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domingo 17 de março de 2019 às 10:04h

Trump e a extinção do financiamento federal para radiodifusão pública, por Joshua Benton 

RMS


O governo Trump divulgou a 1ª parte do orçamento federal. É o 3º do mandato do presidente. O “plano” não inclui solicitações de financiamento detalhado para órgãos federais; a Bloomberg diz que isso é “esperado para o final deste mês”. Mas quando eles chegarem espera-se que Trump, pela 3ª vez, proponha a extinção de todo o financiamento federal para a radiodifusão pública –zerando a Corporação para Radiodifusão Pública, entidade que distribui fundos para apoiar estações públicas de rádio e televisão.

Ele fez isso em 2017. E fez novamente em 2018. E nas duas vezes ele falhou; o Congresso, então controlado pelos republicanos, financiou o CPB (Corporação para Radiodifusão Pública) mesmo assim. Dado que os democratas agora controlam a Casa, as chances de Trump conseguir aprovar o ‘Plano C’ são ainda mais remotas.

Por que o Congresso protegeu alguns programas públicos até agora? Em outras palavras: por que 2 setores do governo controlados pelo mesmo partido trataram o financiamento para a mídia pública de maneira tão diferente?

Há algumas razões. Um orçamento presidencial é essencialmente uma ferramenta de mensagens nos dias de hoje, uma forma de mostrar aos seus apoiadores que você está encaminhando suas prioridades; O Congresso tem que decidir para onde todo esse dinheiro irá. Quase todos os membros do Congresso têm uma estação de rádio ou TV pública em seu distrito; qualquer transição da retórica para a realidade seria sentida na Casa. Mas também é porque a transmissão pública é realmente muito popular e muito confiável para os americanos.

No mês passado, a PBS (Public Broadcast Service) foi ranqueada como a instituição americana mais confiável pelo 16º ano consecutivo. (É uma pesquisa patrocinada pela PBS, mas outras evidências confirmam esse resultado). Estudoda Pew Research Center de 2014 descobriu que, entre 36 organizações de notícias nacionais, a NPR (National Public Radio) e a PBS terminaram no 3º e no 4º lugares, respectivamente, em 1 dos mais confiáveis rankings; estudo de 2017 da Universidade de Missouri classificou-os como o 5º e o 6º entre 28 grandes veículos jornalísticos.

Isso é confiança –e quanto ao preconceito? Uma pesquisa da Knight-Gallup no ano passado descobriu que, de 17 organizações de notícias, a PBS e a NPR ficaram em 1º e 2º lugares em número de pessoas que disseram que “não são tendenciosas”. E, enquanto democratas dizem que são menos preconceituosos do que os republicanos –algo que é verdade em quase todos os jornais–, os republicanos os consideram próximos aos piores criminosos, ranqueando a PBS em 5º e a NPR em 9º lugar.

Então, o corte anual do CPB de Trump é 1 teatro Kabuki que não ameaça o financiamento para a transmissão pública. Mas eu me preocupo com o impacto de longo prazo dessa dança anual. Há 1 grande corpo de pesquisa em ciências políticas que mostra que a opinião pública sobre 1 determinado assunto varia dependendo de quão intimamente ligado ele está das identidades partidárias das pessoas –e cada orçamento de “declaração” reforça 1 pouco mais o apego pela mídia pública.

Digamos que você tenha perguntado a 1 grupo de conservadores e liberais sobre 1 assunto –vamos chamá-lo de ‘política X’. Então imagine que você perguntou a um 2º grupo semelhante sobre o mesmo assunto, mas desta vez acrescentando contexto partidário: “Barack Obama apoia fortemente a Política X. Donald Trump se opõe fortemente à Política X”. Mesmo que esses 2 grupos tenham entrado na sala com visões exatamente idênticas, você obterá respostas diferentes –porque a 2ª foi preparada para ver a questão através de uma lente partidária. Se eles sabem qual é a posição “correta” no espectro político com o qual se identificam, é mais provável que a apoiem (Philip Converse chamou isso de saber “o que acontece com o quê”).

Por exemplo, era comum conservadores e liberais pensarem que as faculdades e universidades geralmente têm 1 efeito positivo na sociedade. Não foi uma questão particularmente partidária ou ideológica. Mas, como as faculdades se tornaram mais importantes, como uma questão política –sendo atraídas cada vez mais para as questões da guerra cultural e descritas como lar de elites fora do alcance pela mídia conservadora–, os republicanos mudaram de lado. Em 2015, 54% dos republicanos e 70% dos democratas acreditavam que o ensino superior era uma influência positiva. Mas, em 2017, o apoio republicano caiu para apenas 36% (democratas estavam firmes em 72%).

Então, toda vez que Trump corta o CPB de 1 orçamento, ele aumenta a importância política da radiodifusão pública como 1 problema. Encoraja as pessoas a pensar na PBS e na NPR como “republicanos” e “democratas”, não como “mãe solteira que gosta de deixar seu filho assistir PBS Kids” ou “pai que gosta de programação educacional da PBS” ou “pai suburbano que é 1 pouco afim de Wait, Wait…Don’t Tell Me!” ou “passageiro que acha o programa Morning Edition a única coisa tolerável na grade”. A mídia pública sempre foi, em diferentes graus, uma questão partidária, que remonta aos dias em que Richard Nixon tentou matá-la. Mas, na era atual de polarização política extrema, encorajar as pessoas a pensar em algo como partidários em vez de usuários leva muitos deles para o seu espectro político. A melhor coisa que poderia acontecer com a NPR e a PBS seria ser considerada chata, uma utilidade.

Lembra que a pesquisa patrocinada pela PBS descobriu que a TV pública era a instituição mais confiável dos Estados Unidos pelo 16º ano consecutivo? Pois é, ela é verdadeira: 29% dos entrevistados disseram que confiam na PBS “muito”, mais do que no sistema judiciário (17%), plataformas digitais (15%), TV a cabo comercial (14%) e TV comercial aberta (12%).

Mas dê uma olhada em como esse número de “confiança exacerbada” mudou, antes e depois de Trump iniciar sua campanha:

Esse é o tipo de tendência que você veria se mais norte-americanos assistissem à transmissão pública por meio de uma lente ideológica, em vez de uma veiculação cívica ou orientada pelo usuário. E mesmo que os orçamentos de Trump não afetem a política, eles contribuem para mudanças na opinião pública que 1 dia poderia acontecer.

 

*Joshua Benton é diretor de jornalismo do Nieman Lab

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