Enquanto interlocutores do PSB já conversam com outras siglas sobre a candidatura da deputada Tabata Amaral à Prefeitura de São Paulo em 2024, a parlamentar é cautelosa ao falar sobre a potencial candidatura no ano que vem.
Nessa entrevista ao Estadão, Tabata – que seguiu na comitiva presidencial para a China – defende que seu partido trilhe um caminho próprio fora da órbita do PT no campo da centro-esquerda. “Falta uma esquerda com uma visão econômica de centro.”
Qual deve ser o papel do PSB na cena política: trilhar um caminho próprio ou marchar junto com o PT nas eleições do ano que vem e em 2026?
O PSB é um partido independente de centro-esquerda. Faz falta ao Brasil uma centro esquerda forte e pujante. Faz falta uma esquerda com uma visão econômica de centro e pautada em dado. Faz falta um centro progressista que seja contra ditaduras de esquerda. O PSB fez uma declaração fortíssima sobre o que acontece na Nicarágua. Falta espaço para uma visão que seja democrática até o último fio de cabelo. O PSB é um partido grande de gente como Eduardo Campos, Márcio França e Geraldo Alckmin. Tem história e tamanho para ocupar seu lugar. Não sei dizer se estaremos ou não ao lado do PT nas eleições.
O vice-presidente Geraldo Alckmin é hoje a maior liderança do PSB? É um nome para disputar a Presidência em 2026?
Nosso vice presidente é uma pessoa extremamente humilde, mas com certeza é um dos quadros que mais nos orgulha no PSB. Tenho muito respeito pela história do PT, mas esse lugar precisa ser ocupado. E a gente vai estar lá. Precisamos trilhar nosso caminho. Tenho certeza que vamos nessa direção de construir uma centro esquerda que faz falta ao Brasil.
Tabata Amaral, deputada federal
O PSB quer lançar o seu nome na disputa pela Prefeitura em 2024 e a ideia entusiasmou Alckmin.
Há uma ansiedade compartilhada entre políticos e jornalistas, mas eu preciso honrar os votos que recebi. Qualquer construção deve ser pensada no futuro. Sobre a fala do vice-presidente (ao Estadão), fico muito feliz que ele e o presidente do meu partido coloquem meu nome. É um reconhecimento do meu trabalho, até porque sou a única mulher que está sendo colocada pelos partidos como pré-candidata.
O cenário eleitoral na capital já está sendo desenhado. Partidos do Centrão estão por ora com Ricardo Nunes (MDB), os bolsonaristas com Ricardo Salles (PL), e o presidente Lula defende Guilherme Boulos (PSOL). Há espaço para uma candidatura de centro-esquerda?
O debate sobre a melhor estratégia do campo progressista vai acontecer no ano que vem. Há quem defenda a união do campo progressista, mas também quem defenda que a gente fure essa polarização com uma candidatura viável. Não quero adiantar esse debate, mas o PSB será muito ativo nessa discussão. O partido tem dois dos maiores quadros de São Paulo – Geraldo (Alckmin) e Márcio (França) – e teve candidato próprio na última eleição. A gente já começou a preparação da nossa chapa de vereadores. O PSB vai lançar no próximo mês uma escola de líderes. Temos quadros nas periferias e vamos fazer um trabalho de construção de base. Estamos fazendo a lição de casa.
A sra. tem feito muitas críticas a gestão Ricardo Nunes nas suas redes sociais…
Como moradora, eu considero a administração muito ruim. Vou falar da minha vivência. Minha mãe pega ônibus todos os dias e minha família mora no mesmo local. Essa é a minha angústia pessoal. Os ônibus estão mais cheios e demorando mais a passar. A cidade está visivelmente mal cuidada. Tem mais lixo. Tem o tema da população em situação de rua. A gente fez um questionamento na semana passada porque a Prefeitura entendeu que era uma boa ideia recolher as barracas. Por que as pessoas em situação de rua não querem ir para os abrigos? Será que não é porque a maioria dos abrigos força a separação da família? As pessoas não se sentem seguras em abrigos abandonados, com colchões infestados. A sensação de insegurança aumentou muito. Não é um discurso eleitoreiro. A cidade não está bem.
Como avalia a gestão Tarcísio de Freitas no governo paulista?
Ainda é muito cedo para um veredito, mas o Tarcísio acerta quando opta pelo caminho do diálogo e erra quando se prende ao bolsonarismo. Na tragédia de São Sebastião, a foto dele com o Lula me emocionou. Mas quando você olha para a pauta das mulheres e direitos humanos, vê um esforço estranho em fazer acenos ao bolsonarismo. Me pergunto onde isso vai levar. O Tarcísio foi eleito com o voto bolsonarista, mas governa para todos.
Muitos nomes de centro que apoiaram Lula no 2° turno estão frustrados com esses primeiros 100 dias e esperavam um governo mais amplo. Qual é a sua avaliação?
As críticas que fiz e faço têm menos a ver com a visão de mundo que é preconizada quando se está no poder e mais a ver com práticas. Teve a retomada do Bolsa Família, a educação… O nível de absurdo que vi no governo Bolsonaro me fez sentir um alívio tremendo. Agora tem uma coisa básica que é o diálogo. Nossa pauta de marco legal do ensino médio está andando. Voltamos a normalidade.
E os pontos negativos? O ex-ministro José Dirceu deu uma entrevista na qual defendeu mais 12 anos de PT no poder…
Meu receio sobre o futuro é saber se a política aprendeu com os erros do passado. As críticas que fiz ao PT e ao PSDB têm a ver com os escândalos de corrupção.
Lula está fazendo gestos para unir o País?
Precisamos de mais. Se a gente ficar batendo em quem pensa diferente, vai ser mais difícil trazer as pessoas para o nosso lado. Eu fico angustiada com esse debate com o presidente do Banco Central. Isso faz com que a nossa economia demore mais tempo para se recuperar. As pessoas querem ver as instituições se respeitando.
Um ponto de tensão nesses primeiros 100 dias foi a ação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) e a reação do governo. Como avalia que deve ser esse relação?
No caso da (fazenda da) Suzano (na Bahia) houve um descumprimento da lei. Qualquer governo eleito precisa se colocar ao lado da lei. Dito isso, demonizar o MST serve a quem? O MST não se resume ao caso de Suzano. O MST é um grupo de pressão importante para a reforma agrária e importante para o País.