Embora a União Brasil pressione o presidente Lula (PT) por trocas no primeiro e segundo escalões, integrantes e dirigentes do partido não garantem que a legenda irá integrar a base do governo caso o petista atenda às demandas.
Em outra frente, uma ala da União Brasil ameaça levar a maior parte dos 59 deputados à oposição caso mudanças não sejam feitas.
A bancada da União Brasil na Câmara, que é alinhada ao presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), negocia com o Palácio do Planalto o Ministério do Turismo e a Embratur (agência de promoção do turismo). Há também pedidos do grupo de Lira para conseguir o comando e diretorias dos Correios.
Esses postos são ocupados por aliados de Lula. A ministra Daniela Carneiro (Turismo) é esposa do prefeito de Belford Roxo (RJ), Waguinho (Republicanos-RJ), que fez campanha para o atual presidente. A Embratur é presidida pelo ex-deputado Marcelo Freixo (PT). E os Correios são dirigidos pelo advogado Fabiano Silva, do grupo Prerrogativas.
As articulações estão mais avançadas para a troca de Daniela pelo deputado Celso Sabino (União Brasil-PA) —apesar de Waguinho tentar nesta semana a última cartada para sustentar sua esposa no cargo.
Nesta segunda-feira (12), o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, admitiu a possibilidade de trocas no primeiro escalão do governo em meio à pressão sobre Daniela.
“Governo é igual a um rali. De vez em quando, durante um rali, você tem que trocar um motorista, um pneu, o que importa é estar no caminho certo. Esse é um governo que tem um caminho, um rumo certo”, disse, afirmando estar “em debate” a discussão com a União Brasil, “que avalia a necessidade de reformulação dos seus indicados”.
O presidente da União Brasil, deputado Luciano Bivar (PE), disse à Folha que o partido não pleiteia nenhum ministério específico, mas considera natural que o governo busque melhorar o ambiente com o Congresso. Ele admitiu, porém, que isso não significa a ida da legenda para a base.
“Isso não implica dizer que qualquer partido que tenha essa ou aquela pasta tenha uma adesão dogmática ao partido eleito”, afirmou Bivar.
Sabino tem dito a aliados que, se assumir o cargo, irá trabalhar para que o partido entre formalmente para a base de Lula. Embora tenha hoje três ministérios, a União Brasil mantém posição independente em relação ao governo. A sigla é criticada pelo entorno do presidente por não entregar votos suficientes no Congresso em pautas do Planalto.
Embora tenham votado para aprovar o arcabouço fiscal, a maior parte da bancada apoiou a derrubada de decretos do saneamento básico, de interesse do governo. Na análise da Medida Provisória que reestruturou a Esplanada, a União Brasil deu votos para o Planalto, mas participou da articulação de Lira para empurrar a matéria até as horas finais do prazo de validade e apoiou a desidratação de estruturas como o Ministério do Meio Ambiente.
A bancada da Câmara elevou a pressão para que o Palácio do Planalto troque Daniela por Sabino. Após ataques de Waguinho ao parlamentar, deputados da União Brasil fizeram um abaixo-assinado pela substituição a ser entregue à ala política do governo.
“Solicito apoio para que a bancada se manifeste repudiando a ação contra o colega e ainda externando nossa deliberação na escolha do Celso Sabino para representar o partido na Esplanada dos Ministérios do governo”, diz a mensagem que circula na bancada. A expectativa é que 50 dos 59 deputados assinem o documento –pouco antes das 18h desta segunda-feira (12), já eram 47.
Waguinho afirmou, também nesta segunda, que seria um erro de Lula trocar uma ministra evangélica por um bolsonarista —Sabino apoiou Jair Bolsonaro (PL) na eleição.
Membros da cúpula da União Brasil avaliam que a estratégia adotada por Waguinho acabou enterrando as chances de a ministra ficar no cargo.
Aliados de Sabino têm ressaltado que, sem a nomeação do deputado, a maioria da bancada da União Brasil na Câmara votará contra pautas do governo. Além disso, afirmam que Lula não foi eleito por causa do apoio de Waguinho, uma vez que o petista perdeu para Bolsonaro em Belford Roxo.
Waguinho está em Brasília e, ainda nesta segunda, esteve em contato com a equipe de Lula em busca de uma reunião com o presidente. A expectativa dele é que o encontro ocorra até terça.
À Folha ele também contou que o chefe do Executivo ligou na semana passada para chamá-lo para uma reunião, quando voltasse das viagens que fez ao Nordeste.
De acordo com o prefeito, será uma conversa entre amigos. “Para ele entender o que está acontecendo, explicar o que ele não sabe. Tem muita falácia. Dizem que a ministra está sendo escolhida pela União Brasil para sair, porque não é do partido. Quem disse que não é? Fica até 2026”, afirmou.
Ainda nesta segunda, Padilha disse ainda não havia definição de conversa entre Waguinho e o presidente, mas classificou como “absolutamente natural o debate” sobre a substituição de Daniela.
“Neste momento, o partido que sinalizou o desejo de avaliar os três ministros indicados pelo partido é o União Brasil, e o governo acolhe isso como natural para ouvir e discutir”, disse.
Daniela pediu ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) desfiliação da União Brasil e negocia a ida ao Republicanos, cuja cúpula resiste a participar do primeiro escalão do governo Lula.
Waguinho utilizou como argumento pela permanência de Daniela o fato de Waldez Góes, ministro da Integração Regional, estar na cota da União Brasil —apesar de ainda ser filiado ao PDT.
O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), disse que uma eventual saída da ministra do Turismo é “mais pertinente” por se tratar de uma pasta que está sob indicação da União Brasil.
Ele vê uma eventual troca no Ministério da Saúde, contudo, como algo “no campo do desejo de quem está pedindo [a saída]”. A pasta está sob o comando de Nísia Trindade e é cobiçada pelo PP.
“Tem a questão do Turismo, por conta da mudança do partido [de Daniela]. Essa é mais pertinente. A da Saúde, sinceramente, acho que por enquanto está no campo do desejo. De quem está pedindo”, disse o líder a jornalistas.
Mais tarde, Wagner disse que o caso de Daniela é um “problema localizado” e não o caso de uma reforma ministerial.
Ele ainda afirmou que “o partido já apresentou seu nome”, em referência ao deputado Celso Sabino.