O produtor oriundo de Unaí, no estado de Minas Gerais, Antonio Mesquita Jiló é proprietário da Fazenda São José com 3 mil hectares e de outros imóveis rurais na região que totalizam cerca de 25 mil hectares, explicou ao #Acesse Política, os aspectos técnicos da produção da fazenda, cujo projeto contempla 1.200 hectares de área irrigada para produção de cultivares de soja, feijão, milho, tomate, uva de mesa, uva vitrificada e agora trigo e abóbora. A comitiva que visitou a fazenda era formada pelo deputado federal João Leão (PP), o prefeito da Barra, Arthur Silva (PP), diversos produtores, secretários, empresários e políticos.
A expectativa do investidor Antônio Jiló, consolidado produtor do município de Unaí-MG e proprietário da Fazenda São José, é de de cultivar três safras anuais sendo mais um projeto em desenvolvimento no Polo Agroindustrial e Bioenergético do Médio São Francisco baiano, em implantação no município de Barra, no Oeste do estado.
De acordo com Jiló, que milhares de ha plantados de soja e milho com tecnologia de pivô central de irrigação e estima até o final deste ano, a agricultura na região do médio São Francisco terá um grande futuro. “Nós acreditamos muito na região, acreditamos até que há a possibilidade de fazer três safras no irrigado e com grande futuro já que temos solo fértil e água em abundância. Temos tudo para ser a nova fronteira agrícola do país, acredito muito mesmo, até na fruticultura, Iniciamos também o cultivo da primeira plantação de trigo do oeste da Bahia”, disse Jiló.
O deputado federal João Leão (PP), considerado o maior entusiasta e desenvolvimentista do Oeste e região do Médio São Francisco, foi vice-governador e secretário do Planejamento da Bahia, e diz acreditar que a adesão de produtores com alta experiência é mais um indicativo do potencial do polo. “Nós temos feito um grande esforço para atrair os investidores para este projeto, do qual não é segredo nenhum que sou um grande entusiasta, e a participação de produtores como Antônio Jiló, que já desenvolve um trabalho de excelência em Minas Gerais, com grande experiência, não nos deixa qualquer dúvida de que o Médio são Francisco em muito pouco tempo será uma potência agrícola. Olha ai gente, o trigo na Bahia, que é uma cultura originalmente de clima temperado, que há décadas passadas era produzido quase exclusivamente na região Sul do Brasil, hoje graças à inovação agropecuária brasileira é possível cultivar no cerrado brasileiro, inclusive no Nordeste e em parte da região da caatinga. Isso mostra, a exemplo de outras culturas como a soja, que com inovação é possível expandir a produção agropecuária e, sobretudo, ofertar mais alimento na mesa do consumidor e do cidadão brasileiro, sem falar da exportação ao exterior”, afirma Leão.
A iniciativa, que ainda este ano deve iniciar a colheita de trigo na Bahia, a produção de uvas de mesa, com projeto para a industrialização e produção de suco começou em 2023 e já emprega aproximadamente 180 pessoas na região e estima-se que o número pode subir para 2,2 mil empregos diretos e indiretos, quando em pleno funcionamento.
A unidade contou com investimentos privados da ordem de R$ 40 milhões, além R$ 5 milhões em investimentos públicos na infraestrutura energética e nas estradas de acesso à unidade de beneficiamento. O faturamento anual estimado para o empreendimento em pleno funcionamento é de R$ 25 milhões.
O Oeste baiano faz parte do Matopiba, grande fronteira agrícola nacional da atualidade que integra o Cerrado do Maranhão, do Tocantins, do Piauí e da Bahia, sendo responsável por grande parte da produção nacional de grãos como soja e milho, e de fibras como o algodão.
Na região, o trigo é plantado em sistema irrigado, em rotação com a soja, o milho ou o algodão sob pivô, cultivos voltados à produção de sementes ou plumas, respectivamente. Nesses sistemas, o trigo atua quebrando ciclos de pragas e doenças, além de reduzir a infestação de plantas daninhas e de deixar, após a colheita, uma palhada de boa qualidade. Já o trigo em sistema de sequeiro, apesar de ser pontualmente testado por alguns produtores, praticamente não era cultivado devido ao maior risco representado pelos solos arenosos da região, que têm menor capacidade de retenção de água, mas com as novas tecnologias, isso mudou.
Segundo da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e Embrapa, as condições climáticas e geográficas favoráveis ao cultivo do trigo irrigado no Oeste baiano são semelhantes às do Brasil Central (Distrito Federal, Goiás e Minas Gerais), local onde foram selecionadas as cultivares da Embrapa para o Bioma Cerrado. Temperaturas elevadas durante o dia e amenas à noite, dias com alta luminosidade e altitudes que variam de 600 a 1.000 metros são fatores que influenciam positivamente na produtividade e na qualidade industrial dos grãos, considerada uma das melhores do mundo.
As recomendações de plantio, de manejo e de controle de pragas e doenças da cultura para a região se assemelham às preconizadas para o Brasil Central, sendo também a brusone a doença mais recorrente. “Com os mesmos cuidados preventivos e recomendações, os produtores têm conseguido escapar da doença ou minimizar os seus efeitos”, afirma o pesquisador da Embrapa Cerrados.
“A nossa perspectiva é de que, com o avanço do trigo tropical na região do Cerrado e no Nordeste Brasileiro, esperamos em um horizonte de tempo de curto prazo, deixarmos de importar trigo e, por que não, pensarmos até em exportar trigo para o mundo”, afirma o produtor Antônio Jiló.
Opção para o produtor
Osvino Fábio Ricardi, proprietário da Fazenda Savana, em Riachão das Neves (BA), acredita no aumento da área plantada de trigo no Oeste da Bahia nos próximos anos. “A tendência é de aumento porque a área com agricultura irrigada está aumentando e o trigo é uma opção para a rotação de culturas. Não é a cultura mais rentável, mas é rápida e tranquila”, afirma, destacando a qualidade do grão colhido na região, que tem peso do hectolitro (PH) que indica boa qualidade.
O principal limitante à produção do trigo no Oeste baiano era a comercialização, já que os moinhos mais próximos de Luís Eduardo Magalhães, um dos municípios produtores do cereal na região, estão no Distrito Federal, a 550 km, e em Salvador, a 960 km, o que encarece o frete. Por isso, os grãos são comercializados para moinhos do DF, de Anápolis e Goiânia (GO) e de Estados do Nordeste. “Neste ano, houve moinhos de Maceió (AL) que buscaram trigo no Oeste da Bahia”, lembra o pesquisador Jorge Chagas, da Embrapa Trigo (Passo Fundo, RS).
Mas a situação vai melhorar em breve. Um moinho está em construção em Luís Eduardo Magalhães e há empresas moageiras do Paraná, de São Paulo e de Salvador (BA) interessadas em atuar na região, uma vez que o preço do trigo importado tem aumentado em consequência a alta do dólar – atualmente, o trigo FOB (sigla para free on board ou “livre a bordo”) tem sido cotado a R$ 1.100/ton, em média.