Uma cidade com um orçamento bilionário, sede de um dos principais polos industriais do país, com uma base eleitoral de 205 mil eleitores e uma posição geográfica estratégica que permite ao município influenciar politicamente a região metropolitana, inclusive a capital do estado, como registra Elaine Sanoli na reportagem do Correio da Bahia com orientação do editor Rodrigo Daniel Silva. Essas características fazem de Camaçari um campo de intensa disputa pelo poder entre o vereador Flávio Mattos (União Brasil) e o ex-prefeito Luiz Caetano (PT). Localizado a cerca de 50 km de Salvador, o município vive um momento histórico ao ter pela primeira vez um segundo turno.
Ao atingir a casa dos 200 mil eleitores, Camaçari passou a ter possibilidade do pleito ser decidido em dois turnos, quando nenhum dos candidatos consegue mais da metade dos votos válidos para vencer em votação única. Isto é, 50% mais um voto. No caso camaçariense, Caetano obteve 49,52%, e Flávio Matos, 49,17%. A diferença entre eles foi de apenas 559 votos, o que escancarou uma competição acirrada pelo municipal.
Para o cientista político e professor da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), Cláudio André de Souza, em entrevista ao jornal, o número expressivo de eleitores torna o município um lugar estratégico para os grupos liderados pelo vice-presidente nacional do União Brasil, ACM Neto, e pelo governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT).
Na avaliação dele, Camaçari – que hoje é administrada pelo prefeito Antonio Elinaldo (União Brasil), que já tem dois mandatos – se posiciona como uma das grandes cidades da Bahia, com influência em municípios menores da Região Metropolitana de Salvador, como Dias d’Ávila, Simões Filho, Mata de São João e Lauro de Freitas.
“Essas grandes cidades têm uma magnitude maior de voto, têm mais eleitores e isso é estratégico. Um segundo ponto é que essas cidades acabam sendo um polo, e tendo visibilidade e circulação de pessoas de outros municípios em torno dela. Qualquer grupo político que venha a ganhar a próxima eleição, dia 27, vai estar diante de um grande desafio que vai ser a visibilidade perante o eleitorado baiano”, explica.
O especialista ainda ressalta conforme a publicação, que o prefeito camaçariense pode ser decisivo para alavancar a candidaturas de nomes para os pleitos seguintes de governador, deputado federal e estadual.
Não só é a influência política que faz da região um fator atrativo para as lideranças partidárias, mas também a força econômica. Com o faturamento da ordem de 15 bilhões de dólares anuais (ou R$ 84,56 bilhões), só o Polo Petroquímico de Camaçari colabora com cerca de R$3 bilhões por ano com o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) da Bahia
O consultor e professor de Economia e Finanças, Antonio Carvalho, salienta que por ter um Produto Interno Bruto (PIB) volumoso – de R$ 33 bilhões, o segundo maior do estado -, Camaçari é vista como uma força econômica estratégica para o grupo político que a governa.
“Governar um município como Camaçari é uma posição, no mínimo, confortável para um partido ou grupo político. O município possui baixa dependência dos governos federal e estadual, por seu poder de arrecadação. E, por seu elevado potencial econômico, possui atratividade para as mais rentáveis e disputadas atividades econômicas”, argumenta.
De acordo com o economista Edval Landulfo, 20% das riquezas produzidas pelas indústrias baianas são de responsabilidade de Camaçari. “É quase 30% de tudo que a Bahia exporta e aproximadamente 10% da arrecadação estadual. É um município de destaque não só na Bahia, mas como uma das melhores cidades brasileiras para se fazer negócio na indústria”, acrescenta.
Os concorrentes
No seu segundo mandato como vereador de Camaçari, Flávio Matos foi eleito presidente da Câmara Municipal em 2022. Antes de chegar ao confronto com Luiz Caetano, ele precisou enfrentar uma disputa interna no grupo político pela sucessão de Antonio Elinaldo.
Flávio passou por uma “peneira” ainda segundo o jornal Correio, que tinha outros cinco nomes, e se tornou nome da unidade. Ele concorreu contra José Tude, atual vice-prefeito; Elias Natan, secretário de Saúde; Helder Almeida, diretor-superintendente de Trânsito e Transporte; Júnior Borges, líder do governo na Câmara Municipal; e Jorge Curvelo, dirigente da pasta de esportes.
Do outro lado da moeda, o petista Luiz Caetano é um velho conhecido dos eleitores. Já foi vereador por duas vezes, deputado estadual e governou a cidade por três mandatos (1985 e 1988; de 2005 a 2008; e de 2009 a 2012). As recentes pesquisas mostram que a competição eleitoral permanece disputadíssima em Camaçari.
O Instituto P&A, contratado pelo Política Livre, apontou, no entanto, uma leve vantagem de Flávio Matos (União Brasil) com 50,8% contra 49,2% de Caetano (PT).