Horas depois de tomar posse como o 47º presidente dos Estados Unidos, o republicano Donald Trump enviou um recado claro ao Brics. “Acho que os Brics estavam tentando prejudicar os Estados Unidos”, afirmou durante uma coletiva à imprensa na Casa Branca, enquanto assinava os primeiros atos de seu governo. “Se fizerem isso, não ficarão felizes com o que vi acontecer.”
A advertência vem na esteira da crescente tensão comercial entre americanos e chineses. Durante a campanha presidencial, Trump defendeu a imposição de sobretaxas de importação de 100% para os produtos da China, e de 60% para os demais países. O objetivo seria estimular a produção da indústria americana.
As declarações geraram o temor de que o republicano baixasse um tarifaço já nas primeiras horas de governo – algo que não foi concretizado, pelo menos, por enquanto. Durante a coletiva de ontem à noite, Trump acrescentou que os Estados Unidos não mantêm “bons acordos comerciais” com “a maioria” dos Brics. “Temos um déficit com quase todos”.
O republicano, contudo, demonstrou pouco conhecimento sobre o assunto, e chegou a sugerir que a Espanha integrasse o bloco – o que não é verdade. Ele também fez mistério sobre quais nações mais prejudicariam a economia americana, porque isso permitiriam que se preparassem contra eventuais sanções.
A advertência chega também em um momento delicado para o Brasil, que assumiu a presidência rotativa dos Brics em 1º de janeiro. Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do país, atrás apenas da China. As relações entre Trump e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, contudo, devem ser frias, a julgar pelos primeiros sinais da Casa Branca.
Embora não seja praxe que chefes de Estado participem da cerimônia de posse dos presidentes americanos, Trump convidou líderes alinhados à extrema-direita, como o argentino Javier Milei e a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni. Segundo a chancelaria brasileira, espera-se que Brasil e Estados Unidos mantenham uma relação “pragmática”, pautada nos interesses comuns.
O bloco de países era composto originalmente por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Em 2023, Irã, Egito, Etiópia e Emirados Árabes Unidos se juntaram formalmente ao grupo. Na ocasião, a entrada da Arábia Saudita também foi aprovada, mas o país não aceitou oficialmente o convite.
No último dia 17 de janeiro, os Brics acrescentaram mais sete: Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Nigéria, Tailândia, Uganda e Uzbequistão.