Na manhã da última quinta-feira (22), o engenheiro Pedro, 31 anos, chegou ao posto de imunização do Memorial da América Latina, na Zona Oeste de São Paulo, para verificar, na fila de espera da vacinação contra a Covid-19, “se tinha CoronaVac”, como ele mesmo diz.
Pedro, conforme o Yahoo Notícias que preferiu não se identificar e, por isso, teve o nome alterado, é um “sommelier de vacinas”. O nome é popularmente dado àqueles que perguntam qual é o fabricante da vacina e acabam escolhendo o favorito antes de se imunizar.
Antes de ir ao Memorial da América Latina, o engenheiro foi até o estádio do Palmeiras, um dos pontos de imunização mais próximos de sua casa no bairro nobre de Perdizes, também na Zona Oeste. Porém, no local, “só tinha AstraZeneca”.
“No [estádio do] Palmeiras era AstraZeneca. Fui de bicicleta até o memorial, vi que tinha CoronaVac, peguei o carro em casa e fui lá”, conta Pedro, após ser imunizado contra a Covid-19 com a vacina do Instituto Butantan.
Mas não era a CoronaVac a preferida da lista do engenheiro. Desde que soube que a vacinação contra o coronavírus na cidade de São Paulo contemplaria sua idade no último dia 22, Pedro queria ser imunizado com a Janssen, a vacina de dose única.
Embora ele só tenha “encontrado” a CoronaVac, Pedro conta que ficou feliz com a imunização com uma vacina que irá imunizá-lo mais rápido.
“Daqui a pouco mais de duas semanas já vou garantir minha imunização completa de forma mais ligeira. Ou seja, vou ser imunizado mais rápido, que com outra não seria assim”, conta ele, que irá tomar a segunda dose em agosto.
Autoridades de Saúde recomendam que a população receba o imunizante disponível, pois a prática pode atrapalhar o cronograma de vacinação.
Site não oficial mostra vacinas disponíveis
A capital paulista recebeu 114 mil doses da Janssen no fim de junho, quantidade muito menor do que a AstraZeneca e CoronaVac, por exemplo, principais imunizantes do Plano Nacional das Imunizações (PNI). Mesmo assim, Pedro ainda tinha esperanças de ser imunizado com a vacina de um só dose.
Na semana passada, pelo WhatsApp, o engenheiro recebeu o link de do site não oficial Onde Tem Vacina, que promete mostrar quais imunizantes estão sendo aplicados nos postos de vacinação por todo o Brasil.
A ferramenta funciona de maneira colaborativa e assim como o aplicativo voltado para trânsito Waze, por exemplo, os usuários podem dizer com qual imunizante foi vacinado e o sistema dos programas disponibiliza a informação no site. Os dados fornecidos não passam por qualquer filtro.
Na quarta-feira (21), de acordo com o site, seis pessoas informaram que foram imunizadas no posto do Memorial da América Latina. Segundo o site, quatro foram CoronaVac, duas AstraZeneca e uma Pfizer.
Sistema aceita informações falsas
Acontece que os dados da ferramenta, que foi criada inicialmente para gerar informações sobre a vacinação no país, são imprecisos e podem levar à desinformação. Isso porque qualquer pessoa com acesso ao sistema pode fornecer informações, inclusive falsas.
Para testar o programa, a reportagem do Yahoo informou dados fictícios, se passando por uma pessoa que tomou uma vacina Janssen no posto do Memorial da América Latina. Sem qualquer cadastro, ainda fez um comentário: “Tomei a Janssen!”.
O sistema contabilizou as informações e, em instantes, passou a registrar que o estabelecimento também aplicava a vacina Janssen naquele dia.
Na manhã da última quinta, no entanto, Pedro consultou o site antes de sair de casa. Segundo ele, havia informações conflitantes e por isso preferiu conferir com os próprios olhos.
“Do Memorial da América Latina estava certo no site [estava informando que a maioria era CoronaVac], mas no do [estádio do] Palmeiras estava com informações conflitantes”, conta.