A visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Pará, no último sábado (17) confirmou o momento de protagonismo de um clã local que tem recuperado a influência na política nacional: os Barbalho. Na passagem pelo estado, governado desde 2019 por Helder Barbalho (MDB), Lula oficializou Belém como sede da COP30, a importante conferência da ONU para discussão de mudanças climáticas, que ocorrerá em 2025. O petista também participou, em Abaetetuba, no interior, da entrega de novas unidades do Minha Casa, Minha Vida, retomado em sua gestão pelo cobiçado Ministério das Cidades, agora comandado pelo irmão de Helder, Jader Barbalho Filho. Ao discursar na capital, Lula afagou os irmãos, filhos do senador Jader Barbalho e da deputada federal Elcione Barbalho, ambos do MDB, e disse segundo João Pedroso de Campos, da Veja, que as articulações de seu governo para levar a cúpula do clima à cidade foram uma forma de compensar o Pará por não ter sido escolhido como sede da Copa do Mundo de 2014. A compensação incluiu, ainda, o anúncio de diversos investimentos em infraestrutura para preparar Belém para o evento.
Em meio a essa demonstração explícita de prestígio da família Barbalho, ficou claro também como o membro mais novo do clã vem merecendo mais holofotes. Aos 44 anos, Helder é tido no entorno de Lula como um aliado estratégico entre governadores. Reeleito em 2022 em primeiro turno, com 70,4% dos votos, a maior votação no Brasil, ele construiu uma aliança com dezesseis partidos, do PT ao PP, que lhe garantem maioria folgada para governar. Em Brasília, o seu peso veio com a eleição de uma bancada de catorze deputados entre as dezessete cadeiras em disputa, nove ocupadas pelo MDB — o melhor desempenho no partido no país. Também é considerável o poder de fogo nas mãos de Jader Filho. Com orçamento de 23 bilhões de reais, a pasta conduz o Minha Casa, Minha Vida, que prevê entregar 2 milhões de moradias até 2026. “Quando um ministro do MDB desempenha bem, isso facilita a visibilidade do partido numa área muito visada”, diz o presidente do MDB, Baleia Rossi.
Não por acaso, a indicação à pasta, que também se ocupa de saneamento e mobilidade urbana e tem grande influência junto a prefeituras, foi disputada por aliados de Lula como PSB e PSOL. A escolha acabou nas mãos da bancada do MDB na Câmara, onde os paraenses são maioria. “Politicamente, só posso festejar que a relação com o governo seja respeitosa, próxima e cada vez mais estreita”, diz o patriarca Jader Barbalho. A influência deve aumentar com a virtual nomeação do deputado Celso Sabino (União-PA) ao Ministério do Turismo, com o apoio do clã. O futuro ministro retribui ao apontar Helder como um promissor líder nacional: “Se for da vontade dele e do partido, acho que tem musculatura para fazer uma construção nessa direção, não sei se para 2026 ou 2030”.
Embora cogitado a voos maiores e bem avaliado — em Belém, tem 68,5% de aprovação em junho, segundo o Paraná Pesquisas —, Helder tem desafios pela frente. A COP30 trará holofotes sobre os históricos problemas ambientais do Pará, que desde 2006 lidera o ranking de destruição da Amazônia. Em 2019, no primeiro ano de sua gestão, a área desmatada avançou 52%. O garimpo ilegal também é problema. Só o município de Itaituba foi responsável por 81% do ouro ilegal escoado no país entre 2019 e 2020. A gestão ainda se vê às voltas com o desempenho pífio em indicadores sociais, como o do ensino médio público — o segundo pior Ideb do Brasil em 2021. Na segurança pública, embora no geral tenha havido redução nos assassinatos, o Pará tem sete dos trinta municípios com os maiores índices entre 2019 e 2021.
A longevidade do clã Barbalho tem muito a ver com o MDB, partido que fez oposição à ditadura e foi central em todos os governos democráticos. Em seu terceiro mandato no Senado, Jader tem tido uma atuação discreta, mas mantém influência nos bastidores e no partido. No auge, foi governador do Pará duas vezes, presidente do Senado e acumulou suspeitas. Renunciou ao mandato em 2001 para evitar um processo de cassação. Uma reportagem de capa de VEJA, em outubro de 2000, mostrou que ele acumulara um patrimônio de 30 milhões de reais depois de entrar na política. Como Jader, vários líderes do MDB foram envolvidos em escândalos variados, mas boa parte deles não sobreviveu. O clã Barbalho é uma exceção e os filhos do patriarca representam a nova cara dessa tradicional linhagem. No plano nacional, Helder é visto como uma das apostas do MDB em lideranças capazes de levar a sigla a retomar o protagonismo político. Assim, a “República familiar do Pará” ganha cada vez mais espaço, poder e influência.
Publicado em VEJA de 28 de Junho de 2023, edição nº 2847