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segunda-feira 24 de agosto de 2020 às 17:40h

‘Temos diálogo com Trump, mas não conseguimos com Bolsonaro’, diz ministro da Venezuela

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O ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Jorge Arreaza, falou com a coluna de Bela Megale, sobre a carta que enviou ao chanceler, Ernesto Araújo, em que pediu uma trégua pelas “profundas diferenças políticas e ideológicas” entre os dois países, para combater a covid-19. Arreaza afirma que 20 dias depois e encaminhar o documento, ainda não recebeu resposta e chama a falta de diálogo do governo Bolsonaro de “infantil e irresponsável”.

A Venezuela teve resposta à carta que o senhor enviou ao Brasil?

A carta é de 7 de agosto e não recebemos nenhum tipo confirmação de recebimento. Mas soubemos de fontes internas do Itamaraty que ela chegou ao chanceler Ernesto Araújo e que ele decidiu não responder. É uma atitude muito irresponsável. É muita falta de ética, em um momento tão delicado para humanidade, para o Brasil e para a Venezuela. Mas isso não nos causou estranheza, pelas características um pouco primitivas do governo de Brasil.

O Itamaraty, portanto, ignorou o contato.

Sim. É muito lamentável que o Itamaraty, que era uma escola para a diplomacia mundial, esteja nessa situação tão decadente neste momento. Sei que não é o Itamaraty, é o ministro das Relações Exteriores e sua equipe direta, porque a diplomacia brasileira está em resistência. Nós insistimos que é o momento de colocar a arrogância e as diferenças de lado. Temos que pensar em nosso povos, cumprir com a constituição de Brasil e Venezuela. O direito internacional também obriga as nações a cooperarem em situações de emergência. Assim, reiteramos nossa vontade de trabalhar em conjunto. As diferenças ideológicas são infantis, este é momento de deixarmos de lado qualquer tipo de diferença e fazer diplomacia séria para nossos povos.

O governo da Venezuela conversa com o governo Trump?

Sim, temos canais de comunicação com os Estados Unidos. Podemos ter diferenças, mas há acesso ao governo de Trump. Temos diálogo com o governo Trump, mas não conseguimos com Bolsonaro, que é um governo irmão, vizinho, aqui mesmo na América do Sul.

Que tipo de cooperação o governo da Venezuela gostaria de fazer com o Brasil?

Toda a cooperação possível. Lembro que há venezuelanos vivendo em Pacaraima, Manaus, em abrigos, além de brasileiros que vivem em várias cidades venezuelanas. Há também brasileiros e venezuelanos em situações ilegais e queremos ajudá-los. Também queremos ver a possibilidade de compartilhar nossas capacidades científicas, os testes para diagnósticos de covid-19, dar atenção especial a brasileiros na Venezuela que não têm nenhuma proteção diplomática. Queremos ajudar aqueles que querem voltar ao Brasil e se unirem novamente às suas famílias. Mas se não há dialogo, é impossível.

O senhor desistiu do diálogo?

Não. Por isso, insistimos. Sabemos que é uma circustância que o Brasil está vivendo, e que vai passar. Mas a pandemia também é uma circunstância e está ocorrendo neste momento. Temos que trabalhar em conjunto.

Na carta, o senhor fala de um passo para uma nova dinâmica de relacionamento. Acredita que isso é mesmo possível?

Temos por obrigação e por ética fazer todos os esforços, pelo povo de Venezuela e Brasil, de ter boas relações especialmente com nosso vizinho, independentemente de quem governa. Nós não gostamos do presidente Bolsonaro, temos dúvida de como foi eleito, de toda utilização das redes sociais para sua eleição, não gostamos de sua política, mas é o presidente do Brasil e é com seu governo que temos que trabalhar até o povo do Brasil tomar decisão. Temos que pensar na vida dos venezuelanos. Morreu Fausto Toledo, o cônsul da Venezuela em Boa Vista (RR). Tivemos que transportá-lo em ambulância de Boa Vista até Santa Helena e não teve nenhuma coordenação bilateral. Vamos insistir até o último momento, para que possamos trabalhar juntos.

O que aconteceu depois de o governo brasileiro encerrar as representações diplomáticas na Venezuela?

Os brasileiros que vêm à Venezuela não têm nenhum tipo de proteção diplomática. É muito lamentável. E nós não temos nenhuma via diplomática com o governo do Brasil. Isso é uma atitude infantil e irresponsável. Fazemos um chamado ao Brasil, se quiser reativar sua embaixada e consulados na Venezuela, nós receberemos com muito gosto.

O presidente Maduro conversaria com Bolsonaro?

Totalmente. A carta que enviei ao ministro brasileiro foi por instrução do presidente Maduro, para abrir canais de comunicação. Se o presidente Bolsonaro nos der uma oportunidade e tiver disposição de falar com Maduro, o presidente está a serviço para trabalhar em conjunto.

O silêncio sobre a carta do senhor já não é uma resposta?

É, e é um silêncio irresponsável. Porque o povo do Brasil não votou no Bolsonaro para que tivesse conflito com o seu vizinho nem para agredir a Venezuela. Votou em Bolsonaro para solucionar seus problemas.

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2 comentários

  1. A política do governo venezuelano mostra maturidade e respeito aos povos e seus governos . Lamentável a atitude bizantina e truculenta do presidente Bolsonaro

  2. Lamentável a postura truculenta do governo brasileiro . Parabéns ao ministro venezuelano , disposto a discutir com governos diferentes

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