Um dia após a tomada de Damasco por rebeldes sírios e da queda do ditador Bashar al-Assad, as forças que derrubaram o governo que comandava a Síria há mais de 50 anos tentam restabelecer uma certa normalidade. Na manhã desta última segunda-feira (9), segundo a agência de notícias Associated Press, a capital estava tranquila e, em praças públicas, algumas pessoas ainda eram vistas comemorando.
Com um toque de recolher imposto pelos rebeldes, Damasco amanheceu com a maioria das lojas e instituições públicas fechadas. Longas filas se formaram em frente a padarias e mercados. Apesar da “calmaria”, bombardeios foram ouvidos na capital síria, segundo a rede americana CNN.
Um fotógrafo da CNN flagrou o momento em que jatos israelenses cruzaram a região das Colinas de Golã em direção à Síria. Segundo o ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Saar, os alvos dos ataques foram “sistemas estratégicos de armas”.
“O único interesse que temos é a segurança de Israel e seus cidadãos. É por isso que atacamos sistemas de armas estratégicas, como, por exemplo, armas químicas residuais ou mísseis de longo alcance e foguetes, para que eles não caiam nas mãos de extremistas”, disse Saar.
Israel realizou centenas de ataques aéreos na Síria nos últimos anos, visando o que diz serem locais militares relacionados ao Irã e ao Hezbollah.
Rússia deu asilo político a Assad
O Kremlin, sede do governo da Rússia, confirmou que concedeu asilo político a Bashar al-Assad. O porta-voz Dmitry Peskov afirmou que a decisão foi do presidente russo Vladimir Putin.
Peskov se recusou a comentar sobre o paradeiro específico de Assad e disse que Putin não estava planejando se encontrar com ele. No domingo (8), a agência estatal russa TASS informou que o ex-ditador sírio estava em Moscou, capital da Rússia.
Também no domingo, o Ministério das Relações Exteriores da Federação Russa (MFA) emitiu um comunicado informando que Assad havia deixado a Síria e buscava uma transição pacífica de poder.
Deposto após 24 anos no poder
Rebeldes sírios do grupo jihadista HTS anunciaram, na manhã de domingo (8), que tomaram a capital do país, Damasco, e derrubaram o governo de Bashar al-Assad. A tomada de poder marca o fim de um regime comandado pela família por meio século.
Assad estava há quase 24 anos no comando da Síria. Ele assumiu a presidência do país aos 34 anos, em 2000, após a morte do pai e então presidente Hafez al-Assad, que chegou ao comando com um golpe de estado, em 1971.
O filho, formado em medicina, era visto como uma figura de esperança que reformaria a nação após o comando de Hafez – conhecido como punho de ferro – por quase três décadas.
Durante a Primavera Árabe, série de protestos ocorrida em 2011, Bashar recorreu a táticas de violência contra a oposição. Uma guerra civil foi declarada oficialmente. Como resposta, o presidente liberou o Exército para controlar as cidades com presença da oposição.
Grupos de direitos internacionais apontam o uso generalizado da tortura e execuções sumárias, principalmente nos presídios da Síria. A estimativa é que a guerra matou quase meio milhão de pessoas e deslocou do país 23 milhões de civis, o equivalente a quase metade da população.