Rui Costa tentou conter danos com um jogo de palavras: disse “intervenção”, queria dizer “medidas”.
Na manhã de quarta-feira (22), o chefe da Casa Civil da Presidência, Rui Costa, anunciou que o governo Lula prepara “um conjunto de intervenções que sinalizem para um barateamento dos alimentos”.
Rui Costa é economista e sabe que esse tipo intervenção governamental significa controle de preços, registra o colunista José Casado, da Veja. Sabe, também ainda conforme a revista, que essa foi uma tentação recorrente em diferentes governos nas décadas de superinflação — e todos fracassaram.
O problema não é novidade no atual governo. Na quinta-feira 14 de março do ano passado, Lula se reuniu com Rui e os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Carlos Fávaro (Agricultura) e Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário) para definir medidas capazes de induzir um “barateamento dos alimentos”.
Na época, já se contavam sete meses de alta contínua nos preços. Foram anunciados “incentivos” à produção de trigo, milho, mandioca, feijão e até a “desconcentração” do plantio de arroz dos campos do Sul para as terras do Centro-Oeste, com o argumento de redução dos custos de transporte.
Se passaram mais nove meses. Nada aconteceu e 2024 terminou com 78% dos eleitores se queixando do peso cada vez maior do custo dos alimentos no orçamento familiar — como mostrou pesquisa do instituto Quaest.
Para os mais pobres a situação é mais complicada, demonstra o Dieese, organismo que Lula ajudou a criar nas batalhas sindicais de recuperação salarial dos anos 1970.
Em São Paulo, o custo de uma cesta básica de alimentos em dezembro consumia pouco mais de 64% do salário mínimo líquido, descontados tributos. Em outras oito capitais, o preço da cesta ultrapassava 55% do valor da remuneração mínima.
Alertado para o estrago provocado pelo anúncio de intervenção governamental nos preços, o chefe da Casa Civil saiu em campo para tentar conter os danos.
Rui Costa se amparou em um jogo de palavras, diz a Veja: disse “intervenção”, queria dizer “medidas”. Assim, fica entendido que o governo Lula prepara “um conjunto de medidas que sinalizem para um barateamento dos alimentos”. Quais “medidas”, não se sabe, nem ele explicou.
No fim do dia, o chefe da Casa Civil da Presidência havia semeado mais desconfiança. Expôs o governo numa circunstância de fragilidade: talvez saiba onde quer chegar, mas está sem bússola e, por consequência, sem rumo, em meio a uma crise de credibilidade sobre o horizonte da economia. Nem a oposição “molequeira”, como ele costuma dizer, faria trapalhada melhor.