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domingo 22 de novembro de 2020 às 07:38h

‘Sonhamos com ele no PP em 2022’, diz Ciro Nogueira sobre Bolsonaro ir para legenda

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Em entrevista ao jornal Folha S. Paulo, o presidente  nacional do Progressistas, partido que teve um dos melhores resultados nas eleições municipais de 2020, o senador Ciro Nogueira (PI), um dos líderes do chamado centrão, avalia que o pleito significou “a volta da boa política” e que o eleitor preferiu candidatos com experiência prévia em gestão.

A sigla elegeu 682 prefeitos contra 498 na passada. Para o parlamentar, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), cujo governo o PP apoia, errou ao declarar apoios no primeiro turno porque, no fim, acabou com a pecha de derrotado.

Apesar de a maior parte dos candidatos apoiados pelo mandatário terem tido resultado ruim, Nogueira não vê a eleição municipal como uma prévia de 2022, diz que apoiará Bolsonaro na próxima disputa presidencial e que seria um “sonho” tê-lo filiado ao partido.

O PP registrou um dos melhores resultados na eleição municipal. A que o sr. atribuiu o êxito do partido?

Primeiro, a um planejamento bem feito. Tivemos o foco em cidades médias e pequenas, que é um perfil do partido. Temos uma dificuldade hoje muito grande de recursos, por mais que digam ‘ah, são R$ 2 bilhões por eleição’. Com a quantidade de candidatos que temos, é muito pouco. Então você teve de investir maciçamente em bons candidatos. Nessa eleição ficou bem claro que as pessoas apostaram em políticas que possam melhorar a sua vida, não em candidatos que só são de espetacularizar as coisas, como na última eleição presidencial. Os ‘boca abertas’ da vida, aquelas coisas que não trazem nenhum tipo de benefício.

Pela sua fala, privilegiado o que se entende por político tradicional…

Não tem aquele documentário, Democracia em Vertigem [da diretora Petra Costa, que relata o processo de impeachment de Dilma Rousseff]… Eu acho que o país saiu dessa vertigem.

Por que o sr. acha isso?

Porque a eleição passada foi muito personalista. Essa agora é a volta da boa política. Não da politicagem, mas da boa política, da política das pessoas que apresentam resultado, têm histórico de trabalhos bem feitos.

É um recado para o bolsonarismo?

Olha, vou dizer que eleição municipal não tem nada a ver com eleição nacional. Porque, senão, o Bolsonaro não estaria eleito. O que o Bolsonaro elegeu em 2016? Não tinha ninguém com o perfil dele. Cada eleição é uma eleição. A de 16 não influenciou na de 2018. Como essa não vai ter influência na de 2022 decisivamente. A eleição de presidente, na prática, as pessoas votam nos candidatos não nos partidos.

Mas vimos agora pessoas que se vincularam diretamente à imagem do presidente terem desempenho ruim.

Eu acho que aí foi um erro de estratégia do presidente. Ele tinha no início a ideia de não entrar na eleição no primeiro turno. Acho que ele errou ao entrar na eleição do primeiro turno. Ele deveria ter mantido a decisão dele.

Já que ele entrou e pediu votos, significa uma derrota para ele?

De jeito nenhum. Porque o Celso [Russomanno] não perdeu [em São Paulo] por causa do presidente. O Celso tem um histórico de derrotas durante a campanha, sempre começa bem [e depois cai]… O [Marcello] Crivella não vai perder por causa do presidente, ele vai perder porque ele é um desastre administrativo.

O PP está fechado com o presidente em 2022?

Olha, eu tenho certeza da reeleição do presidente. O PP está fechado [com ele] em 2022. O PP tem um histórico de fidelidade aos projetos políticos dos quais faz parte. Como é que a gente vai explicar que vai participar do governo Bolsonaro e na véspera vai trocar de candidato? E o presidente para perder a eleição vai ter de mudar o maior dos paradigmas quanto a isso. Nunca um presidente perdeu a reeleição. Teria de ser uma tragédia muito grande. Mas as pessoas votaram nele sem conhecer a gestão Bolsonaro. Agora as pessoas vão conhecer. Então, é fundamental que ele traga estabilidade à gestão dele, que tenha resultados na gestão. E eu acho que esses partidos de centro dão essa estabilidade.

O que o sr. chama de estabilidade?

Aprovar as propostas que ele vem defendendo. Esses partidos de centro são os responsáveis por tudo o que foi aprovado no país nos últimos 30 anos, seja à direita ou à esquerda. Temos essa capacidade de dar o apoio para que o presidente possa realizar e botar em prática as propostas que ele faz durante a campanha.

