O governador eleito de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos) reedita estratégia do ex-governador João Doria (ex-PSDB) ao buscar nomes conforme Artur Rodrigues, Carolina Linhares e Paula Soprana, da Folha, com status de ministeriáveis para chefiar secretarias de sua futura administração.
Tarcísio já anunciou Gilberto Kassab (Secretaria de Governo), presidente do PSD e ex-ministro de Dilma Rousseff (PT), e também mira titulares do primeiro escalão do governo de Jair Bolsonaro (PL), como o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o ministro-chefe da AGU (Advocacia-Geral da União), Bruno Bianco.
Guedes é sondado para a Secretaria da Fazenda ou para exercer algum cargo consultivo, como conselheiro do governador. Já Bianco é cotado para a Secretaria de Justiça.
De acordo com nomes próximos ao ministro da Economia, no entanto, é mais provável que ele atue como um conselheiro de Tarcísio do que aceite ser secretário.
Em entrevista à CNN nesta segunda-feira (5), Tarcísio afirmou que “seria um luxo” ter Guedes como secretário da Fazenda, mas que acha “muito difícil ele aceitar”.
“Daí o secretário será o Samuel Kinoshita, que era da equipe do Guedes, coordenou o plano econômico e conduz a área de economia da transição”, disse Tarcísio.
Outro nome de envergadura é o do coordenador-geral da transição, Guilherme Afif (PSD), que também pode ocupar uma secretaria. Afif foi vice-governador de São Paulo, secretário estadual em duas gestões tucanas, era assessor especial de Guedes no Ministério da Economia e chefiou uma secretaria com status de ministério no governo Dilma.
Embora um secretariado com peso de ministério sirva também ao fortalecimento político de Tarcísio para 2026, seus aliados afirmam que sua intenção é cercar-se de pessoas experientes, tarimbadas e que conheçam bem o estado para que a gestão seja eficiente.
Em 2018, Doria foi pioneiro em federalizar em escala seu secretariado com ex-ministros —aproveitando nomes da gestão Michel Temer (MDB), que se encerrava em Brasília.
Integraram o governo dele Rossieli Soares, da Educação, Sérgio Sá Leitão, da Cultura, e Alexandre Baldy, ex-ministro das Cidades, na pasta de Transportes Metropolitanos. Mesmo Kassab foi nomeado para a Casa Civil, mas se afastou ainda em 1º de janeiro de 2019, após ser alvo de uma operação da Polícia Federal.
O caso de Henrique Meirelles (União Brasil), que foi ministro da Fazenda de Temer e, depois, secretário da mesma pasta em São Paulo com Doria, é lembrado por aliados de Tarcísio ao argumentarem a favor de que Guedes assuma a secretaria.
Desde a montagem do seu secretariado, Doria mirava uma candidatura presidencial. Aliados de Tarcísio se dividem entre os que enxergam nele uma oportunidade para a direita voltar ao poder federal em 2026, enquanto parte defende que ele tente a reeleição no estado.
Embora Tarcísio e Doria tenham perfis distintos, ambos chegaram ao cargo de governador do estado mais rico do país tendo vivido a maior parte de suas trajetórias fora da política partidária até então. Os nomes de peso, portanto, ajudam a afiançar o governo ao mesmo tempo em que posicionam Tarcísio como alternativa para a Presidência da República.
Assim como Doria, Tarcísio estreia no cargo como potencial presidenciável. Mas no caso do ex-tucano, a aposta naufragou devido ao desgaste de sua imagem pública e ao isolamento político.
Nesse ponto, aliados de Tarcísio afirmam que há diferença em relação a Doria, já que, além de buscar um time de pesos-pesados, o futuro governador tem dado prioridade à articulação política, algo que faltou com o ex-governador.
Nesse sentido, ele alocou Kassab na Secretaria de Governo —o presidente do PSD já tem iniciado contato com prefeitos, vereadores, deputados e outros Poderes. Kassab ainda terá interlocução com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na esfera federal e mantém influência na gestão da capital paulista de Ricardo Nunes (MDB).
Para o cientista político Marco Antonio Teixeira, da FGV, Tarcísio tem colocado o bolsonarismo mais radical em banho-maria com algumas de suas escolhas.
No caso do convite de Guedes, por um lado, a indicação lembra quando Doria chamou Meirelles para chefiar a Fazenda em seu governo, em ato para dar peso à sua gestão. Por outro, acena aos bolsonaristas em momento que eles criticam protagonismo de outras forças políticas, como o PSD de Kassab, no governo.
Ao acenar a um nome com quem esse grupo tem uma dívida de gratidão por ter atuado como fiador junto ao mercado, “Tarcísio contempla o bolsonarismo e se blinda de críticas”, diz Teixeira.
Até o momento, o único bolsonarista considerado “raiz” incluído no primeiro escalão é o capitão Capitão Derrite (PL-SP) na pasta da Segurança.
No entanto, mesmo trazendo ele para equipe, Tarcísio acabou adiando a ideia de retirar as câmeras dos uniformes dos policiais, assim como fez com a bandeira de acabar com a obrigatoriedade de vacinação aos servidores, dois acenos importantes aos mais radicais dados durante a campanha.
Nesta segunda, Tarcísio afirmou à CNN que “nunca foi bolsonarista raiz”, em mais um revés para os bolsonaristas, que já vinham reclamando da falta de espaço na futura gestão.
Para o deputado estadual bolsonarista Frederico D’Ávila (PL), que participa da equipe de transição, fora a sondagem a Paulo Guedes, que ele considera um luxo e um exagero, “tudo está na normalidade”.
“Renato Feder [indicado para a Educação] foi escolhido pelo sucesso do ensino no Paraná. Kassab, que fiquei aborrecido quando foi para o governo Dilma, é um grande articulador político, que conversa com todas as correntes. O Bruno Bianco pode andar 50 vezes na avenida São João que ninguém identifica quem é, foi escolhido por ser técnico”, avalia.
D’Ávila também minimiza efeitos da fala de Tarcísio. “Ele nunca foi militante aguerrido, não tem esse perfil. Ele nunca foi raiz, mas mesmo assim o presidente o escolheu como candidato ao governo no maior estado da nação.”
Por outro lado, além dos medalhões, Tarcísio também tem buscando nomes técnicos, jovens e menos conhecidos na política para compor seu secretariado. Parte deles integram seu núcleo de confiança por terem atuado no Ministério da Infraestrutura sob sua gestão, como Arthur Lima, que ocupará a Casa Civil, e Natália Resende, que será secretária de Infraestrutura, Meio Ambiente e Transportes.