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A política brasileira está em um daqueles momentos em que o cenário se reconfigura silenciosamente, apesar dos holofotes ainda estarem voltados para velhos protagonistas, que apresentam sinais de fadiga.
Enquanto Lula e Bolsonaro, os dois polos que dominaram o cenário nacional nos últimos anos, enfrentam crises que minam sua capacidade de liderança, um novo nome começa a ganhar contornos nítidos no horizonte: o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Nas pesquisas eleitorais, Tarcísio tem conseguido estar à frente de outros governadores do espectro conservador, que buscam se viabilizar como presidenciáveis.
No momento em que a direita se tornou um transatlântico à deriva, sem rumo claro e à espera de alguém que a unifique, Tarcísio tem despontado como uma figura capaz não apenas de ocupar esse vácuo, mas também de atrair os moderados, que buscam uma alternativa à dicotomia que há tanto tempo divide o país.
Ele também se beneficia de um cenário no qual as nuances conservadoras estão plenamente em alta no Brasil, ao mesmo tempo em que a esquerda vem perdendo a influência entre seus eleitores clássicos. Um público que hoje possui necessidades que os progressistas parecem não entender, entre elas a busca por um posicionamento em um mundo onde o emprego formal está cada vez menos atrativo financeiramente, e no qual a ideia de prosperidade se alia ao desejo por trabalhos autônomos.
Também estão em baixa as políticas afirmativas focadas em minorias, que foram, por anos, base da esquerda. Algo que tem sido visto por uma grande parte da sociedade como um mecanismo que não se justifica, em um mundo cada vez mais concorrencial.
Tarcísio, avesso ao embate e com postura diplomática, não esconde sua face de direita, acena para sua base mais enfática, mas não deixa de sinalizar para o centro. Está, portanto, em um claro aquecimento para a corrida presidencial.
O governador de São Paulo não chegou ao Palácio dos Bandeirantes como um outsider completo, mas tampouco como um político tradicional. Sua trajetória, marcada por passagens técnicas nos governos Dilma e Bolsonaro, lhe conferiu um perfil de gestor pragmático, mais distante dos ruídos que caracterizaram a política brasileira recente.
Em São Paulo, ele tem se esforçado para manter essa imagem, sendo entendido pelos seus simpatizantes como alguém que prioriza investimentos em infraestrutura e modernização administrativa. As pesquisas mostram que essa postura tem rendido frutos – tanto em termos de popularidade, quanto de projeção nacional.
Mesmo sobre seu calcanhar de Aquiles, que é a segurança pública, Tarcísio consegue se equilibrar, tentando gerir uma polícia vista como extremamente violenta, algo que é hoje um grande problema no Brasil, mas com um impacto mais amplo em São Paulo, devido também à relevância do estado no cenário nacional. O governador recua e avança nesse quesito, de acordo com as pressões da opinião pública, como faria um político experiente. No entanto, carece ainda de respostas nessa área.
Ganhar uma eleição requer uma combinação de oportunidade e contexto. Neste momento, Lula enfrenta uma queda de popularidade perante a forte alta nos preços dos alimentos, e Bolsonaro – inelegível – está envolto em processos que podem levá-lo à prisão, diante de acusações de tentativa de Golpe de Estado.
Assim, o governador de São Paulo ganha asas e, acima de tudo, independência. Hoje ele demonstra capacidade de reunir partidos em torno do seu nome e angariar eleitores para defendê-lo na guerra narrativa das redes. Uma grande vantagem sobre seus concorrentes dentro da direita.
O futuro dirá se ele será capaz de transformar esse momento de oportunidade em uma trajetória exitosa. Por ora, os ventos sopram a seu favor – e, na política, saber aproveitá-los é metade do caminho andado.
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Por Sergio Denicoli – Autor do livro TV digital: sistemas, conceitos e tecnologias, Sergio Denicoli é pós-doutor pela Universidade do Minho e pela Universidade Federal Fluminense. Foi repórter da Rádio CBN Vitória, da TV Gazeta (Globo-ES), e colunista do jornal A Gazeta. Atualmente, é CEO da AP Exata e cientista de dados.
