Era noite da véspera de Natal de 1974 quando Roberto Carlos, cantor mais popular do Brasil, entrou nos lares do país via TV Globo com seu primeiro especial de fim de ano. Com participações de Erasmo Carlos e Antonio Marcos, aquela era uma atração que, segundo o jornal O Globo na época, repassaria a carreira do ídolo “desde o tempo controvertido da Jovem Guarda até a atualidade”.
A descrição serve bem para o especial que, quase 50 anos depois, a TV Globo exibe no próximo dia 20, e que foi gravado há duas semanas, em show no Allianz Parque, em São Paulo. Para ver o Rei, lá estava um público pagante de 35 mil pessoas, composto basicamente por filhos, mães e avós, a compartilhar memórias e afetos na celebração de uma instituição brasileira.
Sim, porque pode até faltar o álbum que chegava a cada dezembro (tradição que o cantor de 83 anos abandonou na virada do milênio), mas não o especial da Globo. Os únicos anos em que não teve Roberto no Natal da TV foram 1999 (devido à morte da mulher, Maria Rita) e 2020 (por causa da pandemia).
Com direção de Boninho, o especial de 2024, comemorativo dos 50 anos da atração, teve um caráter de revisão da própria história do programa, com a participação de convidados que por lá passaram um bom punhado de vezes, como Zeca Pagodinho e Chitãozinho & Xororó.
— Ao longo dos anos, o palco foi espaço para a tradição, para quem estava no auge e também para novos talentos, o que sempre criava expectativa. É uma escolha sempre complexa, aquele lugar é um privilégio e sabemos disso — analisa Boninho, para quem Roberto Carlos “é também um cara de TV”. — Ele sabe que, para além do palco, atrás daquela lente existem milhares de telespectadores. E faz o show para os dois públicos.
E não poderia deixar de ter Jovem Guarda, com a superbanda do rock brasileiro (João Barone, Paulo Ricardo e Frejat) que Roberto convocou para reler três de seus clássicos do período: “O calhambeque”, “Mexericos da Candinha” e “Lobo mau”. Se faltou Erasmo (presente em todos os especiais até sua morte, em 2022, e desde então homenageado), a memória do programa “Jovem Guarda” foi revivida pela participação de Wanderléa, de 80 anos — a Ternurinha que compensava a testosterona do Rei e do Tremendão.
Um galanteador
Camisa meio aberta, medalhão à vista no peito nu, Roberto Carlos ainda é, em 2024, um galanteador. O cantor de “Meus amores da televisão”, que sempre teve beldades da telinha em seus especiais, neste se cercou de Letícia Colin, Sophie Charlotte e Dira Paes para uma brincadeira com “Olha”. Um dos momentos de mais charme da noite foi quando Letícia, emocionada e nervosíssima, errou duas vezes a sua entrada — na terceira, a coisa engatou e a mágica se fez, com Sophie (a cantora mais equipada) e Dira.
— Foi uma das experiências mais emocionantes da minha vida ver um mito em pessoa, trocando com a gente, nos ouvindo, ajustando a canção — deslumbrou-se Letícia Colin. — Acho que é por isso que as canções dele fazem tanto sucesso, porque ele sempre está muito presente, se entregando naquele momento, na emoção de cada canção.
Filho de Erasmo Carlos e atual empresário de Roberto, Léo Esteves diz que esforços não foram economizados para fazer um inesquecível especial de 50 anos:
— É o maior especial do maior artista brasileiro na maior emissora do país. A gente pensou sempre nisso como uma coisa grande.
E avisa, em meio a especulações de que o especial possa ser o último na Globo, afinal um novo contrato com a emissora está sendo negociado) que Roberto não pensa em parar tão cedo.