Um carro de R$ 5,5 milhões não é investimento, mas um trator nesse preço sim. Este é o preço do Case Quadtrac 715, o trator mais potente do mundo conforme reportagem de
, da Quatro Rodas, que tem a eficiência que pode proporcionar como razão de existir. É uma máquina que, na condição de uso ideal, dá lucro.Difícil pode ser encontrar essa condição ideal. O Quadtrac pertence à mesma família do Case Steiger, que conhecemos há dois anos. Também é um enorme trator articulado mas que, em vez de um conjunto de oito rodas e pneus, é equipado com quatro esteiras de borracha. É isso que o torna tão peculiar.
Não é à toa que tanques de guerra costumam usar esteiras (ou lagartas). Em solos mais úmidos, os pneus tendem a arrastar ou destracionar com maior facilidade. Pior que isso: danificam mais o solo, comprometendo a área por onde passam com a compactação. Outra vantagem é ser mais estreito, com 3 m de largura.
Além disso, como proporciona mais tração naturalmente, dispensa o uso dos enormes lastros usados nas versões com pneus para conseguir despejar toda a força do motor no solo.
Pudemos pilotar a única unidade do Case Quadtrac que está no Brasil. Foi importada dos Estados Unidos para estar na Agrishow, em maio, e passar por demonstrações e testes para poder ser oferecido a clientes brasileiros que demandarem uma máquina tão específica.
Suas esteiras têm 30 polegadas de largura, o que aumenta a área de contato com o solo. Mesmo pesando 34 toneladas, a área de contato é tão grande que a distribuição de peso é equivalente a de um adulto de 100 kg em um pé só: 0,5 kg/cm². Ou seja, é mínimo.
Reservatório de vidro contém óleo lubrificante para os rolamentos da esteira (Fernando Pires/Quatro Rodas)
Ao mesmo tempo, as ranhuras e toda a movimentação da esteira evita o acúmulo de terra e, como todas as esteiras são iguais, a distribuição de força entre os eixos também é exatamente igual. A distribuição de peso, também.
Este é um dos segredos: com as esteiras o Quadtrac realmente consegue usar toda a sua força, se necessário, sem patinar, ou trabalhar com mais folga, reduzindo o consumo numa operação de arrasto de plantadeira, por exemplo.
Um Quadtrac é capaz de cobrir uma área equivalente a 20 campos de futebol por hora. Pode puxar uma plantadeira de 61 linhas, a maior disponível, com 28 m de largura, com alguma folga.
Desta forma, faz o mesmo trabalho de três tratores médios mais rápido e com custo operacional menor. Isto é especialmente importante para lidar com as mudanças climáticas, que estreitam as janelas de plantio e colheita ideais para o melhor aproveitamento da lavoura.
Contudo, a borracha desgasta mais rápido e custa caro por ser importada: R$ 330.000 para as quatro, equivalente ao mesmo custo de trocar todos os oito pneus de um Steiger. Os pneus, porém, têm maior durabilidade.
Trator-tanque
Estamos falando de um trator que na parte traseira tem um tanque com 1.948 litros de diesel e 322 litros de fluido hidráulico, que é fundamental para movimentar qualquer implemento agrícola montado nele e até mesmo para o funcionamento da articulação central que faz com que mude sua direção. Há dois pistões hidráulicos, um de cada lado, que fazem com que o Quadtrac se “dobre”.
E quem demanda tanto combustível é um motor Cursor 16, um seis cilindros biturbo, com um turbocompressor para regimes mais baixos e outro para regimes mais altos. É um motor também utilizado em embarcações de médio porte e que no Quadtrac gera 715 cv em funcionamento normal e até 778 cv quando necessário. O torque é de 342 kgfm.
O curioso é que, para que seu maior desempenho seja garantido, existe até um radiador para o óleo diesel. Isso porque, se o combustível aquecer demais dentro do tanque ao longo do dia, o desempenho do trator será reduzido.
O que mais importa é, mesmo, a força. São os módulos eletrônicos que gerenciam a entrega de acordo com a necessidade, com o tanto de força necessário para arrastar o implemento e manter a velocidade necessária. Isso inclui a rotação do motor e a marcha – seu câmbio full-powershift, automatizado, tem 16 marchas à frente e duas à ré.
No Brasil, a velocidade máxima do Quadtrac é limitada a 40 km/h por lei. Na Europa, pode chegar a 50 km/h mas uma nova legislação poderá aumentar a velocidade máxima para 70 km/h.
Como o Steiger, o Quadtrac tem cabine ampla e bastante confortável e a suspensão está nela, com quatro amortecedores, molas e até barra panhard. Além disso, há suspensão no banco que ainda tem ventilação, aquecimento e gira 45° para permitir a visibilidade do implemento. O joystick que comanda todo o funcionamento do motor acompanha o banco.
O mais interessante nisso é que as esteiras também tornam a rodagem do trator mais confortável e estável. O sacolejo é menor e a operação da direção é mais precisa. Também surpreende a manobrabilidade: o raio de giro é de 5,7 m, até menor que o de algumas picapes médias.
O operador tem acesso a duas telas. Uma na coluna dianteira funciona como quadro de instrumentos. Outra maior, ao alcance das mãos, é uma central de comandos. Controla tudo, das luzes ao rádio e ar-condicionado, além de exibir imagens das câmeras. A frontal, inclusive, é providencial: o enorme capô, que pesa cerca de 450 kg, também toma bastante do campo de visão do trator.
Com o sistema de automação da Case, chamado AFS, é possível mapear toda a lavoura e criar caminhos predefinidos para que o trator siga de forma autônoma, exigindo o operador apenas na hora de manobrar. Também há serviço de telemetria, para que o trabalho e as condições técnicas da máquina possam ser acompanhados remotamente.
Não é muito diferente do que uma equipe de Fórmula 1 tem à disposição para acompanhar seus carros na pista. E, por incrível que pareça, o desempenho também é importantíssimo para este enorme trator.