Em sua primeira entrevista após o segundo turno, Tereza Cristina, que é deputada federal em segundo mandato, lamentou a derrota de Bolsonaro para o petista Luiz Inácio Lula da Silva, mas disse que o atual chefe do Executivo deve liderar a oposição a partir do ano que vem, unificando seu capital político com forças da direita. A seguir os principais trechos da entrevista.
O agronegócio financia manifestações que acontecem nas estradas do país contra o resultado das urnas?
De jeito nenhum. O que está ocorrendo nas estradas é resultado da indignação das pessoas. Foi uma coisa espontânea das pessoas, de alguns produtores, mas não tem a participação de nenhuma associação, nenhuma instituição, não foi organizado. O agro é um setor que apostou no presidente Bolsonaro desde o início. É natural que haja uma frustração enorme no setor. Ele é um grande líder de direita, estão todos muito tristes, o agro está triste, mas é hora de seguir adiante.
Como a senhora tem visto a postura do presidente Jair Bolsonaro em relação a essas manifestações?
Eu acho que o presidente saiu destas eleições com um capital político enorme, foram mais de 58 milhões de votos. O agro está do lado dele, mas agora é hora de se organizar, de acalmar os ânimos. O que vimos foi uma eleição de dois projetos, foi um plebiscito entre a direita e a esquerda. Passada a eleição, é momento de ter equilíbrio para seguir adiante.
Qual vai ser o papel de Bolsonaro a partir de 2023?
O presidente vai liderar o movimento de direita no País. Ele pode não ter ganhado a eleição, mas ocupará essa posição, com toda certeza. É ele quem vai liderar esse movimento.
Como a bancada do agronegócio vai se posicionar em relação ao governo Lula? Como seria lidar com um Ministério da Agricultura comandado pela senadora Simone Tebet, por exemplo, que está cotada para assumir a pasta?
Numa democracia, mesmo sendo oposição, temos de estar abertos a dialogar, para trabalhar pelo setor. O Brasil precisa do agro, independentemente de quem estiver à frente do governo. É um setor moderno, sustentável. Seja o governo que for, tem de entender a importância disso. Evoluímos muito no agro durante o governo Bolsonaro, temos hoje uma posição de destaque interna e externamente.
A senhora é cotada para concorrer à presidência do Senado no ano que vem. Como vê essa possibilidade?
Acredito que é cedo para falar disso, mas recebo essa afirmação com muita honra. Sou grata pela minha eleição para o Senado, é muita satisfação. Fora isso, tudo mais será uma negociação que vai se dar agora. Essa bola ainda vai ser jogada.
Mas pretende se candidatar ao comando do Senado?
Não posso dizer isso. Qualquer decisão depende do partido, de muitas negociações que ainda vão ocorrer.
O agronegócio tem projetos prioritários para serem votados no Congresso e havia apreensão sobre essas votações com uma eventual vitória de Lula, que se confirmou. Como fica o andamento dessas pautas?
Temos uma bancada do agronegócio para organizar as pautas que lhe são caras, e que podem vir a ter um viés diferente do que se previa. Tudo começará a ser tratado imediatamente. Vamos tratar disso de perto. É importante que elas sejam colocadas. Temos o compromisso do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, de pautar esses projetos depois das eleições. O projeto do autocontrole (dos produtos agrícolas), por exemplo, é muito bom e deve ser aprovado. Temos também os projetos do licenciamento ambiental e da regularização fundiária. O tempo é curto, mas, se tivermos um bom entendimento, é possível avançarmos nestas aprovações ainda neste ano. A Comissão de Agricultura está movimentada. Nesta próxima semana, já vamos começar a discutir o orçamento para o Ministério da Agricultura e os programas prioritários, vamos convocar a reunião já a partir da próxima segunda-feira.