As fissuras na relação entre Executivo e Congresso e a dificuldade de conter reações de setores próximos, como os servidores federais, aumentaram segundo Jeniffer Gularte, do O Globo, as críticas no governo a dois dos principais auxiliares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os ministros Alexandre Padilha (Relações Institucionais) e Márcio Macêdo (Secretaria-Geral). Com assentos privilegiados no Palácio do Planalto, ambos sofrem pressão de aliados ao mesmo tempo que travam uma disputa por protagonismo junto ao núcleo mais próximo a Lula.
Padilha, à frente da articulação política, e Macêdo, que tem como tarefa aproximar a gestão dos movimentos sociais, vêm sendo cobrados por mais agilidade na resolução dos problemas que dominaram a agenda do governo. A relação com o Congresso patina e coleciona votos contrários de partidos aliados, ao mesmo tempo em que ao menos 20 categorias do funcionalismo federal já fizeram neste ano algum tipo de paralisação ou greve por aumentos salariais.
Com uma relação afastada, os ministros tentam se fortalecer em seus cargos em um cenário em que aliados de lado a lado trocam farpas nos bastidores. Enquanto pessoas próximas a Macêdo apontam dificuldades de Padilha no Congresso, inclusive na aprovação de temas econômicos, o grupo do ministro das Relações Institucionais cita que a Secretaria-Geral poderia protagonizar debates para fortalecer o ponto de vista do governo, como no episódio do veto a restrições a “saidinha” de presos, derrubado pelo Congresso. Procurados, Macêdo e Padilha não se manifestaram.
Reforma no horizonte
O grupo ligado ao PT de São Paulo, próximo a Padilha, aponta Macêdo como um dos nomes que podem perder espaço na reforma ministerial, prevista para o segundo semestre. O ministro ficou exposto desde o evento esvaziado do 1º de maio, quando Lula fez uma reclamação pública contra Macêdo pela baixa adesão ao ato organizado pelas centrais sindicais. Outra bronca precedeu o episódio: em dezembro do ano passado, o presidente pediu “menos discurso e mais entrega” a Macêdo.
A artilharia contra o titular da Secretaria-Geral também aponta falta de protagonismo na negociação das greves. Aliados apontam que caberia não só ao Ministério de Gestão, responsável por liberar o orçamento, mas à pasta de Macêdo traçar um panorama e levar ao presidente a temperatura de cada mobilização. Alas do governo temem que o clima se acirre e incentive mais categorias a pararem. Na agenda oficial consta que Macêdo se reuniu em 14 de maio com representantes da Central das Entidades de Servidores Públicos (Cesp).
Aliados de Macêdo atribuem a investida contra ele a ciúme de colegas devido à proximidade com Lula. Macêdo foi o único dos 38 ministros que passou o Ano Novo com o chefe e também é próximo à primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja. Interlocutores ponderam que o ministro tem perfil reservado e que está no cargo “cumprindo missão” para Lula, como fez quando aceitou ser tesoureiro da campanha presidencial em 2022, tarefa que outros petistas rejeitavam.
Criticado ainda por não ter conseguido reunir movimentos sociais para atender os atingidos pela tragédia do Rio Grande do Sul, Macêdo foi ao estado na semana passada tentar uma reação. A Secretaria-Geral e o Ministério de Minas e Energia costuraram um acordo para o Sindigás oferecer três meses de gás gratuitamente para cozinhas solidárias do estado.
Por outro lado, Padilha sofre com o desgaste de comandar a articulação política do governo em meio a sucessivas derrotas no Congresso. Petistas veem a posição enfraquecida e, em parte, inviabilizada, já que ele e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), não se falam . A avaliação é que o diálogo interrompido sobrecarrega os ministros Rui Costa (Casa Civil) e Fernando Haddad (Fazenda).
Aliados do titular das Relações Institucionais afirmam que ele sabe da dificuldade que é tocar a articulação sem conversar com Lira, mas ponderam que Padilha tentou o quanto pôde evitar o rompimento. Apesar disso, integrantes da pasta alegam que as demandas do presidente da Câmara foram atendidas, sendo direcionadas por Costa, Haddad ou o líder do governo na Casa, José Guimarães (PT-CE).
Parlamentares petistas apontam ainda a falta de um comando único para articulação do governo e citam que diferentes orientações de líderes acabam desmobilizando a base a atuar de forma linear. De acordo com auxiliares, Lula reclama que há poucos auxiliares dispostos à defesa diária do governo. Sob reserva, integrantes da bancada do PT na Câmara afirmam que Lula precisa dar uma “chacoalhada” e defendem uma mexida geral em cargos estratégicos.
— São lideranças petistas de enorme importância no governo. Obviamente, ninguém é perfeito nas ações. A quem cabe avaliar a hora de fazer mudança é o presidente. Temos que ser vigilantes para não permitir acomodação, porque os desafios são enormes — minimiza José Guimarães.
Críticas ao ‘varejo’
Conselheiros de Lula consideram que a articulação está baseada no varejo do Congresso, focada no atendimento de pequenos grupos, enquanto o processo decisório está nas mãos dos presidentes das duas Casas e nos comandos dos blocos de partidos. Desta forma, avaliam, Padilha tem instrumentos limitados para operar, já que não tem a máquina do governo na mão, como Rui Costa.
Interlocutores de Padilha, no entanto, apontam que isso ocorre justamente pelo estilo de Lira, que tem uma relação muito próxima ao colégio de líderes. O grupo do ministro alega que se ele fizesse negociações por bloco haveria chance de despertar reações do presidente da Câmara e complicar ainda mais o ambiente. Outro argumento é que, sem descer ao varejo, Padilha teria ainda mais dificuldade de obter votos avulsos de partidos como o PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro, importantes para o governo em diversos projetos.
Telhados de vidro
Interlocução prejudicada
O rompimento entre o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) e Padilha é um dos principais problemas enfrentados pelo ministro para conduzir a articulação política. Petistas veem Padilha enfraquecido; e os ministros Rui Costa e Fernando Haddad, sobrecarregados para preencher essa lacuna. Conselheiros de Lula consideram que a articulação está focada no varejo, enquanto o processo decisório está nas mãos dos presidentes das duas Casas e nos comandos dos blocos de partidos.
Distante dos movimentos sociais
Macêdo levou uma bronca pública de Lula pelo ato esvaziado de 1º de Maio das centrais sindicais, em São Paulo. Mais recentemente, ele vem sendo criticado internamente no governo pela onda de greves e paralisações no funcionalismo público federal. O grupo de Padilha cita ainda que a Secretaria-Geral poderia protagonizar debates para fortalecer o ponto de vista do governo, como no episódio do veto de Lula a restrições a “saidinha” de presos, derrubado pelo Congresso.