O Solidariedade decidiu se juntar ao PSB e PDT na negociação por uma federação. Dirigentes dos três partidos pretendem se reunir na próxima terça-feira, na sede do PSB, em Brasília, para discutir parâmetros da montagem da aliança, que exige uma atuação conjunta das siglas pelo prazo mínimo de quatro anos. Em mais um passo, a Executiva nacional do PSB aprovou ontem o avanço das tratativas, com o objetivo de consolidar a união já para as eleições municipais de 2024. A resolução de possíveis impasses regionais também está no radar das cúpulas partidárias, mas deve ser debatida em um segundo momento.
O Solidariedade, cuja incorporação do Pros foi aprovada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) há cerca de um mês, resolveu participar das conversas com PSB e PDT. As legendas, como publicou Bernardo Mello, do jornal O Globo, haviam começado a avaliar uma federação após se decepcionarem com o encolhimento de suas bancadas na última eleição. Somados, os três partidos têm hoje 37 deputados, contando os três integrantes da bancada do Pros — que ainda podem, eventualmente, entrar com pedidos de desfiliação após serem incorporados por outra legenda.
— Tive duas reuniões, uma com o (Carlos) Lupi (presidente licenciado do PDT), outra com o Carlos Siqueira (presidente do PSB). Todos estamos concordando em fazer uma federação. É preciso discutir os detalhes de como funcionará em cada estado, e também qual será o fórum de decisão para solucionar eventuais problemas — afirmou o presidente do Solidariedade, Paulinho da Força.
A bancada da federação, se não tiver baixas, será a oitava maior da Câmara, em patamar semelhante ao de siglas como MDB, PSD e Republicanos, com 42 deputados cada. O bloco com PSB, PDT e Solidariedade ficaria ainda no meio do caminho entre outras duas bancadas de esquerda e centro-esquerda, a federação de PT, PCdoB e PV, que tem 81 parlamentares, e a de PSOL e Rede, com 14.
Apoio de Alckmin
Interlocutores das cúpulas partidárias avaliam que a presença do vice-presidente Geraldo Alckmin na reunião de ontem do PSB ajudou a dar contornos mais concretos à federação. Alckmin, que se filiou ao PSB para integrar a chapa presidencial de Lula (PT), deu voto favorável ao início das conversas com PDT e Solidariedade, em resolução aprovada com ampla maioria no diretório pessebista. Há resistências pontuais em estados onde o PSB é adversário das outras duas siglas, caso do Amapá, ou integra grupos políticos distintos, como na Bahia.
A ida de Alckmin ao encontro também é interpretada como uma sinalização de que Lula não tem problemas com as tratativas da federação. No ano passado, o PSB se retirou das conversas para integrar a federação petista por considerar que, nos moldes discutidos à época, havia risco de que o PT suplantasse outras siglas em decisões internas. A aproximação entre PSB e PDT, após cada um tomar caminhos distintos na última eleição presidencial, foi facilitada justamente pelo fato de ambos terem dimensões equivalentes no Congresso e nos estados.
No caso do Solidariedade, que também fez parte da coligação de Lula, a entrada na federação segue um planejamento com o objetivo de superar a cláusula de barreira nas eleições de 2026, quando os partidos precisarão ter um mínimo de 2,5% dos votos válidos nacionalmente para a Câmara ou eleger 13 deputados. Mesmo com a incorporação do Pros, o partido segue abaixo desses critérios.
A reunião da próxima terça-feira pode alinhavar, inicialmente, a formação de um bloco com os três partidos na Câmara, como uma espécie de “teste” antes de avançar na federação.
— Não temos urgência para gerar a federação, já que há tempo até as eleições de 2024. Vamos dialogar ponto por ponto para resolver questões como os ajustes regionais, que são importantes — disse o deputado André Figueiredo (CE), presidente em exercício do PDT.
A federação poderá reagrupar antigos aliados que passaram por rompimentos. Ex-correligionários no PDT, Lupi e Paulinho da Força divergiram sobre rumos do partido em 2013, o que levou o dirigente da Força Sindical a deixar a sigla e fundar seu próprio partido, o Solidariedade.
Em 2020, Siqueira e Lupi costuraram uma aliança entre PSB e PDT nas eleições municipais. Após vencer as prefeituras de quatro capitais — Aracaju, Fortaleza, Maceió e Recife —, a dupla começou a costurar uma chapa contra o então presidente Jair Bolsonaro, mas o PSB optou pelo apoio a Lula após o petista ter suas condenações anuladas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), enquanto o PDT insistiu na candidatura de Ciro Gomes.