A sequência de apagões de grande escala no Brasil está puxando as vendas de geradores e sistemas de baterias em 2024 para os maiores patamares desde a crise hídrica de 2021. Essa corrida de empresas de diversos setores da economia por esses equipamentos é de acordo com Robson Rodrigues, do Valor, uma tentativa de se antecipar a um possível blecaute, evitar perdas com a paralisação da produção, além de reduzir a dependência da rede e os custos com tarifas variáveis.
Neste contexto, fabricantes, locadoras de grupos geradores e empresas que fazem a gestão de energia têm registrado ainda segundo o jornal, número recorde de vendas e consultas. O perfil de clientes vai desde indústrias da cadeia primária, passando pela construção civil, agroindústria, frigoríficos e até hospitais. A prefeitura de São Paulo, por exemplo, se tornou uma das grandes clientes, após os apagões ocorridos em 2023 e 2024, em que escolas e prédios públicos funcionaram com geradores.
A Micropower, joint venture entre Siemens, Comerc e Equinor, tem visto o número de consultas crescer na mesma proporção que os eventos climáticos que atingem a infraestrutura crítica. A empresa atua no modelo de negócios conhecido como energia como serviço (“energy as a service”, na tradução para o inglês), em que os clientes pagam por um serviço sem precisar realizar os investimentos, por exemplo, em infraestrutura ou equipamentos, como grupos geradores e baterias.
O CEO da empresa, Sergio Jacobsen, diz que a procura por sistemas de “backup” (fonte de energia de reserva) em 2024 dobrou em relação ao ano anterior. Segundo o executivo, a procura tem sido maior no setor industrial em função do medo da perda de produção pela perturbação. “Por conta do aumento de eventos climáticos extremos, essa procura tem aumentado. É uma tendência”, afirma Jacobsen.
O presidente da Tecnogera, empresa que atua na locação desses equipamentos, Arthur Lavieri, conta que apenas na semana do blecaute na área de concessão da Enel, a empresa registrou mais de 1000% na procura de equipamentos. A previsão é que a empresa cresça quase 80% este ano.
“Durante o apagão que aconteceu em São Paulo, tivemos um ‘boom’ na busca por geradores, principalmente de indústrias ligadas à cadeia de frigoríficos que tiveram problemas quando a falta de energia passou de 24 horas”, afirma. “O mercado ainda precisa entender que vale mais fazer o planejamento energético”, acrescenta.
Essa corrida por equipamentos não é de agora: sempre em momentos de forte elevação dos preços da energia, ameaça de racionamento e sequência de apagões, a busca por geradores se intensifica em um movimento semelhante aos assistidos no racionamento de 2001 e na crise hídrica 2021, em função dos baixos níveis dos reservatórios das hidrelétricas.
Agora, com a entrada da chamada “Operação Verão”, que é quando as concessionárias de energia reforçam a infraestrutura para garantir a continuidade do serviço durante o verão, em que o consumo de energia aumenta e há maior risco de interrupções devido a tempestades, o número de consultas segue crescendo além da média de anos anteriores.
Outro fator é que desde 2013, vem ocorrendo uma redução de 16% ao ano, em média, no custo de sistemas de baterias, segundo dados da BloombergNEF. André Foster, gerente sênior de P&D da Huawei Digital Power, braço de energia do conglomerado chinês Huawei, diz que só no primeiro trimestre deste ano, eles alcançaram, um total de 650 megawatts (MW) em vendas apenas no segmento residencial.
“Esse crescimento está associado a uma série de fatores. Eventos de grandes proporções em diversas partes do país geram preocupações sobre a confiabilidade das redes de energia, levando muitas empresas e consumidores a buscarem soluções alternativas para evitar interrupções na produção e no fornecimento de energia”, explica.