As chuvas que atingiram as regiões sul e extremo sul da Bahia desde o fim de novembro afetaram diretamente perto de 70 mil pessoas, segundo a Superintendência de Proteção e Defesa Civil do Estado (Sudec) . Foram registradas ao menos cinco mortes e 175 feridos. Há ainda 6.472 desalojados e 3.744 desabrigados, conforme o balanço das autoridades. Moradores relatam a perda da casa, do sustento e o medo do futuro após o desastre.
Jucuruçu, um dos municípios mais atingidos no extremo sul, a 674 km de Salvador, está coberto pela lama e mais de 500 pessoas, dos seus 10 mil habitantes. perderam tudo. Ficaram apenas com a roupa do corpo, em consequência de uma inundação que ocorreu na madrugada da quarta-feira (8).
Moradores das regiões mais baixas da cidade viram suas casas se desmancharem, com o que tinha dentro, durante a forte chuva, e contam que tudo ocorreu muito rápido, como um tsunami. A maioria deles está abrigada em escolas e outros espaços públicos. Alguns foram para a casa de amigos ou parentes.
Neste domingo, 12, o prefeito, Arivaldo de Almeida Costa, aproveitou que a chuva deu uma trégua para iniciar a limpeza da cidade. Ele ainda não conseguiu contabilizar os prejuízos. Afirma que recebeu ajuda apenas de prefeitos vizinhos e de voluntários. Segundo ele, 26 pontes que ligavam a cidade a outras regiões foram abaixo. “Tivemos de improvisar umas pinguelas para conseguir receber as doações dos amigos”, diz Costa. No fim de semana, o governo federal anunciou a liberação de recursos d FGTS e a previsão de verbas para projetos de município em situação de emergência.
Enquanto aguardam por dias melhores, moradores revelam seus dramas. “Nos restou apenas a vontade de viver e Jesus no coração”, diz o pequeno comerciante de peças de motocicletas, Abimael Neres dos Anjos, de 33 anos. Casado, pai de duas crianças de 11 e 7 anos, ele perdeu a casa, e a pequena loja, com todo o material de trabalho. “Não faço ideia de como, nem por onde recomeçar. Não tenho dinheiro, nem mais nada”, conta.
O pedreiro Hélio Borges dos Santos, de 54 anos, conta que ainda estava acordado quando viu a água começar a entrar rapidamente em sua casa. “Todas as residências do loteamento onde moro foram abaixo, não conseguimos tirar nada. Só deu tempo de sair correndo, gritando pelos vizinhos. Foi como um sonho. Nos abrigamos em uma fazenda que fica em uma região mais alta e de lá assistimos à água levando tudo, nada restou a não ser a destruição”, diz.
“A gente vê acontecendo nos filmes, na TV, e não imagina que um dia seremos nós as vítimas”, lamenta o pedreiro, acrescentando que jamais viu algo parecido ocorrer naquela região. A água começou a subir por volta das 22 horas, e à meia-noite já estava tudo submerso.
“Estamos vivendo num cenário de guerra, de terra arrasada. Alguém precisa olhar por nós, que não temos nem água pra beber”, diz o funcionário público Mateus Viana, de 35 anos. “Nosso sentimento é de tristeza sem fim, perdemos tudo, só não a dignidade. Não temos um norte”, diz. A vizinha Sandra Martins, de 40 anos, conta que só não morreu, juntamente com o filho, porque uma secretária da prefeitura a acordou, batendo à porta, mandando que saíssem correndo e deixassem tudo para trás. “Foi o que fiz. Nos salvamos, mas não temos mais nada”.