Em uma manhã de julho de 2018, a enfermeira Lucy Letby foi levada algemada de sua casa, no Reino Unido, depois de ser presa pela primeira vez.
A enfermeira neonatal, que tinha 28 anos na época, seria questionada sobre crimes verdadeiramente impensáveis que, após condenação, a tornariam a maior assassina em série de bebês do Reino Unido nos tempos modernos.
Sua prisão ocorreu após uma investigação meticulosa da Polícia de Cheshire que, no auge, envolveu quase 70 policiais e servidores.
O único foco da Operação Hummingbird era investigar o aumento alarmante e inexplicável de mortes e colapsos quase fatais de bebês prematuros na unidade neonatal do Hospital Condessa de Chester, na cidade de Chester, na Inglaterra, perto da fronteira com o País de Gales.
Em poucas horas, a notícia da prisão de Letby estava nas manchetes em diferentes parte do mundo.
Lucy Letby foi inicialmente libertada sob fiança, mas posteriormente foi presa mais duas vezes e, finalmente, acusada em novembro de 2020.
Desde outubro, a enfermeira, hoje com 33 anos, está sendo julgada, acusada de assassinar sete bebês e tentar assassinar outros dez entre junho de 2015 e junho de 2016.
Ela negou veementemente todas as 22 acusações contra ela, mas foi considerada culpada de sete acusações de assassinato. Letby também foi considerada culpada por tentativa de assassinato de outros seis bebês na unidade neonatal do hospital.
Ela foi absolvida de duas acusações de tentativa de homicídio, enquanto os jurados não conseguiram chegar a veredictos em seis outras acusações de tentativa de homicídio.
O júri composto por sete mulheres e quatro homens deliberou por mais de 110 horas depois de ouvir evidências durante nove meses, período no qual foram apresentadas alegações de que Letby deliberadamente injetou ar em bebês, alimentou outros à força com leite e envenenou alguns com insulina.
O que se sabe sobre a mulher que assassinou e tentou matar bebês que ela tinha responsabilidade de cuidar?
A vida de Lucy Letby
Letby nasceu em 4 de janeiro de 1990 e cresceu na cidade de Hereford (Inglaterra) com sua mãe e seu pai, John e Susan, que desde outubro assistiram ao julgamento de sua filha na galeria pública.
Ela frequentou uma escola local e uma faculdade na qual selecionou disciplinas que acreditava que a ajudariam a alcançar seus objetivos e aspirações.
“Sempre quis trabalhar com crianças”, disse ela ao júri, acrescentando que escolheu estudos “que melhor apoiariam essa carreira”.
Letby, que foi a primeira pessoa de sua família a ir para a universidade, estudou enfermagem por três anos na Universidade de Chester.
Durante seus estudos, ela fez vários estágios de trabalho. A maioria ocorreu no Hospital Condessa de Chester, na ala infantil ou na unidade neonatal.
Ela se qualificou como enfermeira em setembro de 2011 e começou a trabalhar em tempo integral no hospital a partir de janeiro de 2012, antes de se qualificar para trabalhar com bebês em terapia intensiva, em 2015.
Letby disse ao tribunal que sua carga de trabalho naquela época era “predominantemente” usada cuidando dos bebês mais doentes da unidade.
Ela também revelou como orientou cinco ou seis estudantes de enfermagem e estimou que cuidou de centenas de bebês recém-nascidos durante 2015 e 2016.
Em setembro de 2016, Letby foi oficialmente informada em uma carta do Royal College of Nursing que estava sob investigação sobre a morte de bebês.
No início daquele ano, ela havia sido afastada das funções clínicas e recebeu uma função administrativa na área responsável por risco e segurança do paciente no hospital.
Na época, ela acreditava que isso era para verificar se os funcionários eram competentes para fazer seu trabalho e esperava voltar ao trabalho que amava.
Mas, seis anos depois, Letby – que não tinha condenações anteriores, repreensões ou advertências registradas contra ela – se viu sentada no banco dos réus atrás de uma tela de vidro enquanto a promotoria a classificou como uma oportunista “calculadora e desonesta” que “iludiu” colegas para encobrir assassinatos.
A equipe de defesa de Letby argumentou que as mortes e colapsos foram devidos a “falhas em série no atendimento” na unidade e ela foi vítima de um “sistema que queria atribuir culpa a terceiros quando falhou”.
Durante o julgamento, os jurados tiveram um vislumbre da vida de Letby fora do trabalho, com seu WhatsApp privado e mensagens de mídia social lidas para o tribunal.
“Eu tinha uma vida social bastante ativa”, disse ela ao júri. “Eu costumava frequentar regularmente aulas de salsa, sair com amigos, viajar e férias com amigos.”
Ela começou a chorar quando fotos de sua casa, onde foi presa pela primeira vez, foram mostradas ao júri.
Letby morou em uma acomodação para funcionários antes de se mudar para um apartamento em Chester por cerca de seis meses.
Ela voltou para a acomodação em junho de 2015, antes de se mudar para a casa que comprou em Chester, em abril de 2016.
A foto de um quadro de avisos na cozinha estava coberta de fotos e letras e apresentava um pôster, desenhado por seu afilhado, que dizia: “(Título de) Madrinha nº 1 concedida a Lucy Letby”.
Em sua cama, ela tinha pelúcias do Ursinho Pooh e Bisonho, enquanto uma gaveta na sala continha vários documentos e anotações médicas para seus dois gatos, chamados Tigger e Smudge.
Letby está sob custódia desde novembro de 2020 e passou por quatro prisões diferentes.
Seu julgamento atraiu leitores de todo o mundo, muitos incapazes de entender como uma enfermeira neonatal poderia realizar atos tão hediondos.