Maior parceira dos tucanos em São Paulo, a União Brasil sofreu conforme Artur Rodrigues, da Folha, um baque com o colapso do PSDB, ao perder deputados e espaço no governo paulista.
Até o ano passado, o partido ocupava posto cobiçado na mesa diretora da Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) e era responsável por comandar orçamento bilionário no Executivo.
Com a derrota de Rodrigo Garcia (PSDB) no primeiro turno da eleição ao governo, cujo vice era Geninho Zuliani (União Brasil), o partido apoiou Tarcísio de Freitas (Republicanos), mas ficou de fora dos cargos de primeiro escalão.
Além disso, teve redução significativa nas bancadas da Alesp e dos deputados paulistas na Câmara.
Agora, a aposta da legenda é usar o atrativo de verba e tempo de TV para tentar atrair prefeitos do interior e ocupar espaços, inclusive os que hoje são do PSDB.
A crise na União Brasil não se restringe a São Paulo: um racha levou a ministra do Turismo, Daniela Carneiro, e ao menos outros cinco deputados do Rio de Janeiro a pedir ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) suas desfiliações sem perda dos mandatos.
Na Alesp, na comparação com o ano passado, a bancada do partido caiu de 11 para 7 deputados. Agora, em vez de ocupar a segunda secretaria da Casa, o partido ficou com a segunda vice-presidência.
A bancada paulista da União Brasil na Câmara dos Deputados, hoje, conta com seis membros, dois a menos que no ano passado.
Durante a gestão tucana de João Doria e depois de Rodrigo Garcia, a sigla ainda comandava uma das principais engrenagens da máquina estadual, a cobiçada pasta de Transporte e Logística, dona de um orçamento de R$ 11,5 bilhões no ano passado.
A estrutura da pasta, agora, está nas mãos de Natália Rezende, uma técnica que trabalhou com Tarcísio no Ministério da Infraestrutura.
Um dos principais dirigentes do partido no estado, o presidente da Câmara de São Paulo, Milton Leite, minimiza o impacto da derrota tucana sobre a União Brasil. Originariamente do DEM, ele sustenta que a diminuição na bancada aconteceu devido à não-reeleição da ala vinda do PSL.
“Se olharmos que era o DEM, nós crescemos”, diz à reportagem, em uma sala do diretório municipal do partido na capital, no dia em que a chapa única que encabeça foi eleita para comandar a União na cidade.
A sede municipal fica na zona sul da capital, região onde a dinastia de Leite, formada também pelos seus filhos, os deputados Milton Leite Filho (estadual) e Alexandre Leite (federal), é quase onipresente.
Ali, a reportagem encontrou movimentos sociais, sindicalistas e membros de escola de samba, entre outros grupos da base do clã.
Entre os planos da União, diz o vereador que se elegeu presidente da Câmara pela terceira vez, está manter a aliança com o grupo de Ricardo Nunes (MDB) no poder na capital paulista e expandir a legenda no interior. Inclusive, às custas de uma previsível redução do espaço do PSDB, agora alijado da máquina estadual.
Em dezembro, o PSDB tinha 238 prefeitos e, logo atrás, vinha a União, com 78.
RAIO X DA UNIÃO BRASIL
Deputados federais: 59 (6 de SP), a terceira maior bancada
Senadores: 9 (nenhum de SP), quarta maior bancada
Deputados estaduais na Alesp: 7, quinta maior bancada
Presidente nacional: Luciano Bivar
Fundação: 6 de outubro de 2021
Diferentemente dos tucanos, a União tem grande bancada na Câmara, atrás apenas de PL e PT, e possui o atrativo de verba e tempo de TV que pode seduzir novos aliados.
“Pelo quadro, é possível que o PSDB perca prefeituras. Não estou aqui praguejando nem demonizando nem desejando mal ao PSDB, mas a gente vê hoje a situação deles um pouco mais frágil que outrora”, diz Leite.
A disputa pelo espólio tucano será acirrada com partidos mais alinhados a Tarcísio, como o PSD de Gilberto Kassab, o PL e o Republicanos.
Na capital paulista, a briga também será dura. Leite é o fiador da ideia de que Ricardo Nunes embarque no plano da tarifa zero no sistema de transportes, uma cartada que, nos cálculos dele, poderia render a reeleição do prefeito no primeiro turno, contra um adversário competitivo como Guilherme Boulos (PSOL) e sob o risco de ter de concorrer com algum bolsonarista.
O filho de Leite, Alexandre Leite, é um dos cotados para a vice de Nunes, embora o líder da União afirme que o partido tem diversos nomes e que o partido deixará o atual prefeito à vontade para decidir.
Na esfera estadual, Leite diz que não tem o que reclamar de Tarcísio e, sem dar detalhes, que o partido está contemplado pelo governador. Nos bastidores, porém, há cobranças.
Para o vereador paulistano Adilson Amadeu (União Brasil), o partido mereceria mais espaço, até pelos resultados na pasta de Transporte e Logística. “Se o governo do estado não quiser aproveitar a União Brasil, quem perde é o governador”, diz.
Amadeu compara a situação da União, após a derrota na disputa ao governo, com a de um paciente em recuperação. “Foi abalado, tiraram apêndice, está em recuperação. Não era uma cirurgia grave”, afirma.
O partido se formou da junção do DEM com o PSL em 2021. Esta última sigla surfou na onda do bolsonarismo em 2018, mas não conseguiu manter o fôlego longe de Jair Bolsonaro (PL) e não reelegeu vários dos seus nomes.
“A União Brasil nasceu dizendo que era muito grande, mas quando foi para o jogo real percebeu que seu tamanho não era aquele”, diz o cientista político Bruno Silva, pesquisador do Laboratório de Política e Governo da Unesp Araraquara.
No estado de São Paulo, lembra Silva, com a eleição de Tarcísio o principal campo de atração passou a ser os partidos que orbitam o bolsonarismo.
O pesquisador diz que, enfraquecida pela debacle tucana, restaria à União Brasil abraçar o bolsonarismo ou tentar se cacifar no cada vez mais restrito espaço para a direita moderada, que, hoje, comanda o partido.
Se o antipetismo é a regra no estado, a situação é mais complexa no cenário federal, uma vez que o partido chegou a receber três ministérios no governo Lula (PT).
Entre os deputados federais paulistas da sigla não-reeleitos, por exemplo, está Junior Bozella, hoje trabalhando com Marcelo Freixo (PSB) na Embratur, da ala egressa do PSL.
Na esfera estadual, ele admite que o partido ficou em situação menos vantajosa que outros aliados de primeira hora de Tarcísio, mas diz acreditar que a composição deve acontecer com os deputados estaduais da sigla, que tem a quinta maior bancada da Alesp.
Na Casa, um dos acenos do governador à União foi a indicação de Guto Zacarias como vice-líder do governo.
Ele faz parte da ala do partido que é composta por integrantes do MBL (Movimento Brasil Livre), junto com Kim Kataguiri, como deputado federal. Se o grupo de fato conseguir viabilizar a criação de um partido, conforme chegaram anunciar seus integrantes, ambos os deputados podem ser novas baixas da União no futuro.