Em rara entrevista, no jornal O Globo desta terça-feira (28), Alfredo Setúbal, presidente da Itaúsa – holding que controla o Itaú – e um dos homens mais ricos do Brasil, com mais de R$ 15 bilhões, se mostrou arrependimento e lamentou que Jair Bolsonaro (Sem partido) e o ministro da Economia, Paulo Guedes, seu fiador junto aos neoliberais, não tenham feito o que prometeram.
“Havia uma grande expectativa com a eleição e com a nomeação do Paulo Guedes. Mas entre querer e poder vai uma grande distância. O presidente iniciou o governo com discurso de menos Brasília, de um certo isolamento em relação ao Parlamento, e no meio do caminho ele teve que compor com o chamado Centrão e, com isso, começou a ter mais de governabilidade. Esperava-se mais? Sim. Mas tem coisas que andaram. A reforma da Previdência andou, a tributária e administrativa estão no Congresso. São reformas ideais? Não. Mas, no Brasil, ótimo é inimigo do bom. O Brasil nunca tem capacidade de fazer uma reforma plena. Tem muitos lobbies organizados. A pandemia atrapalha. Mas tenho a expectativa que a administrativa e a tributária passem ainda este ano”, disse o banqueiro.
Insistindo na tese das reformas neoliberais, Setúbal diz que “em termos relativos, o Brasil andou para trás em tudo nos últimos 40 anos” e que é “cético no médio e longo prazo” em relação ao crescimento do país.
“Brasil andou para trás, em todos os sentidos. Esse ano vai crescer, 5%, 5,5%, mas a base do ano passado foi muito baixa. Sem reformas, com o setor privado mais cauteloso em ano eleitoral, já tem gente falando em 0,5% de crescimento em 2022. Isso é zero. Se não fizermos nada, vai continuar essa porcaria que vimos nos últimos 40 anos, com crescimento potencial de 1,5%, 2%. A gente vai crescer muito menos que o mundo e ficar para trás”.
Golpe e impeachment
O dono do Itaú ainda afirma que “nunca acreditei em golpe”, mostrando um alinhamento ao pensamento de Michel Temer.
“Em nenhum país você dá um golpe sem o apoio das Forças Armadas. O Jânio Quadros tentou e não conseguiu. O Exército deixou ele falando sozinho. Não vejo as Forças Armadas com o menor interesse em assumir o país novamente. Vamos ver um ano de falas muito agressivas, mas as instituições se fortaleceram”, disse.
Setúbal ainda criticou um possível impeachment de Bolsonaro – “Como um país sério pode ter três impeachments em 30 anos? Isso não é parlamentarismo” – e declarou abertamente apoio ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB), na disputa presidencial em 2022.
O banqueiro diz ainda que “qualquer um que ganhar pegará o país em frangalhos” e que “Lula foi um bom presidente”.
“Seu primeiro mandato manteve a politica econômica bem apertada, a inflação baixa, o Brasil cresceu. Ele se beneficiou do boom das commodities, de condições favoráveis que se encerraram com a crise do Lehman Brothers. A partir dali, o fim do governo foi muito ruim. Ele gastou muito pra eleger a Dilma, o déficit fiscal foi enorme. As consequências foram muito ruins e culminaram na recessão a partir de 2014 e no impeachment da Dilma. Mas, mais que anti-Lula, os empresários querem alguma coisa pró-Brasil. Eu não acho que é um sentimento anti-Lula, eu acho que é um sentimento de mudança, esse modelo não está dando certo. Por isso que se fala da terceira via. Lula e Bolsonaro já passaram pelos governos. O Brasil precisa renovar”, concluiu.