Tanques israelenses avançaram para a periferia da Faixa de Gaza nesta segunda-feira (30), disseram testemunhas à AFP. A ação ocorre enquanto o país intensifica a guerra contra o Hamas, afirmando ter matado dezenas de terroristas em centenas de ataques.
— Bombardeamos mais de 600 alvos nas últimas 24 horas — disse um porta-voz militar, ressaltando que foram 450 no dia anterior, um dos ataques mais intensos desde o início da guerra. As forças terrestres israelenses são apoiadas por fogo pesado de caças, drones e artilharia. Já integrantes do Hamas também relataram “combates pesados” ao norte.
‘Estão atirando em qualquer veículo’
Os tanques de Israel entraram no distrito de Zaytun, na periferia sul da Cidade de Gaza, cortando uma estrada importante que liga o norte ao sul do território palestino devastado pela guerra. Segundo um morador que não quis ser identificado, os soldados “cortaram a estrada e estão atirando em qualquer veículo que tente passar por ela”.
Israel alertou em diversas ocasiões os 1,1 milhão de pessoas que vivem no norte de Gaza para se dirigirem ao sul. O objetivo, disseram, era que civis evitassem os seus ataques militares enquanto o país avança com a missão de “destruir” o Hamas.
Embora um grande número tenha partido nas últimas semanas, acredita-se que dezenas de milhares ainda estejam na zona. A intensificação dos ataques também gera preocupação com os hospitais de Gaza, dentro das zonas de evacuação ordenadas por Israel, onde médicos alertam que muitos pacientes não podem ser transferidos.
‘É impossível evacuar’
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), todos os dez hospitais ao norte de Gaza receberam ordens de evacuação, embora abriguem milhares de pacientes e cerca de 117 mil deslocados. Entre as pessoas que recebem atendimentos estão civis em terapia intensiva, bebês e idosos em sistema de suporte vital.
Chefe da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom disse que os apelos para evacuar o hospital Al-Quds eram “preocupantes”. “Reiteramos: é impossível evacuar hospitais cheios de pacientes sem pôr em perigo as suas vidas”, escreveu ele no X (antigo Twitter).
Número de mortos chega a 9 mil
Já se passaram mais de três semanas desde que homens armados do Hamas lançaram uma onda de ataques sangrentos contra casas, comunidades, fazendas e postos de segurança em Israel. Segundo as autoridades israelenses, a ação matou 1,4 mil pessoas, sendo a maioria civis, e deixou outras 239 reféns.
Como resposta, Israel prometeu libertar os reféns, localizar os responsáveis e “erradicar” o Hamas, o movimento islâmico que governa Gaza desde 2007. E, após dias de ataques aéreos ferozes, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, declarou uma nova “etapa” numa guerra “longa e difícil”.
O Ministério da Saúde em Gaza, governado pelo Hamas, afirma que mais de 8 mil pessoas, sendo mais da metade crianças, foram mortas na contraofensiva israelense. O Exército de Israel diz que as tropas mataram “dezenas” de terroristas em confrontos noturnos.
‘Punição coletiva’
O Secretário-geral das Nações Unidas António Guterres alertou que a situação em Gaza estava ficando “mais desesperadora a cada hora”, e alertou contra a “punição coletiva” dos palestinos. Já o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, sublinhou que, embora Israel tenha o direito de se defender, deve fazê-lo “de uma forma consistente com o direito humanitário internacional, que dá prioridade à proteção dos civis”.
O primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, e o presidente francês, Emmanuel Macron, anteriormente “enfatizaram a importância de obter apoio humanitário urgente” para Gaza. E o principal promotor do Tribunal Penal Internacional, Karim Khan, alertou Israel no domingo que impedir o acesso à ajuda humanitária poderia ser um “crime”.
Nesta segunda-feira, a ONU informou que 33 caminhões de ajuda humanitária entraram em Gaza no domingo, o maior número a ter acesso ao território palestino desde que a assistência foi autorizada, há mais de uma semana. Ao todo 117 caminhões entraram na Faixa de Gaza desde que as entregas de ajuda foram retomadas no enclave palestino.