Aliada do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), desde o segundo turno da eleição de 2022, a senadora Simone Tebet (MDB-MS), integrante da equipe de transição do novo governo, fez críticas ao PT em entrevista à revista IstoÉ, publicada nesta sexta-feira (18).
Ela afirmou que o partido e sua equipe não discutem, no âmbito do novo governo, um corte de despesas e o andamento de reformas. “Sinto falta dessa discussão. Todo mundo fala de gastos, mas não menciona corte de despesas desnecessárias ou reformas estruturantes. Estamos falando da reforma administrativa e tributária. Essa última gera crescimento. Voltando a crescer, o Brasil arrecada mais e, consequentemente, tem mais orçamento para gastar. A demora das reformas, somada ao rombo fiscal, é o que cria um clima de desconfiança e faz com que juros fiquem mais altos. E aí vira uma bola de neve. Você cria uma instabilidade política que vai chegar lá na ponta para os pobres. Não vamos esquecer que a inflação, o grande temor de todos nós, é o custo mais cruel para a população mais humilde”.
Ela ainda comentou as reações do mercado às recentes declarações de Lula e à PEC da Transição, que propõe tirar do teto de gastos o investimento no Bolsa Família por período indeterminado. “Creio que a reação não está vinculada ao fato de Lula ter dito que o valor a mais do Bolsa Família ficará fora do teto. Isso já foi precificado pelo mercado lá atrás. Acho que foi mais pelo contexto da fala (Lula questionou ‘por que as pessoas são levadas a sofrer por conta de garantir a tal da estabilidade fiscal nesse país’). Lula estava em um discurso politico para os seus. Talvez o equívoco tenha sido a reunião aberta — ela poderia ter sido fechada”.
“Talvez a preocupação seja muito mais quanto à âncora fiscal que teremos para substituir o teto de gastos. Não é segredo para ninguém que o PT quer acabar com o teto, porque não concorda com esse instrumento. É por isso que tenho dito que, no tempo de Lula, o primeiro ministro indicado deve ser o da Fazenda, justamente para que ele traduza o discurso político ao mercado. Fora isso, temos que ter em mente também que quem vai aprovar a exclusão do Bolsa Família do teto, seja por um ou quatro anos, é o próprio Congresso. É o Parlamento que dosa essas ações. Há também uma preocupação com os valores, que o mercado parece consi-derar altos. Querem respostas. O que será garantido com a retirada dos R$ 197 bilhões do teto? É só o Bolsa Família? Entra o reajuste do salário mínimo acima da inflação, o reforço da Farmácia Popular e o acréscimo de recursos para a merenda escolar?”, completou.