As usinas de etanol de milho não devem ter risco de oferta de matéria-prima, mesmo diante de um cenário em que a China passe a importar o cereal brasileiro ainda neste ano, visto que as compras da indústria já foram realizadas antecipadamente, disse no final da tarde desta segunda-feira (8) o superintendente do Imea, Cleiton Gauer.
A exportação do Brasil para os chineses, que está sendo negociada pelos governos dos dois países, tende a causar um repique de alta para os preços domésticos do milho, mas o setor de etanol só sentiria esse impacto nas compras deste ano para o produto que será entregue em 2023.
“O impacto no preço vai depender muito do volume que os chineses vão comprar”, disse ele à Reuters durante evento em São Paulo.
“Com relação à oferta não vejo um problema, porque o que grande parte das indústrias processa e opera agora é um milho comprado antecipadamente”, acrescentou especialista do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária.
O presidente-executivo da União Nacional do Etanol de Milho (Unem), Guilherme Nolasco, acrescentou que as negociações das usinas para aquisição do cereal são feitas, em sua maioria, por meio de contratos a termo.
“Não se pode comprar da mão pra boca, precisamos ter um mínimo de previsibilidade”, disse.
Gauer comentou que foi a indústria de etanol quem trouxe esta prática de compras antecipadas para o mercado de milho em Mato Grosso, contribuindo também com a expansão de produção do cereal.
Segundo o presidente da Unem, nos últimos cinco anos, a área de milho segunda safra cresceu cerca de 50% em Mato Grosso e parte disso se deve à expansão das usinas do biocombustível.
Dados da entidade que representa as usinas indicam que a produção de etanol de milho do Brasil na safra 2022/23, iniciada em abril, deve alcançar 4,5 bilhões de litros, aumento de 31% em relação à temporada anterior –Mato Grosso reúne a maior parte do setor.
O volume de milho processado pelas usinas também deverá aumentar de 7,98 milhões de toneladas, na safra passada, para 10,38 milhões de toneladas.
Com isso, o etanol de milho deverá ampliar sua participação na produção total do biocombustível, passando de 12,5% para 15%. A fatia restante corresponde ao produto fabricado a partir da cana-de-açúcar.
“Na safra 2030/31, a produção de etanol de milho chegará a 9,6 bilhões de litros e a participação na produção nacional total de etanol ficará entre 22% e 23%”, estimou Nolasco.
Atualmente, 18 usinas processam o cereal para fabricação do biocombustível no Brasil.
Insumos
Atenta às projeções positivas para o mercado de etanol de milho, a companhia de biotecnologia Novozymes anunciou durante evento que vai inaugurar no final deste ano, no Paraná, sua primeira planta de levedura para atender o mercado de biocombustíveis em toda a América Latina.
Sem revelar o valor do investimento, o presidente regional da Novozymes para América Latina, William Yassumoto, disse à Reuters que a levedura é um insumo fundamental para o processo produtivo de etanol de milho, utilizado na fermentação da matéria-prima.
“Até agora, tínhamos importado a levedura para fornecer às usinas… estamos olhando para um mercado que está crescendo”, afirmou o executivo, citando que a empresa já atende 18 usinas.
A nova planta será instalada no município de Araucária, onde a companhia já tem operações de produção de enzimas que também são fornecidas para fabricantes de etanol de milho.