Chefe da Otan diz que fala do republicano mina segurança dos países-membros e lançam dúvida sobre comprometimento dos EUA. Biden vê “sinal verde de Trump” para Putin estender conflito na Ucrânia para outros países. O ex-presidente dos Estados Unidos e pré-candidato do Partido Republicano à Casa Branca, Donald Trump, provocou duras reações das nações aliadas após criticar os países que não contribuem o suficiente para a Aliança do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
Em um evento de campanha na Carolina do Sul, nos EUA, Trump disse que, no caso de um ataque russo a qualquer um dos países que não cumprirem com suas obrigações financeiras para com a aliança, ele, se for presidente, não apenas se recusará a protegê-los, mas incentivaria a Rússia a “fazer o que diabo eles quiserem” com os maus pagadores.
O ex-mandatário, que se referia ao compromisso das nações aliadas de dedicar 2% de seus Produtos Internos Brutos (PIBs) aos gastos militares, fez os comentários ao relatar um suposta conversa que teria tido com um chefe de governo de um país da Otan que ele não quis identificar.
“Um dos presidentes de um país grande se levantou e disse, ‘se nós não pagarmos e formos atacados pela Rússia, o senhor nos protegerá?’ Eu disse, ‘você não pagou, você é inadimplente? Não, eu não vou proteger você. Na verdade, vou encorajá-los a fazerem o que diabos quiserem.’”
A fala de Trump repercutiu mal entre os aliados e gerou alertas em Washington e no Exterior de possíveis riscos à aliança, além de aumentar as preocupações sobre o comprometimento americano para com o princípio da defesa coletiva, estabelecido no Artigo 5 do Tratado.
“Sinal verde para Putin”
O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, acusou Trump, de “sabotar a segurança” dos países da aliança. “Qualquer sugestão de que os aliados não se defenderão mutuamente mina toda a nossa segurança, incluindo a dos Estados Unidos, e coloca os soldados americanos e europeus em maior risco”, declarou Stoltenberg em comunicado à imprensa.
O norueguês enfatizou, no entanto, que a Otan “continua pronta e capaz de defender todos os aliados” e advertiu que “qualquer ataque” a qualquer um de seus membros “será enfrentado com uma resposta unida e enérgica”.
Stoltenberg expressou esperança de que os EUA “continuarão a ser um aliado forte e comprometido” da Otan, “independentemente de quem vencer a eleição”. Os Estados Unidos realizarão eleições presidenciais em novembro de 2024, com uma possível repetição da disputa entre Trump e o democrata Joe Biden, que o derrotou nas eleições de 2019.
O presidente Biden rechaçou os comentários de Trump que, segundo afirmou, beneficiam apenas o presidente russo, Vladimir Putin.
“A admissão de Donald Trump de que pretende dar a Putin um sinal verde para mais guerra e violência, para continuar seu assalto brutal à Ucrânia livre e expandir suas agressões aos povos da Polônia e dos países dos Bálticos é estarrecedora e perigosa”, disse Biden, em nota..
O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, classificou os comentários como irresponsáveis, dizendo que “servem apenas aos interesses de Putin.”
A ex-diplomata americana na ONU Nikki Haley, concorrente de Trump à indicação do Partido Republicano, acusou seu ex-chefe de ficar ao lado de Putin. “O que me incomoda nisso tudo é, não fique do lado do bandido que mata seus oponentes. Não tome o partido de alguém que invade um país e deixa meio milhão de mortos e feridos”, afirmou.
Aliança em xeque
Trump lidera com folga a disputa interna do Partido Republicano na corrida pela Casa Branca. Até o momento, ele venceu todas as primárias que disputou, com ampla vantagem em relação a Haley.
Trump é um crítico de longa data da Otan e do que vê como fardo financeiro excessivo dos EUA para garantir a defesa de outros 30 países.
No passado, ele já fez outros comentários questionando o valor da Otan e a ajuda americana à Ucrânia. Os EUA são o maior apoiador do país do leste europeu, tendo enviado mais de 75 bilhões de dólares (R$ 372 bilhões) a Kiev desde a invasão, segundo Stoltenberg, enquanto outros países contribuíram, juntos, com mais de 100 bilhões de dólares (R$ 495 bilhões).
Paralelamente à campanha, o ex-presidente ainda responde a uma série de desafios e ações na Justiça. O republicano enfrenta um processo por fraude empresarial, assim como acusações de tentar reverter o resultado das eleições de 2020, de instigar a invasão do Capitólio, de armazenar ilegalmente documentos confidenciais em sua mansão e falsificar relatórios financeiros relacionados ao pagamento pelo silêncio de uma atriz pornô com quem teria tido um caso extraconjugal, entre outros litígios que pesam contra ele.