Ao menos sete parlamentares enviaram emendas ao hospital Ana Nery após a unidade hospitalar contratar lobista para intermediar a captação de emendas, conforme reportagem de Fabio Serapiao e Letícia Pille, do portal Metrópoles.
Documentos coletados pela Polícia Federal mostram que, em dezembro de 2022, o hospital contratou Cliver Fiegenbaum. Em notas fiscais, consta que o objetivo era “captação de recursos através de indicações de emendas parlamentares”.
A contratação está no centro da Operação Emendafest, que cumpriu mandados de busca e apreensão na quinta (13) para avançar na apuração sobre desvios envolvendo emendas parlamentares.
O caso não tem parlamentares investigados até o momento. Na decisão que autorizou as buscas, o ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), afirma que é necessário apurar “quem foram todos os autores das emendas, além do deputado citado”.
O parlamentar citado é Afonso Motta (PDT-RS), cujo assessor Lino Furtado foi um dos alvos de busca e apreensão da PF. A corporação está investigando R$ 1 milhão em repasses do deputado.
Furtado aparece em conversas com Cliver Fiegenbaum que indicam, segundo a PF, o pagamento de propina para a liberação de emendas ao hospital Ana Nery.
Afonso Motta, no entanto, não é o único deputado que enviou emendas para o hospital.
Levantamento feito pela coluna de Fabio Serapiao no Portal Transparência do governo federal mostra que outros cinco deputados e dois senadores também empenharam valores de emendas para o hospital gaúcho depois da contratação do lobista que cobrava 6% do valor da verba.
Os repasses foram empenhados entre 2023 e 2024, depois que o hospital fechou o contrato com a empresa de Cliever para a captação de emendas. Nenhum deles, no entanto, foi pago até o momento, segundo o Portal Transparência.
Dentre eles, o que mais empenhou dinheiro foi Hamilton Mourão (Republicanos-RS), ex-vice-presidente durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL) e atual senador pelo Rio Grande do Sul. Ele enviou R$ 400 mil ao hospital em 2024.
Veja os nomes e os valores empenhados
- senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) – R$ 400.000
- senador Paulo Paim (PT-RS) – R$ 100 mil
- deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS) – R$ 380.000
- deputada Maria do Rosário (PT-RS) – R$ 200.000
- deputado Afonso Motta (PDT-RS) – R$ 199.995
- deputado Bohn Gass (PT-RS) – R$ 137.627
- deputado Bibo Nunes (PL-RS) – R$ 128.441
Defesa
Questionado pela coluna de Fabio Serapiao , o deputado Bibo Nunes disse que enviou o dinheiro para o hospital depois de ter recebido uma visita, que não se lembra de quem foi. Segundo o deputado, ele não recebe intermediários.
Ele nega qualquer irregularidade nos repasses e afirma que publica suas emendas “em outdoor”.
O senador Hamilton Mourão diz que não está “envolvido em nada” e que só repassa recurso em contato direto com as prefeituras ou, no caso de hospitais, com a diretoria. “Enfatizo que não recebo intermediários”, afirmou.
Maria do Rosário afirma que o pedido da emenda veio da bancada do PT de Santa Cruz e da comunidade, e que não tem relação com nenhum funcionário do hospital Ana Nery.
Segundo ela, o objetivo da emenda era “atender à solicitação do hospital para compra de novos equipamentos e materiais, substituindo os obsoletos”.
Já o senador Paulo Paim diz que não recebe “lobistas”, além de sempre adotar o critério de repassar as emendas aos fundos das prefeituras, para que elas façam a destinação da verba. Ele afirma que não sabia do suposto esquema de desvio no hospital.
A coluna entrou em contato com os demais congressistas citados na reportagem, mas não obteve resposta.