Desde que assumiu o cargo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem sido categórico ao criticar o impeachment de Dilma Rousseff e chamar de “golpe” o processo que a afastou do cargo em 2016. A opinião do petista, no entanto, não é ponto pacífico nem mesmo dentro de seu governo, que tem sete ministros que à época se declararam favoráveis ao processo. Ao todo, o primeiro escalão do petista é formado por 37 pastas.
A última menção de Lula ao tema foi na quarta-feira (25), quando em viagem para o Uruguai o petista chamou o ex-presidente Michel Temer de “golpista”. A declaração provocou desconforto em partidos da base como MDB e União Brasil, deu munição para provocações da direita e reacendeu disputas antigas com rivais como o PSDB.
Confira abaixo de acordo com Fernanda Alves , do O Globo, os ministros que em 2016 apoiaram o afastamento de Dilma:
Geraldo Alckmin
O atual vice-presidente Geraldo Alckmin, ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, em um primeiro momento foi resistente a se posicionar favorável ao impeachment, mas com o aumento da pressão popular, optou por aderir ao movimento. Ele, que era governador de São Paulo, disse que concordava em “número, gênero e grau” com uma declaração do ex-presidente Fernando Henrique em uma entrevista ao jornal “O Estado de SP”.
— A entrevista do presidente Fernando Henrique, como sempre, extremamente lúcida, patriótica e de homem que tem espirito público. Concordo em número, gênero e grau. Entendo que o Brasil vai sair mais fortalecido de todo esse triste momento — disse o então governador.
Na mesma entrevista, FH chegou a definir a situação em que se encontrava a então presidente como uma “incapacidade de fazer o governo funcionar”.
“Com a incapacidade que se nota hoje de o governo funcionar, de ela resistir e fazer o governo funcionar, eu acho que agora o caminho é o impeachment”, disse o FH.
Nas eleições de 2022, no entanto, Alckmin recuou e disse que não foi “golpe”, mas que o afastamento de Dilma foi injusto.
Simone Tebet
A ministra do Planejamento, que em 2016 já era senadora e votou a favor do impeachment de Dilma em 2016, afirmou que o processo só aconteceu porque Dilma cometeu crime de responsabilidade fiscal. A declaração foi dada durante a campanha eleitoral de 2022, quando foi sabatinada sobre o tema no programa Roda Viva, da TV Cultura.
— Houve pedalada fiscal e contabilidade criativa. Ela perdeu a capacidade de governar. Era o impeachment ou caos social — declarou a então candidata à Presidência, em agosto de 2022.
Marina Silva
Em 2016, a ex-ministra recomendou que os deputados da Rede votassem a favor do impeachment de Dilma. Na campanha seguinte, em 2018, ela disse não se arrepender da decisão.
“O meu entendimento é que o impeachment não se fabrica, ele se explicita do ponto de vista político. Quanto mais ele se explicita, mais a necessidade de julgamento do TSE”, falou Silva à época.
José Múcio
O atual ministro da Defesa era ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) durante o processo e o relator do processo que julgou as contas da ex-presidente. Em 2016, sua análise apontou 23 irregularidades nas contas da petista do ano 2015 e recomendou a reprovação das mesas. Entre esses indícios estavam a repetição das “pedaladas” fiscais, que embasaram o pedido de impeachment da ex-presidente.
— O governo federal não logrou obter maior autoridade no gasto público, o que denota executar uma política anticíclica mais conservadora. A piora dos resultados fiscais põe em risco a economia. Essa degeneração das contas públicas deveria ter sido o foco da política econômica do governo. Muitos dos indícios de irregularidades repetem os dos anos anteriores — disse o ministro em plenário ao apresentar a análise.
Juscelino Silva
Juscelino Filho, ministro das Comunicações, que é deputado federal desde 2015, votou favoravelmente ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em 2016.
“Pela minha família, pelos meus amigos e colegas médicos, pelo povo do meu querido Estado, o Maranhão, que me deu a oportunidade de representá-lo hoje neste momento histórico, em especial pela minha querida Santa Inês e por Vitorino Freire, por um futuro melhor para o nosso Brasil, meu voto é sim”, falou o atual ministro durante seu voto.
Carlos Fávaro
Atual ministro da Agricultura, Fávaro ocupava o cargo de vice-governador do Mato Grosso em 2016, e endossou o coro pró-impeachment. Ele foi para Brasília acompanhar a votação que afastou a então presidente e defendeu a decisão.
“Não é golpe, é um ato de democracia previsto na nossa Constituição. Este processo é totalmente legítimo respaldado pela nossa Carta Magna. E a população está atenta a isso, sabe e conhece a verdade e as leis do nosso país. Dizer que isso é golpe é um discurso fácil e desesperado”, disse no dia o então vice-governador ao portal Olhar Direto.
André de Paula
Em 2016, o então deputado federal e atual ministro da Pesca votou a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff.
“Sr. Presidente, pelos pernambucanos e, de forma especial, pelos 100.785 cidadãos que me honraram com o seu voto para representá-los nesta Casa, fazendo aqui a merecida homenagem a três grandes parlamentares pernambucanos, Raul Jungmann, Cadoca e Fernando Monteiro, que, se estivem na condição de titular, votariam como eu vou votar, pela ética na política, pela decência, por Pernambuco e pelo Brasil, sim!”, discursou de Paula durante seu voto.