A obesidade aumenta o risco de pressão alta, diabetes, problemas nas articulações, dificuldades respiratórias, pedras na vesícula e até algumas formas de câncer. Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) prevê que a doença poderá atingir cerca de um em cada 3 adultos no Brasil até 2030.
A estimativa faz parte de um estudo publicado em 26 de julho na revista Scientific Reports. Em colaboração com outras instituições brasileiras e internacionais, os autores das previsões se basearam em dados da pesquisa Vigitel, coletados por entrevista telefônica entre 2006 e 2019 com mais de 730 mil participantes.
Segundo o levantamento, a prevalência de obesidade aumentou de 12% em 2006 para 20% em 2019. Com isso, até o final de 2030, a previsão é que 68% dos brasileiros estejam com sobrepeso e quase 30% com obesidade. Entre os obesos, 9% estarão nas classes 2 e 3 — os patamares mais altos, com maiores riscos de doenças atreladas.
O problema será grave o suficiente para afetar quase todo o país: a expectativa é que um quarto dos adultos possa estar obeso em 24 das 27 unidades geográficas do Brasil. Além disso, a prevalência da obesidade classes 2 e 3 poderá superar 10% da população em 8 das 27 unidades.
A capital que deve liderar a taxa de obesos é Manaus (36%), seguida por Cuiabá, com 35%, e Rio Branco, com 33%. Já as localidades que devem ter menor porcentagem são Florianópolis (23%), Palmas (24%) e Curitiba (25%).
A situação poderá ser mais crítica para as mulheres, entre as quais a obesidade deve atingir uma taxa de 30,2%, contra 28,8% para os homens. Além delas, Rafael Claro, professor da UFMG que colaborou com o estudo, conta que devem ter maior chance de obesidade até 2030 negros e outras etnias minoritárias, além de pessoas de meia-idade, adultos com menos de 7 anos de escolaridade e residentes das capitais do Norte e Centro-Oeste.
“Nossos achados indicam um aumento sustentado da epidemia de obesidade em todos os subgrupos sociodemográficos e em todo o país”, afirma o especialista, conforme comunicado.
Claro salienta ainda que a questão é uma preocupação global de saúde pública: só em 2016, aproximadamente 1,9 bilhão de adultos viviam com obesidade no mundo e uma tendência crescente é desde então observada. Mesmo assim, conforme ele conta, os estudos sobre o assunto são escassos em países de baixa e média renda.
No Brasil, segundo Claro, a epidemia de obesidade tem contribuído para o aumento da carga de câncer, com 15 mil casos anuais atribuíveis ao Índice de Massa Corporal (IMC) elevado. “As projeções sugerem que esse número poderá ultrapassar 29 mil casos até 2025”, ele diz.
Embora não haja previsão de grandes mudanças nos determinantes da obesidade, o especialista considera, contudo, que a pandemia de Covid-19 afetou desproporcionalmente pobres e países de baixa e média renda. “Projetamos que o empobrecimento da população, aliado ao limitado acesso econômico a alimentação saudável e atividade física, possa levar a um aumento mais acentuado das taxas de obesidade em um futuro próximo”, explica o expert.