A crise entre o presidente Lula e o presidente do Banco Central ainda nem acabou e a equipe econômica já identificou segundo a coluna de Malu Gaspar, do O Globo, um outro potencial foco de conflito dentro do governo. Chamou a atenção dos auxiliares de Fernando Haddad e Simone Tebet o anúncio de Aloizio Mercadante, presidente do BNDES, de que vai promover um seminário para sugerir ao governo um novo arcabouço fiscal.
O presidente do BNDES afirmou, na semana passada, que o banco vai debater o assunto em uma comissão interna, da qual faz parte o economista André Lara Resende, e também em um seminário. A ideia é entregar uma proposta em março. “O resultado do debate será entregue ao Haddad e a Lula”, disse ele em entrevista ao SBT. “Aqui, tudo vai para o Lula.”
Embora Mercadante tenha dito que entregará o documento também a Haddad, a iniciativa está sendo interpretada na equipe econômica como uma intromissão do BNDES nos assuntos da Fazenda, que é a quem cabe elaborar a política fiscal do governo.
O temor é que Mercadante torne pública uma proposta que seja diferente ou mesmo divergente com a da Fazenda – o que é possível, dado que o presidente do BNDES é da Unicamp, escola ortodoxa de economistas, enquanto Haddad tem uma orientação mais moderada e de maior diálogo com o mercado financeiro.
Não seria a primeira vez que Mercadante interfere em uma discussão que diz respeito a Haddad — mesmo ele negando que vá fazer isso em todas as entrevistas que dá.
Quando Haddad declarou ser a favor da volta da cobrança de impostos sobre combustíveis, ainda antes da posse, Mercadante, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann , e o deputado José Guimarães, convenceram Lula a manter a isenção, causando a primeira derrota política do ministro da Fazenda no cargo.
Ao ser informado da iniciativa, Haddad não teve dúvida. Disse a Mercadante que o BNDES pode discutir o que quiser, mas que é o seu ministério que vai decidir qual será o arcabouço fiscal do governo.