Especialistas sequenciaram pela primeira vez o genoma de um fóssil do Pleistoceno Superior no sul da China. O estudo publicado na última quinta-feira (14) na revista Current Biology sugere um hominídeo misterioso que pertencia a um ramo extinto de humanos modernos que teria originado os primeiros americanos.
Segundo a revista Galileu, há mais de três décadas, um grupo de arqueólogos da China descobriu o fóssil entre vários outros ossos na Caverna do Veado Vermelho, também conhecida como Maludong, na província chinesa de Yunnan. As ossadas tinham cerca de 14 mil anos e são da época em que os humanos modernos migraram para muitas partes do mundo.
Entre os achados, estava uma calota craniana com características de homens modernos e arcaicos. O formato do crânio era similar ao dos neandertais, porém seu cérebro parecia ser menor do que o dos indivíduos modernos. Alguns antropólogos suporam que o fóssil pertencia a uma espécie arcaica desconhecida que viveu até recentemente ou ainda a uma população híbrida.
Mas o sequenciamento genômico do crânio, realizado em 2018, revelou que o hominídeo na verdade era de uma linhagem extinta de humanos modernos cujos descendentes vivem hoje em três regiões: no leste da Ásia, na península da Indochina e nas ilhas do sudeste asiático.
Os pesquisadores também compararam o genoma dos fósseis da caverna com o de pessoas ao redor do mundo. Eles descobriram que os ossos pertenciam a um indivíduo profundamente ligado à ascendência leste-asiática dos nativos americanos.
Ao combinarem os resultados com os de pesquisas anteriores, os cientistas proporam que alguns dos povos do sul da Ásia Oriental viajaram ao longo da costa do atual leste chinês e chegaram à Sibéria dezenas de milhares de anos atrás.
Em seguida, eles cruzaram o Estreito de Bering entre a Ásia e a América do Norte, tornando-se as primeiras pessoas a chegar ao Novo Mundo. Segundo Bing Su, um dos autores do estudo, o DNA revelou que — apesar de suas características morfológicas incomuns — “o povo da Caverna do Veado Vermelho era de humanos modernos em vez de uma espécie arcaica, como neandertais ou denisovanos”.
Liderada por cientistas da Academia Chinesa de Ciências, a pesquisa mostrou também que, no Pleistoceno Superior, os hominídeos moradores do sul da Ásia Oriental tinham uma rica diversidade genética, maior ainda do que a do norte da região.
Para Su, isso é sinal de que os primeiros humanos que chegaram ao leste asiático inicialmente se estabeleceram no sul antes de alguns irem ao norte. “É uma evidência importante para entender a migração humana precoce”,afirma o pesquisador, em comunicado.
A equipe de cientistas planeja sequenciar ainda mais DNA a partir de fósseis do sul da Ásia Oriental — especialmente dos antecessores do povo da caverna. De acordo com Su, os dados ajudarão a pintar um quadro mais completo de migrações humanas, explicando como os humanos mudam sua aparência adaptando-se aos ambientes, a exemplo das variações na cor da pele em resposta à luz solar.