Um projeto de lei que obriga as empresas a informar a faixa salarial na divulgação de vagas de trabalho está tramitando na Câmara dos Deputados. A prática, que pode melhorar a equidade salarial, já é lei no estado de Washington, nos Estados Unidos conforme Fernanda de Almeida, da Forbes, e é regra para a Microsoft em todos os seus anúncios de empregos nos EUA.
Enquanto esse movimento não é realidade para a maioria das empresas, existem maneiras de saber se o salário oferecido a você durante um processo seletivo – ou mesmo o seu salário atual – estão dentro da média do mercado. Selecionamos algumas ferramentas e caminhos possíveis para entender se é hora de negociar com o chefe ou de pedir um extra para o recrutador.
A ferramenta Salary Insights, da empresa de gestão de pagamentos internacionais Deel, permite que companhias e seus funcionários possam entender a remuneração oferecida em determinado mercado de trabalho ao redor do mundo. “Fazemos um levantamento dos salários por meio de envios anônimos de contratados e funcionários da mesma área”, diz Cristiano Soares, country manager da empresa no Brasil.
A Salary Insights está disponível em 150 países e foi elaborada com base nas mais de 100 mil contratações realizadas por meio da Deel nos últimos anos. A ferramenta pode ser acessada aqui, onde é possível escolher o tipo de contratação, selecionar a localização e o tipo e nível da vaga a ser preenchida.
A empresa também oferece a calculadora de custos, que permite que os gerentes possam calcular o custo total da contratação de um funcionário, já que fornece um valor aproximado dessa operação em partes diferentes do globo.
A consultoria de recursos humanos Michael Page também tem sua própria ferramenta de comparação salarial. Depois de preencher seus dados informando o cargo que ocupa e o tamanho da empresa, você descobre se sua remuneração está acima ou abaixo da média.
Esse valor é calculado com os dados das vagas abertas e divulgadas pela consultoria nos últimos 12 meses. Os números são atualizados a cada três meses, mas não incluem bônus ou benefícios – o que geralmente são uma parcela expressiva dos ganhos quando se trata de cargos C-level ou em consultorias, por exemplo.
Salariômetro, da Fipe
Com o Salariômetro, da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), o usuário pode verificar o salário de cada profissão em diferentes estados. O site também fornece informações sobre reajuste salarial e o piso médio por categoria.
A ferramenta calcula o salário médio dos admitidos nos últimos seis meses para as ocupações da CBO (Classificação Brasileira de Ocupações). O site também disponibiliza o perfil dos contratados, com base no Caged (Cadastro de Empregados e Desempregados), divulgado mensalmente pelo Ministério do Trabalho e Emprego.
Guias salariais
Guias salariais divulgados por consultorias de recrutamento, como a Robert Half ou a Hays, também podem ajudar. O guia da Robert Half de 2022, por exemplo, mostra as perspectivas salariais e tendências do mercado de trabalho para mais de 300 cargos em diferentes áreas.
Ferramentas de comparação salarial entre diferentes empresas e até entre diferentes países são fundamentais, segundo o CHRO da Gupy, Gianpiero Sperati. “Tanto para empresas saberem como remunerar seus profissionais de acordo com a média quanto para o profissional avaliar onde está.”
Glassdoor e afins
Além das ferramentas produzidas por empresas, há outras técnicas mais simples (mas talvez menos confiáveis) de comparar o seu salário. Existem sites com essa proposta, como o Glassdoor, talvez o mais famoso, em que as pessoas postam os seus salários e podem compará-los com os de outros profissionais. Claro que, como eles não têm uma amostra estatística e se baseiam nos posts de quem colabora com o site, a avaliação nem sempre será a mais realista.
Fale com pessoas da sua área
Ele também indica conversar com quatro ou cinco pessoas da mesma área em outras empresas. Ainda que isso não te dê informações estatísticas, pode fornecer uma boa noção de como se posicionar frente a uma oferta – especialmente se estiver mudando de área ou tomando outros rumos de carreira.
O que influencia o salário
São muitos os fatores que influenciam o salário de um profissional: a senioridade do cargo, a condição da pessoa que está buscando emprego (empregada ou não), o modelo de contratação, o tamanho da empresa, o mercado e o momento desse mercado. “Em períodos mais inflacionários ou recessivos, isso também afeta as médias salariais e como as empresas pagam os seus funcionários”, afirma o CHRO da Gupy. “E nem sempre o tamanho da companhia é um fator decisivo, muitas startups, por exemplo, fazem propostas com salários mais competitivos do que grandes companhias que já estão no mercado”, diz o country manager da Deel.
Empresas que estão crescendo, ou em setores em crescimento, pagam mais. Por outro lado, companhias menores precisam de profissionais com uma amplitude de atuação maior e podem pagar relativamente mais para ter um talento com conhecimento e capacidade de entrega que as atenda. A perspectiva de avanço na empresa e a reputação de uma companhia no mercado também contam.
Também é importante considerar a compensação total, que leva em conta o salário fixo, o salário variável (bônus, incentivo de longo prazo, ações, entre outros) e os benefícios. “Em cada um deles, principalmente nos benefícios, tem um valor intangível. O que o plano de saúde vale para mim pode não ser exatamente o que vale para outra pessoa, por exemplo”, diz Gianpiero.
Como negociar
Nem toda empresa tem uma política de transparência, mas entender onde está a remuneração em relação ao resto do mercado é uma pergunta que você deve se fazer durante qualquer negociação. “O melhor momento para negociar é durante o processo seletivo, depois que você percebe que existe um interesse de ambas as partes”, afirma Gianpiero. Depois de aceitar a proposta, a outra parte assume que o contratado está satisfeito com os ganhos. Além disso, o ambiente e até mesmo o chefe pode mudar e negociar pode ficar mais complicado.
Seja importante na empresa
Entregar resultados é um ponto-chave para conseguir negociar sua remuneração. “Se você é uma pessoa que produz acima da média, fica mais fácil ter essa conversa”, diz o CHRO da Gupy. E o melhor jeito de abordar isso é de uma maneira muito franca: diga o que você entrega, qual o valor disso no mercado e pergunte qual a visão dos empregadores para avançar no tema.
A facilidade da negociação também depende de outros diferenciais que esse profissional apresenta em relação à média do mercado, como falar outros idiomas, ser atualizado e ter um perfil adequado ao da empresa. Mas lembre-se de que a negociação do salário ainda depende do aquecimento do setor em que você está inserido.
Tendências de remuneração e contratação
Áreas como saúde, tecnologia, logística e agro estão aquecidas e podem render salários acima da média. O Estudo de Remuneração da PageGroup de 2022 também mostrou um aquecimento nas vagas de recursos humanos. “As empresas têm investido bastante em pessoas para ajudar a lidar com as mudanças pelas quais estão passando”, diz Lucas Toledo, diretor do PageGroup, com referência às jornadas digitais e de inovação. Além disso, no começo do ano aumentaram as contratações na área de vendas para se adaptar ao novo mercado e o setor de energia também deve gerar muitas vagas no segundo semestre de 2022 e em 2023 como um todo.