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Lula e Sérgio Moro - Foto: Edilson Junior | Marcelo Camargo/Agência Brasil
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quarta-feira 22 de março de 2023 às 13:50h

Timing de frase infeliz de Lula sobre Moro esquenta teorias da conspiração

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Conforme lembra Leonardo Sakamoto, em sua coluna no Uol,  o timing não poderia ter sido pior para o presidente Lula. Um dia após ele afirmar que queria “foder esse Moro” quando estava preso na carceragem da Polícia Federal por conta de uma condenação da Lava Jato, uma ação da PF, coincidentemente, desarticulou nesta quarta-feira (22) um plano do PCC para sequestrar e matar autoridades, entre eles o ex-ministro da Justiça e senador Sergio Moro (União Brasil-PR).

Isso desencadeou uma onda de teorias conspiratórias de bolsonaristas contra Lula, como se ele fosse responsável pelos planos contra o senador. Moro estaria na lista do PCC por transferências de lideranças de presídios e por uma portaria que restringia visitas intimas quando ele era ministro da Justiça.

“De vez em quando ia um procurador, entrava lá de sábado, dia de semana, para perguntar se estava tudo bem. Entravam três ou quatro procuradores e perguntavam: está tudo bem? [Eu respondia que] não está tudo bem. Só vai estar tudo bem quando eu foder esse Moro”, afirmou em entrevista à TV 247.

Compreende-se que Lula nutra sentimentos negativos pelo ex-juiz federal que ajudou Jair Bolsonaro a virar presidente ao tirar o petista da eleição de 2018 ao manda-lo para a cadeia por 580 dias. Mas hoje ele é presidente da República e Moro, senador da oposição. Declarações desnecessárias como essa têm suas consequências.

Na tarde desta terça, após a entrevista ser veiculada, a vontade de Lula de “foder” Moro estava entre os assuntos mais comentados no Twitter. Mesmo que parte da extrema direita não goste do ex-ministro da Justiça por ele ter deixado o governo de Bolsonaro acusando o chefe de interferir na PF para seus interesses pessoais, o apoio a ele foi maciço pela possibilidade de atacar Lula.

Moro afirmou, em entrevista à CNN, nesta terça, que “o presidente feriu a liturgia do cargo por utilizar palavreado de baixo calão” e que isso estava sendo “utilizado como forma de desviar o foco dos fracassos do governo federal”.

Mas o mais importante foi outra parte do comentário. “Quando o presidente usa essa linguagem ofensiva contra mim, a meu ver ele gera até um risco pessoal para mim e minha família”, disse.

Quando afirmou isso já sabia do plano do PCC contra ele. Tanto que o seu colega Rogério Marinho (PL-RN), líder da oposição no Senado, afirmou ao UOL, nesta quarta (22), que ele e sua família estavam sendo acompanhados pela PF há um mês. Outros alvos também contavam com proteção de autoridades.

É difícil imaginar que a resposta de Moro à CNN não tenha levado em consideração que uma investigação por ameaças contra ele vindas do PCC estava em curso pela Polícia Federal. Nesse sentido, sua declaração deixou uma conexão a ser preenchida pelo bolsonarismo, que vive à base de teorias da conspiração.

E eles efetivamente fizeram isso na manhã de hoje, bombando a mentira que Lula se aliou ao PCC contra Moro. Como já existe outra fake que liga a cúpula do PT a essa organização criminosa, tudo fez sentido para cabeça de muita gente que vive de mentira.

Nos bastidores do governo em Brasília, há quem acuse o timing para desbaratar a operação como “perfeito demais”, um dia após as declarações infelizes de Lula. Mas isso está no campo da especulação. O que está no campo concreto é que o presidente falou demais. E, agora, há ate parlamentar discutindo coisas surreais, como um pedido de impeachment de Lula por ameaça a Moro.

Durante entrevista à TV 247, ele chorou ao lembrar dos 580 dias em que permaneceu preso na carceragem da PF em Curitiba. Posteriormente, o Supremo Tribunal Federal anulou as condenações por vícios nos processos e considerou que o então juiz federal Sergio Moro foi parcial no julgamento.

Ficar preso injustamente mexe com cabeça de qualquer um e, justamente, Lula chorou na entrevista por conta disso. Porém, o presidente da República, conhecido por sua espontaneidade, precisa entender que as orientações que recebeu durante a campanha eleitoral do ano passado continuam valendo: tudo o que ele disser será usado contra ele.

Ainda mais quando ele der motivo para isso, finaliza Leonardo Sakamot.

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