O governador eleito de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), sequer começou a transição de governo, mas já sinaliza de acordo com Bianca Gomes e Gustavo Schmitt, do O Globo, que vai blindar o Palácio dos Bandeirantes do bolsonarismo radical. O ex-ministro da Infraestrutura afirma que terá um secretariado de técnicos e disse a pessoas próximas que não cederá a pressões políticas para lotear seu governo, ainda que tenha em seu entorno caciques do Centrão.
Ao tratar do assunto reservadamente, aliados do governador lembram que ele não acolheu bolsonaristas no Ministério da Infraestrutura. Dizem, ainda, que Tarcísio quer reforçar sua imagem de tocador de obras e focar nas privatizações.
O flerte com a agenda de extrema-direita ficaria restrito ao projeto de incentivo a escolas cívico-militares, uma das bandeiras do governo de Jair Bolsonaro (PL) e uma forma de manter alguma ponte com a militância radical. No entanto, a agenda de costumes teria menos espaço com temas como “ideologia de gênero” e “escola sem partido”.
O entorno do governador eleito atua na construção de uma base e entende que a pauta conservadora poderia afugentar aliados. Pessoas próximas ao vice-governador eleito, Felício Ramuth (PSD), também têm dado declarações de que o governo estará blindado de ideologia. Disposto a compor a base do governo Tarcísio, o presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), Carlão Pignatari (PSDB), defende a pacificação da Casa e se opõe ao andamento desses projetos. Segundo ele, essas pautas devem enfrentar dificuldades no Legislativo.
— Esses parlamentares (bolsonaristas) não são maioria — afirma Pignatari.
Ainda assim, a ala bolsonarista do PL na Alesp já pressiona por mais espaço. Hoje, esse grupo ocupa 12 das 19 cadeiras do PL. O deputado estadual Gil Diniz (PL), próximo ao deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL), é cotado para disputar a presidência da Casa por esse grupo de parlamentares, ainda que com chances remotas.
Diniz defende que aliados de Bolsonaro que estão em Brasília possam assumir posições na gestão paulista. Ele cita o exemplo de Carlos Nadalin, que atua na Secretaria de Alfabetização do Ministério da Educação e que foi aluno do ideólogo Olavo de Carvalho, morto em janeiro, mas cuja obra defende uma guerra cultural contra a esquerda. Na visão do parlamentar, Nadalin tem currículo e experiência para atuar no estado.
— Se a pessoa tiver perfil técnico, mas com posições conservadoras, não tem razão para ficar de fora — diz ele.
Se de um lado terá de lidar com o ímpeto dos bolsonaristas de Brasília, de outro Tarcísio terá de se equilibrar entre caciques da política paulista. No governo e na Alesp, por onde terá de ter um bom trânsito para aprovar projetos do Executivo, se desenha uma disputa entre dois grandes nomes: o chefe do PL, Valdemar Costa Neto, e Gilberto Kassab, presidente do PSD. Mas não só. O Republicanos, ligado à Igreja Universal, busca mais espaço do que apenas a pasta de Esportes, a única que costumava comandar nos governos tucanos.
A sigla de Tarcísio cobiça a Secretaria de Transportes, hoje sob a zona de influência do vereador Milton Leite (União Brasil), tido como um dos políticos mais influentes do estado, mas que deve ser desalojado nesta gestão.
Até agora, Kassab é quem está em vantagem. O ex-ministro foi o responsável por fazer a ponte do então candidato do Republicanos com os chefes dos Executivos municipais e indicar Ramuth para a vice. O ex-prefeito de São José dos Campos (SP) é cotado para ocupar uma das principais pastas do governo: a Secretaria de Desenvolvimento Econômico.
O presidente do PSD é, ainda, apontado como o principal interlocutor de Tarcísio com o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Segundo pessoas próximas a Tarcísio, ele quer ter uma boa relação com o Planalto. No dia seguinte à eleição, o ex-ministro recebeu um telefonema do vice-governador eleito Geraldo Alckmin (PSB). Segundo interlocutores, eles falaram sobre a necessidade de ter uma relação republicana e manter os interesses do estado acima de questões políticas.
O deputado André do Prado (PL), principal nome de Valdemar na Casa, desponta como candidato favorito da sigla para o comando da Alesp. Tarcísio, porém, se distanciou de Valdemar durante a campanha e se filiou ao Republicanos para ter menos influência dele em sua gestão. Aliados acreditam que será difícil enfrentar Valdemar, que comanda o partido com a maior bancada da Alesp.