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sábado 12 de março de 2022 às 07:08h

Tática da União Soviética é pesadelo para tanques de Putin na Ucrânia

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As imagens se multiplicam pelas redes. Tanques, blindados e veículos militares das forças invasoras de Vladimir Putin desabilitados ou destruídos em estradas da Ucrânia são uma das mais poderosas armas de propaganda para o moral de Kiev na guerra.

Ironicamente, as perdas russas decorrem de uma tática de emprego de mísseis antitanque portáteis idealizada por Moscou na Guerra Fria, que a essa altura são tão conhecidas que demandariam ações preventivas mais efetivas.

Boa parte dos acertos é atribuída ao uso intensivo dessas armas, principalmente o lançador de mísseis americano Javelin e o modelo sueco-britânico NLAW. Embora não haja números precisos divulgados, eles integram o lote de 20 mil foguetes que a Otan (aliança militar ocidental) disse ter entregado até aqui para os ucranianos, incluindo aí modelos portáteis antiaéreos.

O Javelin (dardo, em inglês) é o modelo mais temido, por seu maior poder de fogo. Ele pode atingir alvos, em média, a até 2,5 km em trajetória direta ou, para terror dos blindados, numa curva a até 150 metros de altura seguido de uma descendente: blindados geralmente são mais frágeis no teto. Por isso há imagens de tanques T-72 russos com gaiolas de aço sobre suas torres.

Ele pode ser disparado por um só homem, embora usualmente haja um segundo ajudando a municiar o equipamento. Cada míssil custa US$ 175 mil (R$ 880 mil).

Sua doutrina de emprego remonta aos anos 1960, quando a União Soviética criou o primeiro modelo portátil para uso contra blindados e tanques, o 9M14 Maliutka (pequenino, em russo), conhecido no Ocidente como AT-3 Sagger.

Ele foi visto em ação no início dos anos 1970 na Guerra do Vietnã, mas sua estreia mais rumorosa foi na Guerra do Yom Kippur, quando Egito e Síria atacaram Israel de surpresa em 1973. As forças blindadas israelenses sofreram brutalmente com a mobilidade dos ataques -e, naquele tempo, a tecnologia ainda obrigava o atirador a guiar o míssil com cabos finos até seu alvo, enquanto hoje a mira infravermelha permite disparar e sair correndo.

Aprendida a lição, Israel só expôs suas forças blindadas em ambientes com esse tipo de adversário depois de fazer uma varredura com artilharia antes, matando os potenciais atacantes.

Isso foi incorporado pela doutrina de combate da Otan, que temia ser esmagada pela força blindada soviética no caso de uma invasão da Europa Ocidental. Os EUA só passaram a contar com um lançador de míssil antitanque realmente portátil em 1975, e o Javelin é sua encarnação mais recente, de 1996.

Agora, os generais de Putin parecem estar usando a mesma tática dos israelenses antes de aprender a lição, deslocando colunas blindadas na Ucrânia de forma que surpreendem analistas militares. A imagem de um comboio sendo atingido por fogo cruzado na quarta (9) numa larga avenida em Brovari, perto de Kiev, é exemplar disso.

O fato de que o megacomboio de 64 km de comprimento a nordeste de Kiev se dispersou, segundo relatos que emergiram nesta sexta (11), sugere que as táticas podem estar em adaptação no campo.

Há também outros elementos modernos que os russos parecem ter subestimado, como o uso de drones de ataque pelos ucranianos. O principal modelo usado por Kiev é o turco Bayraktar-TB2, que já era objeto de atenção na comunidade de especialistas militares russos devido a seu sucesso contra tanques e blindados armênios quando foi empregado pelo Azerbaijão na guerra que venceu em 2020.

Os russos também têm alguns drones, mas não em grande quantidade, e têm sido comedidos no uso de sua aviação tática até aqui. Seus caças e aviões de ataque começaram a ser mais vistos somente nesta semana, e há que especule de forma sombria que eles possam estar sendo poupados para a eventualidade de a guerra se ampliar para países da Otan.

Uma explicação alternativa para o comportamento russo é que, numericamente superiores, eles simplesmente acreditam que irão esmagar a resistência, apesar do fluxo constante de armas que entra pela fronteira da Polônia com a Ucrânia.

Nesse sentido, Putin estaria lutando de uma forma bastante convencional, o que também tem causado um certo espanto pelas baixas que têm apresentado –naturalmente, pela intensa propaganda ocidental em favor de Kiev, há muito menos relatos e imagens dos danos infligidos aos ucranianos, que são bastante consideráveis pelas informações disponíveis.

Desta forma, e até porque os números disponíveis de Javelin e NLAW (sigla inglesa para arma leve antitanque de nova geração) não são infinitos, é possível que a força bruta prevaleça.

Há considerações de filosofia de combate também. “Eu acho que Putin não pode imaginar uma guerra em que a ponta de lança seja outra que não o tanque. Aparentemente ninguém contou a ele que as coisas mudaram”, escreveu George Friedman, um dos principais analistas estratégicos dos Estados Unidos.

“Ele está lutando a guerra da forma como nossa geração sempre esperou, com centenas de tanques avançando para o combate. É como usar a cavalaria para ganhar a Primeira Guerra Mundial. Nostalgia pode ser perigosa”, completou.

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