Em uma das salas do quarto andar do Palácio do Planalto, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, participava de sua segunda reunião do dia com representantes de partidos, na quarta-feira (10), quando uma deputada de primeiro mandato pediu para falar, diz Sérgio Roxo e Jeniffer Gularte, em reportagem no O Globo. Diante de um grupo de cerca de 20 presentes, Delegada Katarina (PSD-SE) se exaltou ao dizer que um nome indicado por ela para o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) havia sido preterido. Ao narrar o episódio, a parlamentar, que foi chefe da Polícia Civil sergipana, disse ter se sentido desmoralizada e chegou a dar um soco na mesa, diz os colunistas.
O clima pesado da reunião com integrantes do PSD resume a pressão que o responsável pela articulação política do governo tem enfrentado nos últimos dias, diante da insatisfação de parlamentares pela demora no preenchimento de cargos e liberação de emendas. O descontentamento foi escancarado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que, em entrevista ao Globo publicada no dia 30, se referiu a Padilha como “um sujeito fino e educado, mas que tem tido dificuldades”.
Dois dias depois do recado de Lira, Padilha foi convidado para um jantar na casa do deputado Alencar Santana (PT-SP) com um grupo restrito de cerca de 15 parlamentares de seu partido. O anfitrião disse que o encontro, que já estava marcado, virou uma “manifestação de apoio” ao ministro. Entretanto, segundo os presentes, serviu para colegas de partido também cobrarem cargos e emendas.
Deputados ligados a Padilha dizem que, como o governo optou por não entregar ministérios de porteira fechada aos partidos, o quebra-cabeça para ocupação dos postos se tornou complexo. Em alguns casos, relatam, os titulares das pastas protelam nomear indicações de siglas rivais. Além disso, com cerca de 400 cargos nos estados para negociar, o pente-fino da Casa Civil acaba por atrasar nomeações.
Na avaliação de aliados, Lula deveria dar mais autoridade ao seu articulador político para que tanto o Congresso quanto os demais ministros entendessem que Padilha fala em nome do presidente.
— Para o governo ter mais sucesso e não repetir derrotas como da semana retrasada (no marco do saneamento), ou o Lula entra em campo ou empodera mais o Padilha — afirma o deputado Pedro Paulo (PSD-RJ).
Padilha não é neófito no cargo. Entre 2009 e 2010, ocupou a mesma função, no fim do segundo mandato de Lula. Pessoas que trabalharam com o petista à época afirmam que o cenário era outro. Sem orçamento secreto, ministro e parlamentares tinham uma relação mais estreita, e o titular do cargo, mais autonomia.
— É o primeiro ano de um governo sem a vigência do RP9 (mecanismo do orçamento secreto), então, tem que ter uma adaptação. É um processo — afirma o líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (Rede-AP).
Reconhecido como um interlocutor cordato e gentil até por adversários, o ministro se preocupa em mostrar que está sempre disponível para ouvir os políticos. Ele costuma divulgar em suas redes sociais a hora que deixa o Planalto, quase nunca antes das 22h, além de reservar as segundas, terças e quartas para jantares com líderes, aniversário de deputados e reuniões de partidos.
Contornar problemas
Apesar do esforço, a agenda sobrecarregada acaba por criar saias-justas com aliados. Foi o que aconteceu com o líder da bancada do Republicanos, Hugo Motta (PB), que recentemente tomou um chá de cadeira para ser atendido no ministério e acabou desistindo da audiência. Em entrevista ao GLOBO, o presidente do partido, Marcos Pereira, disse que Padilha não tem tempo para integrantes da sigla.
O tratamento, contudo, é diferente quando se trata de Lira ou do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). É comum o ministro interromper conversas a qualquer chamado dos dois. Apesar das críticas do presidente da Câmara, Padilha tenta não transparecer descontentamento e, quando questionado sobre o tema, afirma que para exercer sua função “é preciso deixar o fígado na geladeira”.
Logo após o revés do governo na derrubada de trechos do decreto do marco do saneamento pela Câmara, considerada a mais importante até agora, Lula pretendia passar a ter conversas com os líderes partidários, numa forma de arrefecer as cobranças. A ideia, porém, foi descartada pelo próprio presidente ao avaliar que o movimento enfraqueceria seu ministro.
Dentro do Planalto, porém, é citado um outro motivo para Lula ter adiado a sua entrada em campo: um levantamento interno apontou que o governo ainda não cumpriu acordos firmados com as legendas aliadas. Assim, a avaliação foi que o presidente não poderia se sentar à mesa numa situação dessas. Caberá a Padilha aparar antes as arrestas, como tentou fazer na tensa reunião de quarta-feira com representantes do PSD.