Regime já dá sinais de colapso. Há relatos de retirada de tropas de Homs e dos subúrbios da capital, Damasco. Rebeldes teriam tomado quase todo o sudoeste do país em 24 horas.Rebeldes que querem destituir o governo do ditador Bashar al-Assad na Síria lutavam neste último sábado (7) pelo controle de Homs, cidade estratégica para a manutenção do regime, e avançavam em direção à capital, Damasco, numa ofensiva-relâmpago que, segundo emissários do Ocidente, pode ser concluída já na semana que vem.
A ofensiva dos rebeldes teve início na semana passada, com a tomada de Aleppo. Desde então, as linhas de defesa do governo sírio têm desmoronado numa velocidade surpreendente e inédita em 13 anos de guerra civil, reavivando um violento conflito que parecia encerrado e ameaçando uma dinastia de cinco décadas, bem como a influência do Irã na região, principal aliado de Assad.
Fontes governamentais ouvidas sob condição de anonimato pela agência de notícias Reuters afirmam ver no rápido avanço rebelde um sinal de que o regime de Assad está à beira do colapso. Um representante do governo americano estima que isso possa ocorrer daqui a entre cinco e dez dias; outro prevê que Assad poderia cair já na semana que vem.
Em Homs, o próprio Exército sírio já teria desistido de defender a cidade, segundo a Reuters. Um militar sírio afirmou à agência que dezenas de combatentes da Radwan, a tropa de elite do Hezbollah (braço do regime iraniano no Líbano e aliado de Assad), fugiram da cidade por causa disso.
A informação de que as tropas de Assad teriam abandonado Homs também foi confirmada por observadores e um veículo de imprensa leal ao governo. O Exército sírio, contudo, nega.
Homs é lar de uma minoria alauita, grupo étnico-religioso do qual Assad faz parte, e fica próxima à fronteira com o Líbano e o Iraque. A cidade está estrategicamente situada na principal rota que conecta o centro da Síria à capital Damasco, e dá acesso a uma base naval e aérea russa – o governo de Vladimir Putin é outro aliado importante de Assad.
Insurgentes afirmam ter tomado conta de praticamente todo o sudeste da Síria em 24 horas e estarem às portas de Damasco, de onde as forças do governo também teriam se retirado – o Exército sírio nega.
Manifestantes saíram às ruas nos subúrbios de Damasco destruindo imagens de Assad e a estátua do pai dele, o ex-presidente Hafez al-Assad, sem serem reprimidos pelas forças de segurança.
A agência de notícias do governo, porém, afirma que Assad continua em Damasco, e que o Exército estava reforçando as defesas na capital e no sul.
Guerra civil envolve interesses de diversos países
A guerra civil na Síria, que começou em 2011 como um levante contra o regime de Bashar al-Assad, envolveu grandes potências estrangeiras, alimentou o terrorismo jihadista e forçou milhões de refugiados a buscarem refúgio no exterior.
Durante muitos anos, Assad dependeu da ajuda de aliados para conter os rebeldes. Aviões de guerra russos conduziram bombardeios, enquanto o Irã enviou tropas aliadas, incluindo o Hezbollah libanês e milícias iraquianas, para reforçar o Exército sírio e atacar redutos insurgentes.
No entanto, desde 2022, a Rússia tem focado na guerra na Ucrânia, e o Hezbollah sofreu grandes perdas em sua própria guerra desgastante contra Israel, o que reduziu significativamente sua capacidade, assim como a do Irã, de apoiar Assad.
Os Estados Unidos têm apoiado forças curdas no norte do país, na fronteira com a Turquia. O presidente eleito Donald Trump, porém, declarou que seu país não deveria se envolver no conflito, e sim “deixar as coisas seguirem seu curso”.
O avanço dos rebeldes tem sido liderado pela aliança islamista Hayat Tahrir al-Sham (HTS), também conhecida como Organização para a Libertação do Levante.
A HTS é herdeira da ex-filial síria da Al-Qaeda, de quem se desassociou em 2016. O grupo, que se notabilizou pelos seus esforços para estabelecer um Estado fundamentalista sob a lei islâmica na Síria, tem tentado moderar sua imagem nos últimos anos, apresentando-se como alternativa viável a Assad.
Em entrevista à CNN na sexta-feira, o líder do grupo, Abu Mohammed Al-Golani, frisou ter como objetivo apenas a derrubada do governo de Assad, cuja família está no comando do país há cinco décadas. Golani falou em “construir a Síria” e repatriar refugiados sírios que hoje vivem no Líbano e na Europa.
Especialistas avaliam que a Turquia esteja apoiando o avanço dos rebeldes como forma de enfraquecer os curdos que controlam o norte da Síria ao longo da fronteira com a Turquia, e que lutam pela autonomia.