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sábado 6 de maio de 2023 às 18:07h

Tudo se compra e vende na ‘dark web’, face oculta da internet

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As prisões da última terça-feira (2) em Brasil, Europa, e Estados Unidos jogaram luz sobre a “dark web”, face oculta da internet, um vasto mercado de armas, pedofilia, drogas e hacking, mas também um refúgio para opositores de regimes autoritários.

 É possível navegar pela dark web?

Nascida dos movimentos libertários, esta rede paralela tem o anonimato como principal objetivo. Seus sites não são registrados por mecanismos de busca, como Google e Bing. Para acessá-la, o navegador TOR permite, desde 2004, consultar uma página, desde que saiba o endereço em 48 caracteres.

Na dark web não há motores de busca públicos. Não é possível escrever uma palavra aleatoriamente para encontrar um nome.

A estrutura tem 110.000 portais ativos, um número que se multiplicou nos últimos cinco anos. A internet aberta, “clear web”, registra 1,6 bilhão de sites.

“Assistimos, no entanto, a uma grande massificação, uma vez que, há cinco anos, havia apenas 10.000 sites ativos”, explicou Nicolas Hernández, chefe da Aleph Networks, empresa francesa que desenvolveu um dos únicos motores de busca do mundo que funcionam na dark web.

Auge da pornografia infantil

A expansão da dark web deve-se, principalmente, à pornografia infantil, que representa entre 30% e 70% dos sites, estimou Hernández. “Há, também, muitos sites de comércio de drogas, que são bastante ativos. Para as vendas de armas, contavam com dez sites há três anos. Hoje, são mais de 200”, detalhou.

Os dados roubados também configuram um importante mercado. A Aleph Networks registra atualmente mais de 1,4 milhão de números de cartões de crédito ativos à venda, bilhões de e-mails com suas senhas e 12 milhões de carteiras de Bitcoin roubadas.

Podem-se encontrar, também, acessos a contas do Facebook e Twitter e programas para hackear uma conta do Gmail.

 Máfia cibernética

A dark web hospeda um ambiente estruturado de organizações de criminosos cibernéticos. Os sites que vendem dados básicos que permitem criar e-mails de “phishing” (fraude eletrônica) são oferecidos a usuários, que os compram para hackear um sistema.

Também há programas de pirataria prontos para uso, que são vendidos ou entregues em troca de uma porcentagem sobre os lucros.

Nesta rede, há ofertas de trabalho que recrutam hackers “autônomos” e plataformas que publicam os pedidos de resgate após roubos de dados, divulgando parte da informação a título de “prova”. Se a vítima não realizar o pagamento, os dados são colocados à venda.

As transações são pagas em criptomoedas ou usando contas do Paypal roubadas.

Neonazistas e críticos dos Jogos Olímpicos

“Quanto mais um Estado pressionar, mais atores irão entrar na dark web, como no caso da pornografia infantil ou do grupo Estado Islâmico. Quando o Estado afrouxa a pressão, eles retornam à web clássica, que lhes dá mais audiência”, explicou o diretor-geral da Aleph Newtworks, Victor Raffour.

“É o que ocorre atualmente com os movimentos neonazistas francófonos, ultraviolentos, que se comunicam na dark web. Vemos fóruns e comunidades que estão sendo criados”, comentou Raffour, preocupado.

A dark web é o local de encontro dos “hacker ativistas”, que defendem ações violentas e ciberataques. “Observamos discussões sobre planos de ataques aos Jogos Olímpicos de Paris que atraem todo tipo de hacker ativista. Falam em ataques às câmeras, roubos de dados dos provedores, estão se articulando”, advertiu Nicolas Hernández.

Operação efêmera

As 288 prisões efetuadas na terça-feira pela Interpol e Europol contra traficantes de drogas na internet permitiu a queda de uma grande plataforma, a Monopoly Market.

“Mas teríamos que saber se se tratam de administradores do sistema. Isto pode não deter a sua atividade, porque, no geral, os fundadores se protegem. É difícil declarar vitória, sobretudo se a plataforma for russa”, explicou Hernández.

“Em quatro meses, as plataformas se reconstroem. A dark web foi criada para o anonimato. Se não cometerem erros, será muito difícil identificá-los. É necessário que os Estados estejam conscientes do que se encontra na dark web e se ocupem disto, porque esta zona se torna perigosa”, afirmou o executivo.

A dark web, no entanto, também é um espaço de liberdade. Denunciantes, dissidentes, jornalistas e todos aqueles que fogem da repressão de certos Estados se encontram ali, protegidos pelo anonimato.

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