terça-feira 4 de março de 2025
Ursula von der Leyen anuncia pacote de defesa na sede da Comissão Europeia em Bruxelas, em 4 de março de 2025 — Foto: Nicolas Tucat / AFP
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terça-feira 4 de março de 2025 às 09:23h

Ucrânia reage à suspensão da ajuda militar dos EUA, e União Europeia propõe plano de até €800 bilhões para defesa do bloco

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A Ucrânia reagiu com indignação à suspensão de toda a ajuda militar dos Estados Unidos, afirmando que a decisão representa uma traição por parte de um aliado e ajudará a Rússia a bombardear e matar mais civis. Na segunda-feira, a administração do presidente Donald Trump anunciou que seriam interrompidas as entregas de munições e veículos, incluindo remessas acordadas quando Joe Biden ainda era presidente.

Os ucranianos afirmaram que o maior impacto da decisão provavelmente será sentido na capacidade do país de se defender dos ataques aéreos russos, que se intensificaram nas últimas semanas. O ex-ministro da Defesa ucraniano Andriy Zagorodnyuk disse ao Guardian que a Casa Branca estava tentando intimidar o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, para que aceitasse um acordo de paz nos termos de Moscou.

— Acho que isso está extremamente errado em todos os aspectos. Além disso, não vai funcionar com a Ucrânia, que nunca se curvará a tiranos e nem a intimidações. É simples assim — disse.

Em discurso em vídeo gravado em Kiev antes do anúncio de Washington, Zelensky reiterou seus apelos por um acordo “justo” para o fim da guerra. A declaração foi feita após uma publicação hostil de Trump nas redes sociais, na qual ele alegava que o líder ucraniano não queria a paz. Em sua fala, Zelensky reforçou que era necessário alcançar uma “paz verdadeira e honesta, e não uma guerra sem fim”.

Zelensky também deixou claro que qualquer acordo precisaria incluir garantias de segurança, repetindo a posição que irritou Trump e o vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, quando Zelensky se reuniu com eles na última sexta-feira. O ucraniano classificou essas garantias como “essenciais” e disse que a falta delas permitiu que a Rússia tomasse a Crimeia em 2014 e iniciasse a ocupação da região de Donbass.

— O mundo vê isso e o mundo reconhece isso. Hoje, continuamos nosso trabalho com parceiros europeus em uma arquitetura diplomática e de segurança especial que pode nos aproximar da paz — acrescentou o presidente, sem mencionar diretamente os EUA.

‘Era de rearmamento’

Diante das novas medidas de Washington, a União Europeia (UE) propôs nesta terça-feira a concessão de €150 bilhões em empréstimos para aumentar os gastos com defesa. Após décadas de subinvestimento, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que a UE também planeja ativar um mecanismo que permitirá aos países usarem seus orçamentos nacionais para gastar um adicional de €650 bi em defesa em quatro anos, sem desencadear penalidades orçamentárias.

Junto dos novos empréstimos para gastos militares, von der Leyen afirmou que o pacote poderia mobilizar quase €800 bilhões, caso os governos aproveitem totalmente a nova margem de manobra. A repórteres em Bruxelas, ela declarou que o bloco está em uma “era de rearmamento” – e que a Europa está “pronta para impulsionar massivamente seus gastos com defesa”.

Qualquer nova iniciativa de endividamento da UE, porém, precisará do apoio dos 27 Estados-membros, o que representa um grande obstáculo. Vencedor das eleições na Alemanha e provável novo chanceler da maior economia e do país mais populoso da Europa, Friedrich Merz, sinalizou que pode estar aberto a tais planos, mas o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, indicou que provavelmente irá bloqueá-los.

A Europa busca mobilizar centenas de bilhões de euros em financiamento adicional para continuar apoiando a Ucrânia em um momento crítico. Após o anúncio da suspensão de ajuda militar de Washington a Kiev, Von der Leyen declarou que era um “momento único em uma geração” – e que já havia declarado que a UE necessita investir cerca de €500 bilhões em defesa na próxima década.

— Trata-se basicamente de gastar melhor e gastar juntos, e estamos falando de capacidades pan-europeias, como defesa aérea e antimísseis, sistemas de artilharia, mísseis e munições, drones e sistemas antidrones, mas também para abordar outras necessidades, desde cibersegurança até mobilidade militar — afirmou.

‘Intensificação urgente dos esforços’

Von der Leyen enviou uma carta aos Estados-membros listando possíveis ações para fortalecer a defesa nacional no curto prazo. A proposta será discutida pelos líderes do bloco em uma reunião de emergência na quinta-feira, embora seja improvável que cheguem a um acordo sobre um pacote de ajuda militar de €20 bilhões para a Ucrânia. O último rascunho das conclusões da cúpula não menciona uma iniciativa detalhada, apenas exige uma “intensificação urgente dos esforços”.

Os líderes devem avaliar suas propostas preferidas e autorizar a Comissão, que é o braço executivo da UE, a aprofundá-las antes que propostas concretas sejam apresentadas, possivelmente já na próxima reunião, marcada para os dias 21 e 22 de março, segundo fontes familiarizadas com o assunto que falaram sob condição de anonimato.

Ao mesmo tempo que as lideranças europeias reagem às reivindicações de Trump, analistas apontam que o republicano até o momento não exigiu nenhuma concessão de Vladimir Putin. Eles avaliam que, em vez de agir como mediador, Trump buscou pressionar e humilhar a Ucrânia, forçando o país a fazer concessões territoriais que beneficiariam o Kremlin. A Rússia afirma ter anexado quatro regiões do território vizinho, incluindo cidades que não controla, como Zaporíjia e Kherson.

Na segunda-feira, o Kremlin afirmou que a unidade do Ocidente em relação à Ucrânia está desmoronando. A declaração foi feita um dia depois de o Kremlin afirmar que o posicionamento de Trump sobre o conflito está levando Washington a se alinhar com Moscou, apontando para uma mudança que pode reverter a geopolítica que tem determinado as relações internacionais desde a Segunda Guerra Mundial.

“Isso não é um plano de paz, é uma armadilha para nos forçar à rendição”, escreveu Maria Avdeeva, especialista em segurança ucraniana, no BlueSky. “Ficar do lado da Rússia nunca ajudou ninguém. Putin não está negociando, ele quer nossa rendição. A Ucrânia permanecerá forte”.

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