O movimento que levou a taxa básica de juros ao maior patamar desde 2017 na tentativa de conter o avanço da inflação já motiva os primeiros sinais de desaceleração da economia brasileira e deve dificultar o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), escreveu Alexandre Garcia, do R7.
Desde março do ano passado, a taxa básica de juros saltou 11,75 pontos percentuais e permanece estacionada em 13,75% ao ano desde agosto. Na quarta-feira (7), ao manter o atual patamar da Selic, o BC (Banco Central) destacou que “não hesitará em retomar o ciclo de aumento de juros, caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”.
“A conjuntura, particularmente incerta no âmbito fiscal, requer serenidade na avaliação dos riscos. O comitê acompanhará com especial atenção os desenvolvimentos futuros da política fiscal e, em particular, seus efeitos nos preços de ativos e expectativas de inflação, com potenciais impactos sobre a dinâmica da inflação prospectiva”, disse.
Os primeiros efeitos da disparada dos juros na economia foram evidenciados pelo PIB do terceiro trimestre. Apesar do crescimento de 0,4% na comparação com os três meses anteriores, o resultado corresponde a uma perda de ritmo frente aos períodos anteriores.
Roberto Piscitelli, membro da Comissão de Política Econômica do Cofecon (Conselho Federal de Economia) explica que o movimento já limita a procura por serviços, segmento responsável por 70% de toda a produção nacional e aquele que segura o desempenho positivo da economia neste ano.
“A elevação da taxa de juros já está produzindo seus efeitos recessivos. O período prolongado de sua aplicação desestimula investimentos, restringe o consumo e sangra as finanças públicas”, afirma Piscitelli.
Ao projetar um crescimento de 1,6% para 2023, a CNI (Confederação Nacional da Indústria) cita o alto nível dos juros como um entrave para a evolução da economia e vê o comércio como o segmento mais afetado pela alta dos juros.
De acordo com a entidade, o volume de vendas dos produtos sensíveis ao crédito, com eletrodomésticos e automóveis, desabou desde março, enquanto a compra de itens sensíveis à renda apresenta estabilidade.
As avaliações levam em conta que, ao elevar a Selic, o BC faz uso do seu principal instrumento de política monetária para direcionar a inflação para o centro da meta. Isso acontece porque os juros mais caros reduzem a disposição para consumir e estimulam novas opções de investimento pelas famílias.
Futuro
As perspectivas mais recentes do mercado financeiro também indicam para a permanência dos juros básicos em níveis elevados por mais tempo. De acordo com a última edição do Boletim Focus, a taxa Selic deve cair apenas 2 pontos percentuais no ano que vem.
Guilherme Mendes, especialista em Renda Fixa da Blue3, afirma que as recentes revisões a respeito da evolução da taxa Selic para 2023 e 2024 evidenciam a incerteza sobre o ambiente econômico.
“Em 2023, o mundo deve sofrer consequências pela desaceleração da economia mundial. Por aqui, se o governo eleito não conseguir enfrentar os desafios adequadamente, espera-se um efeito inflacionário forte e a Selic alta por mais tempo”, afirma ele.