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sábado 13 de agosto de 2022 às 15:25h

Uso de redes sociais pode explicar sentimentos de ódio contra Lula ou Bolsonaro na opinião pública

NOTÍCIAS, POLÍTICA


Segundo a coluna Pulso, o efeito dos algoritmos das redes sociais sobre as fontes de informações das pessoas tem virado tema de debates, livros e documentários. Muitos deles apontam que os algoritmos têm uma parcela de culpa no sucesso de candidatos radicais e na erosão das democracias. O ativista Eli Pariser argumenta que usuários de redes sociais vivem sob o efeito de bolha dos filtros, ou seja, os algoritmos trabalham para “entregar” a cada usuário somente as informações que costumam agradar seus pontos de vista.

Isso pode aumentar radicalismos, uma vez que o indivíduo só tem contato com conteúdos que reforçam suas opiniões. A pesquisa nacional “A cara da democracia”, feitaem junho de 2022, pelo Instituto da Democracia (IDDC-INCT), demonstra isso: a porcentagem de pessoas que dizem sentir ódio pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) ou pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) varia de acordo com as redes sociais mais utilizadas pelos indivíduos. Em relação ao total, cerca de 21% do eleitorado brasileiro disseram sentir ódio por Bolsonaro, enquanto apenas 7% afirmaram o mesmo sobre Lula. Entretanto, essas porcentagens mudam quando se observa separadamente os públicos de cada rede social.

Quando perguntados sobre qual a rede social mais utilizada para se informar sobre política, o Facebook é disparadamente a rede mais escolhida pelos brasileiros, sendo mencionada por 33% dos entrevistados. Em seguida vem o Instagram, sendo a escolha de 16% dos eleitores; o YouTube, por 12%; o WhatsApp, por 10%; o Twitter, por 3%; e em último lugar, o TikTok, por 1%. Outras redes foram citadas por 2% dos respondentes, enquanto 21% disseram não usar redes sociais.
Fonte: Pesquisa A Cara da Democracia (INCT-IDDC), junho de 2022, com 2538 entrevistas. Margem de erro total de 1,9 ponto percentual e índice de confiança de 95% — Foto: Otávio Z. Catelano

Fonte: Pesquisa A Cara da Democracia (INCT-IDDC), junho de 2022, com 2538 entrevistas. Margem de erro total de 1,9 ponto percentual e índice de confiança de 95% — Foto: Otávio Z. Catelano

Essa leitura se inverte quando observamos os eleitores que utilizam preferencialmente o Facebook e o WhatsApp. Entre eles, há uma proporção menor de pessoas que sentem ódio por Bolsonaro, enquanto esse público tende a reunir mais pessoas que odeiam Lula, quando os dados são comparados com o total (também dentro da margem de erro). O Twitter, por outro lado, é uma plataforma que reúne uma proporção menor de pessoas que sentem ódio por Lula ou Bolsonaro.

Fonte: pesquisa nacional A Cara da Democracia (INCT-IDDC), junho de 2022, com 2538 entrevistas. Margem de erro total de 1,9 ponto percentual e índice de confiança de 95% — Foto: Otávio Z. Catelano

Fonte: pesquisa nacional A Cara da Democracia (INCT-IDDC), junho de 2022, com 2538 entrevistas. Margem de erro total de 1,9 ponto percentual e índice de confiança de 95% — Foto: Otávio Z. Catelano

Desses dados, pode-se fazer pelo menos duas leituras. A primeira — e que mais salta aos olhos — é a força que Lula e Bolsonaro têm em cada plataforma. Ainda que Lula seja odiado por uma porcentagem bem menor de brasileiros do que Bolsonaro, o atual presidente aparenta possuir mais força nas plataformas que concentram um número maior de usuários (em termos de procura por informação política). Isso pode indicar como o enfrentamento eleitoral entre os dois líderes das pesquisas poderá ocorrer no terreno digital.

Outra leitura é a diferença da atuação dos algoritmos de cada plataforma. O que o TikTok e o Twitter têm de tão diferente? Por que entre os usuários de TikTok há proporções maiores de pessoas que odeiam Bolsonaro e/ou Lula? E por que isso se inverte quando se observa o conjunto de pessoas que preferem se informar politicamente pelo Twitter? Ainda que sejam as duas plataformas menos optadas pelos brasileiros em geral, é importante que essa diferença seja acompanhada de perto, pois pode revelar muito sobre a atual situação política do país.

*Otávio Z. Catelano é doutorando em Ciência Política pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pesquisador do Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop-Unicamp). O texto acima faz parte do Observatório das Eleições, iniciativa do Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação (INCT IDDC), que reúne pesquisadores da Unicamp, UnB, Uerj, UFMG, entre outros. O grupo tem especialistas de diversas áreas, como cientistas políticos, juristas, sociólogos e comunicólogos.

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