O sr. acha que ele precisa se afastar do núcleo considerado mais radical do governo?

Não vejo necessidade de se afastar de ninguém. Agora o Bolsonaro do ano passado é muito diferente do deste ano. O Bolsonaro trouxe mais estabilidade, ninguém está mais na porta de Congresso Nacional para fechar Congresso, ninguém está mais na porta de STF para fechar Supremo. O país vê isso.

Quando o presidente fala em pólvora contra os EUA e que precisamos deixar de ser um país de maricas no combate ao coronavírus, ele não adota discurso extremo?

Eu acho que aí é uma forma de se colocar. Não vejo isso com resultado ruim depois. É um posicionamento.

Voltando às eleições municipais, o sr. acha que a falta de ser filiado a um partido foi uma das coisas que prejudicaram o presidente?

O presidente apoiou muito poucos candidatos e, nos casos mais visíveis, não foi culpa dele a derrota. Então, eu não vejo isso não. Acredito que essa questão partidária o presidente não vai resolver a curto prazo. Se eu tivesse no lugar dele, eu não resolveria. Acho que só no segundo semestre [de 2021].

O PP o convidou a fazer parte do partido?

Sempre. Sempre. É um desejo enorme. Se nós estamos no projeto político é um sonho ter o presidente no partido.

Ele deu indicativo de que pode voltar ao PP?

Ele diz que tem muita saudade do partido.

Isso não é um contrassenso? Ele deixou o partido lá atrás por divergências.

Ele tem que ir para algum partido. E o presidente tem um perfil de que se ele for para o partido do papa Francisco, vão criticar.

A aliança do presidente com o centrão foi muito criticada porque apoiadores e o próprio Bolsonaro chamavam de perfil fisiológicos dos partidos. Como justificar a aliança do presidente com vocês se ele antes os criticava por fisiologismo?

A mídia por vezes quer colocar, insistir nisso, mas não é verdade. Começamos a votar com o governo muito antes dessa questão de governo. Veja os índices, não é só o Progressistas. Todos os partidos da base. Já vínhamos votando com o governo e não aumentou a fidelidade por causa disso. O que houve foi o reconhecimento do presidente, que escolheu técnicos, e de uma forma muito diferente do passado. O presidente desde o início disse: “jamais vou entregar ministérios, porteira fechada”. E eu disse: “o sr. está correto, o seu eleitorado não vai admitir esse tipo de situação e eu quero fazer parte de um projeto que vai dar certo”. Então, ele escolheu os técnicos, diversos partidos indicaram nomes que não foram aceitos porque não tinha o perfil. É uma relação completamente diferente.

Recentemente, o apresentador Luciano Huck teve uma conversa com Sergio Moro (ex-juiz e ex-ministro da Justiça) para articular uma alternativa a Bolsonaro. O que acha desse movimento e como vê uma aliança Huck-Moro?

Difícil vir uma chapa dessa. Acho que o Moro quer ser candidato à Presidência, mas eu não vejo viabilidade eleitoral. Acho que ele vai acabar sendo candidato ao Senado. E o Luciano, não acredito na candidatura dele porque é um cara que ganha muito dinheiro, tem o vínculo dele com a Globo, a chance de sucesso é pequena.

O PP tem candidato à presidência da Câmara dos Deputados em fevereiro?

Um nome hoje que está se consolidando é o do deputado Arthur Lira (PP-AL). É uma decisão do partido. Se fosse hoje, era o escolhido pela grande maioria do partido o deputado Arthur Lira, que é o líder.

O presidente Bolsonaro endossa o nome do Arthur Lira?

Rodrigo Maia deu uma entrevista para a Folha em que disse que Lira é o candidato do Bolsonaro. Olha, eu acho que o presidente ficaria feliz, mas acho que ele não é o candidato do Bolsonaro.

Quando o Maia foi eleito na última eleição havia notícias de um acordo de que o DEM sairia naquele ano e o PP agora. Houve esse acordo?

Sim.

E o sr. acha que o Maia descumpre esse acordo?

O Maia é um dos melhores amigos que tenho. Mas o candidato do Rodrigo se chama Rodrigo Maia.

Mas ele não pode, porque a Constituição proíbe. Precisa que o Supremo autorize…

A permissão para o Rodrigo ser candidato não pode ser uma emenda só ‘se permite que o Maia seja candidato’. O nome dessa emenda seria Odorico Paraguaçu, porque é a volta do coronelismo. Não tem como fazer uma emenda só para ele. Vai se permitir os 5 mil e tantos prefeitos, os presidentes de Câmara, os governadores, o próprio presidente Bolsonaro serem candidatos indefinidamente. Acho difícil o Brasil virar uma Sucupira.

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