início da vacinação é mutável por conta das constantes mudanças de cenário. “Empresas que apresentam novas propostas, fabricação que é interrompida ou acelerada e registro na Anvisa”, enumerou Pazuello, para explicar a dificuldade em definir o calendário para a imunização em massa no país. O general ainda voltou a afirmar que, na melhor das hipóteses, a vacinação deve acontecer a partir de 20 de janeiro; na pior hipótese, segundo ele, fim de fevereiro.

Apesar de compreender as dificuldades na busca por uma vacina, a situação denota o atraso na saúde. Para Leandro Machado, “a impressão que (o governo) passa é de que se deixou correr solto o vírus no Brasil na expectativa de se infectar o maior número de pessoas possíveis e só, aí, conseguir a imunidade para controlar o vírus. Mas, para isso acontecer, precisaríamos de 60% a 70% de pessoas infectadas; além de aceitar um número muito grande de óbitos”.

As declarações do presidente Jair Bolsonaro corroboram com a percepção do especialista. Também na quarta, durante transmissão ao vivo em sua rede social, o mandatário afirmou para apoiadores em São Francisco do Sul (SC) que teve a “melhor vacina, o vírus”. Em seguida, acrescentou: “sem efeito colateral”. “As afirmações de Bolsonaro passam a impressão de que ele quer deixar a população se infectar. Para ele, parece que quem fica vivo está resistente e a vida segue”, ressaltou Machado.

O epidemiologista e professor em saúde coletiva da Universidade de Brasília (UnB) Jonas Brant também acredita que o governo federal deveria ter se antecipado na criação de um plano de imunização, até para que estados e municípios tivessem um período maior para se organizar. “As campanhas, apesar de serem construídas em uma diretriz nacional, cada município organiza a sua e planeja logística e recursos humanos. Então, é preciso instrumentar em nível local para que o município possa fazer isso e, ainda, capacitá-lo para realizar uma campanha”, pontuou.

Carregamento

Enquanto não se tem detalhes do calendário nacional de vacinação contra a covid-19, o estado de São Paulo mantém a previsão de 25 de janeiro para o início da imunização estadual. Ontem, a unidade federativa recebeu o quarto e maior lote da vacina CoronaVac, produzida pela empresa chinesa Sinovac e pelo Instituto Butantan. Foram enviadas da China 5,5 milhões de doses da vacina. Outros dois carregamentos devem desembarcar no Brasil na próxima semana, em 28 e 30 de dezembro, totalizando 10,8 milhões de doses em solo brasileiro ainda em 2020.

O Instituto Butantan anunciou, na quarta-feira, que a vacina desenvolvida em parceria com a farmacêutica Sinovac, da China, superou o índice mínimo de eficácia exigido pelas agências regulatórias — esta marca é de 50%. Nem o Butantan, nem o governo estadual, porém, apresentaram o percentual exato de eficácia do imunizante. Os dados oficiais do estudo também não foram mostrados. A justificativa foi a de que a Sinovac solicitou a base de dados para mais análises — trata-se da quarta vez que a apresentação dos resultados de eficácia é adiada.

Medidas restritivas para o fim de ano

Várias regiões do país aumentaram as normas de controle da pandemia em meio às confraternizações do fim de ano. Aeroportos e rodoviárias seguem com menos viagens do que o total registrado em fevereiro, mas o movimento aumentou em dezembro. Passa a valer de hoje a domingo, em São Paulo, a fase vermelha do plano de restrição no estado, e vai até domingo; além de 1º a 3 de janeiro.

Todas as regiões do estado estão em alerta, segundo o governo paulista devido à evolução de casos, internações e mortes em razão do novo coronavírus.

O estado do Rio entrou na zona de alto risco (bandeira vermelha) na classificação de risco para covid-19 elaborada pela Secretaria de Saúde. É a primeira vez que isso ocorre desde que o governo fluminense começou a fazer o monitoramento por meio do Mapa de Risco da Covid-19, em julho. Das nove regiões do estado, cinco estão classificadas com bandeira vermelha.

Outras unidades federativas também reforçaram as medidas restritivas. A Procuradoria-Geral de Santa Catarina informou que vai recorrer da determinação judicial que ordenou que o governo retome um grau anterior de restrições contra a covid-19. A determinação exige que sejam tomadas medidas mais rígidas em relação ao funcionamento de hotéis e pousadas, casas noturnas, cinemas, teatros e eventos sociais. O estado está em situação gravíssima, segundo a atualização do mapa de risco, divulgado pelo governo do estado, e todas as regiões estão em alerta vermelho para o novo coronavírus.

Segundo estimativa da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), o número de pessoas que usarão seus terminais durante as festas de fim de ano será 41% menor do que no ano passado.

Pouco ou quase nada

Para o infectologista José David Urbaez, diretor científico da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, as medidas restritivas tomadas para conter o avanço do vírus não serão efetivas. “Controlar a pandemia não é fazer decretos de fechamento de espaços por dois ou três dias, com focos tão erráticos e sem nenhum tipo de programação abrangente sobre toda a complexidade de uma situação tão grave como a que estamos vivendo”, aponta.

Os decretos são gestos “inócuos”, na opinião do especialista, pois sinalizam algum tipo de preocupação das autoridades locais, ao mesmo tempo em que apontam para um descaso sobre todas as medidas que deveriam ter sido tomadas há muito tempo. “Novamente se reduz a pandemia a uma questão naturalizada. Estamos com uma circulação enorme do vírus, temos um número extremamente preocupante de casos que merecem medidas e intervenções muito mais potentes, e uma política pública que realmente aponte para o controle desta pandemia”.

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