As pesquisas Ipec mais recentes revelam que há um cenário de possibilidade de decisão em primeiro turno em 16 estados, onde o líder das pesquisas tem mais de 50% dos votos válidos ou está dentro da margem de erro para atingir esse patamar. O União Brasil, partido formado este ano com a fusão de PSL e DEM, está no topo desse ranking, à frente de quatro unidades da federação. Dona da maior fatia do fundo eleitoral — R$ 758 milhões, ou 15% do total —, a legenda aproveitou a herança das siglas que se fundiram em estados onde elas eram fortes, e tem ainda grandes chances de desbancar o PT na Bahia e no Piauí.
Já PL ganhou tração após a filiação do presidente Jair Bolsonaro e pode levar governos inéditos, como no Rio de Janeiro e em Sergipe. E o PSDB pode ser um dos grandes derrotados em outubro, já que hoje está no comando de três estados, mas tem chance apenas no Rio Grande do Sul.
Os últimos resultados do Ipec apontam empate no Ceará e em Santa Catarina.
O União Brasil aposta nos candidatos à reeleição Wilson Lima (AM), Ronaldo Caiado (GO), Mauro Mendes (MT) e Coronel Marcos Rocha (RO) — em 2018, Lima venceu pelo PSC; Caiado e Mendes eram do DEM; e Rocha, do PSL. No Nordeste, o partido trava duelos importantes com o PT: na Bahia, ACM Neto (União), cacifado pelo histórico como prefeito de Salvador, largou como franco favorito na disputa, mas nas últimas semanas viu a performance de Jerônimo Rodrigues (PT) melhorar, ao mesmo tempo em que enfrenta críticas por ter se autodeclarado pardo.
Musculatura
No Piauí, Sílvio Mendes (União) manteve até aqui uma distância acima de dez pontos sobre Rafael Fonteles (PT). Há quatro anos, Wellington Dias (PT) havia sido eleito governador ainda no primeiro turno.
— Na Bahia, conforme o candidato do PT se associar mais ao Lula, é capaz de ganhar mais musculatura. No Piauí, a força do orçamento federal destinada à base do governo está surtindo resultados — diz o cientista político e professor do Insper, Carlos Mello, numa referência ao orçamento secreto, que teve como um dos principais articuladores o ministro Ciro Nogueira, apoiador de Sílvio Mendes.
O União Brasil nasceu como a maior bancada da Câmara, em fevereiro, mas foi desbancado pelo PL. Ainda assim, continuou com a maior fatia do fundo eleitoral.
— Ter o maior fundo faz diferença. Somado a isso, o União tem candidatos bem avaliados disputando a reeleição. Na pandemia, houve espaço para os governadores aparecerem mais, porque o presidente se omitiu — avalia Eduardo Grin, cientista político da FGV-SP. — Por outro lado, Wilson Lima, ainda que na liderança, tem situação mais difícil porque enfrenta candidatos de mais peso, e o Amazonas teve graves problemas na pandemia
Além disso, Grin conclui que o União Brasil vem tendo êxito com o eleitorado de direita que se frustrou com o extremismo de Bolsonaro. No Piauí, ele destaca que houve conflitos internos que impediram a construção de uma sucessão sólida a Wellington Dias. Na Bahia, ACM Neto é uma figura tradicional do estado e ainda conta com um desgaste natural do PT, que já comanda o governo há oito anos.
Contudo, se as derrotas no Nordeste se confirmarem para o PT, a legenda poderá compensar com uma inédita vitória em São Paulo, afirma o cientista político:
— Depois da eleição presidencial, essa é a maior prioridade do PT.
Já o PSDB, que chegou a vencer oito eleições estaduais em 2010, agora corre o risco de ganhar em apenas um estado. A legenda, que pela primeira vez em sua história não concorrerá com um candidato a presidente, já havia acumulado derrotas em 2018, elegendo três governadores. Em São Paulo, Rodrigo Garcia tenta ir ao 2º turno, e, no Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel, candidato à sucessão de Reinaldo Azambuja, é o quarto lugar.
— O PSDB só tem uma alternativa para se manter vivo no jogo, que é eleger Rodrigo Garcia. Se não, vai virar quase um partido nanico e poderá, inclusive, pensar em uma federação — avalia Grin.
Perda de foco
O analista lembra que, além dos estados, o partido perdeu muitas prefeituras há dois anos e pode eleger uma bancada parlamentar menor do que em 2018:
— O partido se perdeu do ponto de vista ideológico, e as brigas internas foram um desastre.
Entre as novidades das disputas, o Solidariedade, cujos candidatos se vinculam à imagem de Lula, e o PL podem conquistar governos estaduais, quatro anos depois de não terem vencido nenhuma disputa. O partido de Bolsonaro lidera em Sergipe, com Valmir de Francisquinho, que recorre da decisão do TSE que impugnou sua candidatura, e no Rio, com Cláudio Castro. Os candidatos evitam vincular sua imagem à do presidente.
A disputa se encaminha para terminar em quatro estados do Norte e quatro no Nordeste. Do total de candidatos que podem ganhar no primeiro turno, além dos quatro do União Brasil, há dois do PP e do PSB.